SAÚDE

"Ninguém tem mais dúvida se tem reinfecção, mas não se sabe a dimensão", diz infectologista sobre covid-19

Em Pernambuco, eram estudadas, até o dia 25 de novembro, dez suspeitas de reinfecção pelo novo coronavírus. Infectologista Vera Magalhães não descarta possibilidade, mas afirma que detalhes sobre a reincidência do vírus ainda são pesquisados

JC
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Publicado em 02/12/2020 às 9:43 | Atualizado em 03/12/2020 às 10:03
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
A média semanal de vítimas, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, ficou em 1.641. - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

A poucos dias de completar um ano da divulgação do primeiro caso de covid-19 no mundo, a dúvida que fica, agora, não é mais sobre sintomas, testes ou isolamento, mas se é possível que haja uma reinfecção para quem já foi positivado. A doutora em infectologia, pesquisadora e professora de doenças tropicais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Vera Magalhães respondeu, em entrevista à Rádio Jornal, nesta quarta-feira (2), que "não tem mais dúvidas" que pode acontecer uma segunda infecção, mas que maiores detalhes sobre a reincidência do vírus ainda são estudados.

"Para a gente ter certeza de uma reinfecção teria que ter positividade, negatividade e, novamente, depois de algumas semanas ou meses, nova positividade. para a gente ter certeza que não seria uma reativação viral, teríamos que ter o sequenciamento genético do vírus para observar que tratou-se de uma nova variante. Ninguém tem mais dúvida se tem infecção, mas não se sabe a dimensão disso".

A especialista também afirma que a imunidade contra a covid-19 ainda não é completamente conhecida, apesar dos avanços científicos. "Existem avanços, porque muitos estudos foram realizados, mas sabemos que a presença de anticorpos não necessariamente resulta em uma imunidade, porque ela pode ser medida por anticorpos, celular ou inespecífica. Hoje, acredita-se que exista uma junção dessas formas de imunidade, que podem conferir, ou não, uma certa imunidade conta a covid. O que se vê é que existem casos de infecção, mas parecem não ser numerosos, e, muitas vezes, a reinfecção pode vir até mais grave do que a infecção inicial", expõe.

Em Pernambuco, eram estudadas, até o dia 25 de novembro, dez suspeitas de reinfecção pelo novo coronavírus. No início do mês, cinco casos haviam sido anunciados e tiveram seus resultados enviados ao Ministério da Saúde. Para a SES, esses primeiros registros são "possíveis casos de reinfecção", pois atendem todos os critérios descritos para análise pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Os pacientes são do Recife (4) e de Olinda (1). Os outros cinco estavam em análise para verificar se atendiam a todos os critérios para encaminhamento ao IEC. Dois são moradores de Olinda, e há outros do Sertão: Araripina (1), Carnaíba (1) e São José do Egito (1).

Outros Estados, como São Paulo, Acre, Ceará e Sergipe, têm registrado possíveis casos de segunda infecção pelo novo coronavírus, após terem se recuperado do primeiro episódio da doença. Pelo mundo, os Estados Unidos, Hong Kong, Bélgica, Holanda e Equador já confirmaram casos de reinfecção. Além disso, no último sábado (21), um novo quadro de segundo episódio de covid-19 foi relatado em Seul (Coreia do Sul). Uma mulher de 21 anos teve a doença em dois momentos distintos, num intervalo de 26 dias. O estudo de caso foi publicado na revista científica Clinical Infectious Disease.

No Brasil, para Vera, a reinfecção é mais difícil de ser detectada, pelo baixo número de testes. "A gente tem essa dificuldade maior porque a gente não testa, mas é possível, mesmo que a gente não possa comprovar". Ela também critica uma falta de plano de ação do governo federal e pela provável perda de cerca de 6,86 milhões de testes para o diagnóstico do novo coronavírus comprados pelo Ministério da Saúde, que perdem a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021 e não foram distribuídos. 

"Houve uma perda de testes que foram vencidos e não foram distribuídos pelo governo federal. Faltou um plano de ação, não só em relação aos testes, mas também para verbas emergenciais que não foram repassadas no uso contra a pandemia que é a mais grave do século", afirma.

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