Pacientes de Manaus com covid-19 chegam a hospital do Recife neste sábado
Quinze pacientes virão da capital amazonense para tratamento no Hospital das Clínicas
Atualizado às 18h23
As 10 pessoas infectadas pela covid-19 que serão transferidas de Manaus, no Amazonas, para tratamento no Recife, chegarão ao Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Zona Oeste da cidade, neste sábado (23). Com o colapso na rede de saúde, que sofre com a falta de oxigênio, a capital amazonense está tendo que mandar alguns pacientes para internamento em outras cidades do País.
A previsão é de que o avião pouse na Base Aérea do Recife, Zona Sul da cidade, às 22h20. Os pacientes ficarão internados na Enfermaria de Doenças Infecciosas e Parasitárias.
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"Estamos preparados para recepcionar os pacientes. Uma equipe do HC da UFPE estará já no aeroporto para realizar triagem do estado clínico para avaliação e encaminhamento dos pacientes para enfermaria ou UTI. Teremos a oportunidade enquanto hospital-escola de contribuirmos com a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e apoio dos gestores do SUS (Sistema Único de Saúde) local nesta ação de caráter humanitário para acolhermos esses pacientes com o melhor que podemos oferecer: um tratamento integral e humanizado" afirmou o superintendente do HC-UFPE/Ebserh, Luiz Alberto Mattos.
O Hospital das Clínicas da UFPE possui vasta experiência no tratamento de pacientes com covid-19. De abril a dezembro de 2020, foram atendidos 403 pacientes com o novo coronavírus. Foram realizadas dezenas de treinamentos e atualizações com as equipes, foi disponibilizado acesso gratuito a ferramentas que ajudam nas tomadas de decisões clínicas, além do desenvolvimento de atividades no campo do ensino, da pesquisa e da extensão. Atualmente, 58 estudos ligados à covid-19 estão sendo feitos no hospital universitário, entre as mais de 100 pesquisas desenvolvidas pela UFPE sobre o assunto.
O HC também tem investido no teleatendimento para Covid-19: foram 2.282 teleconsultas e 3.559 teleorientações feitas por meio do Núcleo de Telessaúde da UFPE (Nutes) - unidade de saúde digital do HC. O HC-UFPE é um hospital universitário de grande porte e alta complexidade, que conta com quase três mil profissionais, distribuídos nas áreas médica, assistencial e administrativa, além de 330 residentes.
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Outros pacientes chegaram em Teresina (PI) por volta de 12h da última sexta-feira (15). Em São Luís (MA), a chegada dos primeiros pacientes foi à noite, mas outros chegaram posteriormente à mesma unidade. No Distrito Federal, os pacientes foram recebidos na madrugada de domingo (17). Na segunda-feira (18), mais pacientes foram acolhidos no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol-UFRN/Ebserh), em Natal (RN), no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB/Ebserh), em João Pessoa (PB) e no Hospital das Clínicas de Goiânia (HC-UFG/Ebserh).
Além das cinco unidades, toda a infraestrutura necessária foi organizada com leitos exclusivos para executar a ação no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiânia (HC-UFG/Ebserh), no Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (HUWC-UFC/Ebserh), em Fortaleza (CE), no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/Ebserh), no Recife (PE), e no Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes da Universidade Federal de Alagoas (Hupaa-Ufal/Ebserh), em Maceió (AL).
'Manaus está perdida', diz pesquisador que pede envio de missão internacional
Diante do colapso do sistema de saúde por causa da segunda onda de coronavírus em Manaus, o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, defendeu, em alerta divulgado nesta quinta-feira (21) o envio urgente de uma missão de observadores internacionais, por não ser "mais possível confiar nos diferentes níveis de gestão que estão à frente da epidemia". No comunicado, com o título "Manaus está perdida e a covid-19 explodiu", o pesquisador também pede a decretação imediata de lockdown para evitar mais mortes na cidade.
Ainda em dezembro, Orellana havia previsto que, sem medidas mais restritivas, Manaus viveria um novo boom da covid que resultaria no salto do número de óbitos. Agora, após ter os alertas negados e ver a tragédia se confirmar, com registro até de pacientes mortos por falta de oxigênio hospitalar, o epidemiologista diz que a condução da crise sanitária está "entrando para a história recente das pandemias como uma das mais dramáticas experiências sanitárias e humanitárias já documentadas".
"Minha previsão, de que o mês de janeiro seria o 'mês das lamentações e do luto', está mais do que confirmada e, por mais desumano e monstruoso que pareça, em Manaus, capital mundial da covid-19, não há qualquer sinal de 'lockdown'", escreveu. "Isto parece ser parte de um projeto que muitos insistem em não enxergar e, neste caso, Manaus é o laboratório a céu aberto, onde todo tipo de negligência e barbaridade é possível, sem punição e qualquer ameaça à hegemonia dos responsáveis."
Orellana também destaca que as 945 mortes confirmadas, só nos 20 primeiros dias de janeiro, já se aproximam de todos os óbitos somados entre agosto a dezembro, quando 1.308 pessoas morreram por covid. Os dados foram compilados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), o órgão oficial.
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Ainda de acordo com informações compiladas pelo cientistas, Manaus tem registrado médio diária de 27 mortes em casa, entre os dias 13 e 19. "Dezenas de pessoas que foram a óbito em casa sufocadas sem assistência médica, que ficaram à deriva ao sabor do maior mercado paralelo de oxigênio medicinal para uso domiciliar", relatou. "Boa parte pode ter acabado sufocada e ocasionado danos psicológicos irreversíveis em familiares e entes queridos."
Para enfrentar a situação, Orella afirma não ser "mais aceitável que se acredite na descabida tese da imunidade de rebanho" ou "em tratamentos inexistentes". Também explica que, embora a campanha de vacinação tenha começado, "seus efeitos só poderão ser sentidos daqui a alguns meses, o que significa que, no curto prazo, precisamos de medidas em caráter tempestivo e emergencial".
Para isso, diz o cientista, é preciso "um severo 'lockdown' em Manaus, com ao menos 21 dias de duração, ou veremos esta tragédia se aprofundar ainda mais". Outra medida, defende, é a fiscalização externa. "Precisamos urgentemente de observadores internacionais independentes ligados à Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e à Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (CNUDH), pois não é mais possível confiar nos diferentes níveis de gestão que estão à frente da epidemia em Manaus."
Em entrevista ao Estadão na semana passada, o governador Wilson Lima (PSC) afastou a hipótese de adotar o fechamento completo do Amazonas. "Em nenhum momento, o Estado do Amazonas cogitou a possibilidade de fazer lockdown. Não tem isso vislumbrado no nosso horizonte. Não há condições de fazer um fechamento total, principalmente por conta da nossa dinâmica social. Seria ineficiente", disse. "Essa possibilidade não passa pela nossa cabeça."
Em visita a Manaus, também na semana passada, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, falou em "tratamento precoce" -- na prática, o uso de medicamentos rejeitados por entidades médicas e científicas contra a covid-19, como a cloroquina. Em meio à crise sanitária, o general deve voltar à cidade nesta quinta-feira.
Em evento no Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), pela manhã, no entanto, Pazuello, já tentou afastar de Brasília a responsabilidade pela situação no Amazonas. "Tudo o que o governador pediu já foi feito", disse. Segundo ele, o ministério "acompanha e apoia" as medidas adotadas pelo Estado, mas as ações estão "a cargo do prefeito e do governador". "Não estão a cargo do Ministério da Saúde."