IMUNIZAÇÃO

A vacina contra a covid-19 é segura? Especialista responde as dúvidas mais frequentes sobre a vacinação no Brasil

Saiba quais os principais efeitos colaterais das vacinas e quem poderá ser imunizado

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Estadão Conteúdo

Publicado em 26/01/2021 às 17:15 | Atualizado em 26/01/2021 às 19:01
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Com o início da vacinação contra a covid-19 em todo o País, surgem dúvidas sobre os imunizantes que serão aplicados na população. Até agora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de duas vacinas no Brasil: a Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e a produzida pela Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca. Em entrevista à Rádio Jornal, a especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Lorena de Castro, comentou os possíveis efeitos das vacinas.

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De acordo com Lorena, a maior dúvida é sobre a segurança dos imunizantes. "As pessoas estão temerosas porque é uma vacina nova, que foi acelerada o desenvolvimento. As vacinas que temos agora tiveram todos seus processos concluídos, mas mostraram ser seguras e foram aprovadas para uso emergencial pelo fato de que estamos vivendo uma pandemia".

A especialista destaca a importância de ter uma arma eficiente no combate a covid-19. "É um inimigo que a gente não sabe como vai agir no organismo. A única arma que temos contra ele é a vacinação. É o item mais seguro e eficaz quando falamos em saúde publica. Agora, podemos dizer que a covid-19 é uma doença imunoprevenível por vacina".

Outra dúvida comum, segundo Lorena, é se a vacina seria capaz de causar a doença. A especialista explica que a vacinação é segura e não causa a doença, já que somente o vírus desativado é utilizado.

Reações

A especialista divide as reações que podem ser apresentados após a vacinação em dois diferentes tipos. Confira:

Eventos leves - Acontecem em até 20% dos vacinados, que podem apresentar dor ou vermelhidão no local da injeção. Também podem apresentar febre. As reações são consideradas comuns em qualquer tipo de vacinação. "São casos leves, limitados e costumam se reverter rapidamente", afirmou Lorena.

Eventos moderados/graves - Considerados raros, acontecem em menos de 3% das pessoas vacinadas. "São os que podem necessitar de atendimento medico. Em muitos casos, não é possível relacionar com a vacina, já que podem ser causados por vacinas mas também por outros fatores", destacou a especialista.

Para Lorena, as pessoas precisam colocar os riscos na balança. "O risco de ter alguma reação a vacinação é minimamente irrisória se comparado aos benefícios que a vacina traz", observou. 

Contraindicações

De acordo com a especialista, algumas das contraindicações são iguais para todas as vacinas, não somente para a covid-19. Uma delas é para quem teve febre nos últimos três dias. "Como essa é uma das reações comuns, não sabemos como o corpo pode reagir, então é preciso estar afebril nos últimos 3 dias". 

Gestantes também não deverão receber o imunizante contra a covid-19. O motivo é simples: as reações do público a vacina ainda não foram estudadas. Já para pacientes imunodeprimidos, a orientação é de que sejam vacinados. "Apesar de não sabermos qual vai ser a eficácia da vacina, já que o sistema imunológico que já está deprimido pode impedir que o organismo desenvolva a imunidade. Mas orientamos sim vacinar, já que pouco estimulo pode ser melhor do que nada", orienta Lorena.

Pessoas que já apresentaram alergias a outras vacinas deverão tomar o imunizante contra o novo coronavírus em ambiente controlado. "Um lugar onde ela possa ser observada por ao menos 30 minutos, sabendo que o tempo ideal é o de uma hora. Mas, como as duas vacinas aprovadas não possuem antibiótico ou proteína alimentar na composição, as reações alérgicas deverão ser baixas", finalizou a especialista.

Outras perguntas e respostas sobre a vacinação no Brasil

1. Já posso ir ao postinho?

Neste momento, somente os grupos considerados prioritários serão imunizados. A vacina ainda não está disponível amplamente, então não se dirija a nenhum posto de saúde.

2. Quais são os grupos prioritários?

Conforme o Ministério da Saúde, os primeiros a receber as vacinas são os profissionais de saúde da linha de frente do combate à covid-19, idosos com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência; pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência, que vivem em residências inclusivas, e indígenas que vivem em terras indígenas. Quilombolas foram tirados da lista pelo ministério, mas o governo de São Paulo decidiu que eles também serão vacinados em São Paulo. As pessoas desses grupos vão receber a imunização nos locais onde vivem/trabalham, sob a coordenação de cada município. O número limitado de doses disponíveis no momento obrigou o ministério a priorizar indivíduos com mais risco. São cerca de 156,8 mil idosos que vivem em instituições de longa permanência e representam apenas 0,5% do total de idosos no País.

3. Quando os idosos que não vivem em asilos serão vacinados?

Isso vai depender da disponibilidade das doses de vacina. Nesta terça-feira (26), algumas cidades de Pernambuco começaram a vacinar idosos com 85 anos ou mais. Previsão é de que o mesmo aconteça em todo o Estado até a quarta-feira (27).

4. Todos os profissionais de saúde serão vacinados?

Ao longo da campanha de vacinação, sim. Mas neste primeiro momento serão apenas os que estão na linha de frente do combate à pandemia, as equipes que estiverem inicialmente envolvidas na vacinação dos grupos previstos para as 6 milhões de doses; os trabalhadores das instituições de longa permanência de idosos e de residências inclusivas. O critério para definir os grupos prioritários foi o grau de exposição à infecção e de maiores riscos para agravamento e óbito pela doença.

5. Quais trabalhadores estão incluídos nessa categoria?

Nesse grupo dos trabalhadores da saúde estão incluídos, além de médicos e enfermeiros, também nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, profissionais da educação física, médicos veterinários e seus respectivos técnicos e auxiliares. Assim como os trabalhadores de apoio, como recepcionistas, seguranças, pessoal da limpeza, cozinheiros e auxiliares, motoristas de ambulâncias e outros que trabalham nos serviços de saúde, mas que não estão prestando serviços diretos de assistência à saúde das pessoas.

6. Estudantes dessas áreas também serão vacinados nessa primeira etapa?

De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina será ofertada para acadêmicos em saúde e estudantes da área técnica em saúde que estejam em estágio hospitalar, de atenção básica e clínica, assim como aos profissionais que atuam em cuidados domiciliares como os cuidadores de idosos e doulas/parteiras, bem como funcionários do sistema funerário que tenham contato com cadáveres potencialmente contaminados.

7. A vacina será gratuita?

Sim. Inicialmente, a vacina será aplicada apenas pelo Sistema Único de Saúde, de forma gratuita a toda população.

8. Por que a vacinação é importante e todos devem se vacinar?

Quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais rápido terminará a pandemia. Isso porque diminuirá a circulação do vírus e maior parte da população fica protegida. De acordo com a rede Todos pelas Vacinas, "para uma vacina ser eficaz no indivíduo e na comunidade, ela deve cobrir uma porção determinada da população. Essa quantidade de pessoas depende do tipo de vacina e do patógeno. Uma cobertura vacinal alta previne pessoas vulneráveis a infecções, como pacientes com o sistema imunológico debilitado, recémnascidos e idosos". Esse fenômeno de proteção indireta é o que ficou conhecido como "imunidade de rebanho".

9. Contrair a covid-19 dá uma proteção melhor do que tomar a vacina?

Não. A imunidade que o nosso corpo desenvolve após contrair a doença ainda não está clara e pode durar pouco tempo, como sugerem os casos de reinfecção que vêm sendo relatados. Além disso, o risco de morrer ao contrair a covid-19 é de cerca de 1% - taxa que aumenta consideravelmente com a idade e com a ocorrência de comorbidades (como diabetes, hipertensão e obesidade). E mesmo quem se recupera da doença pode apresentar ainda por vários meses sintomas, como fadiga, além de outras sequelas mais graves. Então não vale a pena. Melhor tomar a vacina.

10. Mesmo tendo tomado a vacina, eu ainda posso ter covid?

Com a vacina, a chance de infecção diminuiu, mas não 100%. O que os testes indicam, porém, é que mesmo se uma pessoa vacinada contrair a doença, os sintomas podem ser de leves a moderados, mas a chance de precisar de hospitalização cai muito.

11. Há um risco da vacina para pessoas mais velhas e doentes?

Os testes tanto com a vacina de Oxford quanto com a Coronavac tiveram poucos participantes idosos e ainda não foi possível concluir quanto elas são eficazes para eles, mas a segurança em geral foi similar. Recentemente, houve um alerta feito pelo governo da Noruega em relação à vacina da Pfizer. No último dia 14, a Agência Norueguesa de Medicamentos atualizou suas recomendações sobre quem deve receber a vacina após alguns idosos morrerem pouco tempo depois de serem vacinados. Mas não foi estabelecida uma relação causal entre as mortes e as vacinas Desde o início da campanha de vacinação, no final de dezembro, 33 idosos que receberam a primeira dose morreram. Entre essas mortes, 13 foram analisadas de forma mais abrangente e se observou que eram "pessoas muito idosas, frágeis e gravemente doentes", com mais de 80 anos. A diretora da autoridade de saúde norueguesa, Camilla Stoltenberg, lembrou que diariamente morrem 45 pessoas em lares de idosos no país e disse que não há evidências de que a vacina tenha causado os óbitos recentes.

12. Quanto tempo após tomar a vacina a pessoa pode se considerar imunizada?

A imunidade depende de cada vacina. Um imunizante geralmente demora de duas a três semanas para fazer efeito. As duas vacinas (Coronavac e Oxford/AstraZeneca) disponíveis no Brasil precisam de duas doses para atingir a eficácia total. No caso da Coronavac, as vacinas devem ser aplicadas com intervalo de 28 dias. Já a vacina de Oxford pode ter espaço de 21 dias a 3 meses entre as aplicações.

13. Quantas pessoas precisam ser vacinadas para se alcançar a chamada "imunidade de rebanho"?

Considerando somente a Coronavac, a única vacina já sendo utilizada no Brasil, será preciso aplicá-la em praticamente toda sua população apta a recebê-la (99%) para alcançar a imunidade coletiva - e assim deter a circulação do novo coronavírus no País, segundo cálculo do microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Questão de Ciência. Segundo Almeida, seriam necessários dez meses para que todos recebessem a primeira dose. Ou seja, se tudo der certo, a vacinação, considerando que são necessárias duas doses para imunizar, só terá detido totalmente o vírus no 2.º semestre de 2022.

 

14. Depois de tomar a vacina, posso abraçar as pessoas normalmente?

Não. Os cuidados de distanciamento social continuam até que se alcance a imunidade de rebanho, ou seja, em que cerca de 60% a 70% da população esteja imunizada. Como as vacinas não têm 100% de eficácia, ainda existe a chance de se infectar, então é preciso continuar se precavendo.

15. Por que a vacinação é importante e todos devem se vacinar?

Quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais rápido terminará a pandemia. Isso porque diminuirá a circulação do vírus e maior parte da população fica protegida. De acordo com a rede Todos pelas Vacinas, "para uma vacina ser eficaz no indivíduo e na comunidade, ela deve cobrir uma porção determinada da população. Essa quantidade de pessoas depende do tipo de vacina e do patógeno. Uma cobertura vacinal alta previne pessoas vulneráveis a infecções, como pacientes com o sistema imunológico debilitado, recémnascidos e idosos". Esse fenômeno de proteção indireta é o que ficou conhecido como "imunidade de rebanho".

16. As vacinas são seguras?

Sim. Todas as vacinas aprovadas até agora no Brasil contra o coronavírus passaram pelos testes de segurança e foram reconhecidas como seguras pela Anvisa. Os eventos adversos, em geral já apresentados em bula, são leves. Os mais comuns são dores no local da aplicação e às vezes febre baixa, além de fadiga e dor de cabeça. "Mesmo que existam casos relatados com evolução para alguma gravidade, a chance de isso ocorrer é pequena e o risco é totalmente compensado pelos benefícios obtidos com a vacina", explica a rede Todos pelas Vacinas. O grupo também ressalta: vacinas não alteram DNA. Isso é impossível. "A gente pode ficar muito tranquilo. Nenhuma vacina vai fazer mal para ninguém, não vai transformar em jacaré. E o benefício que elas trazem para a sociedade supera absurdamente os riscos mínimos", disse a microbiologista Natália Pasternak, da USP e do Instituto Questão de Ciência em live no Estadão.

17. A taxa geral de eficácia da Coronavac se revelou de 50,38%. O que isso significa?

Essa taxa significa que a vacina reduz pela metade o risco de adoecer. Essa é a capacidade da vacina de evitar casos sintomáticos de um modo geral, independentemente da gravidade. Com ela, a pessoa vacinada tem 50,38% menos chance de desenvolver a doença.

18. Qual é a diferença desse número para o que foi anunciado anteriormente, de 78%?

Esse número foi obtido com um recorte do estudo, que considerou a ocorrência de casos leves de covid-19 que demandaram alguma intervenção médica ao paciente. Foram 31 casos assim no grupo que recebeu placebo e apenas sete no que foi vacinado. Ou seja, mesmo entre quem acabou ficando doente, a vacina reduziu em 78% a chance de a pessoa precisar de algum tipo de assistência médica.

19. A vacina de Oxford tem melhor eficácia?

As duas vacinas têm eficácia suficiente para ajudar no combate à pandemia. Nos testes, a vacina de Oxford foi administrada de duas formas diferentes: na primeira delas, os voluntários receberam metade de uma dose e, um mês depois, uma dose completa Nesse grupo de voluntários, a eficácia foi de 90%. Já no segundo grupo, que recebeu duas doses completas da vacina, a eficácia foi reduzida a 62%. Esses dois resultados permitiram estimar que a eficácia média da vacina é de 70%.

20. É possível tomar as duas doses de vacinas diferentes? É possível escolher qual tipo de vacina tomar?

Não será possível escolher qual vacina tomar. Elas estão sendo distribuídas por Estado e a distribuição está a cargo do Programa Nacional de Imunizações. Não há essa opção de escolher. Por enquanto, somente a Coronavac está disponível.

Tire outras dúvidas sobre a vacinação por meio do guia da vacinação contra a covid-19.

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