Saúde

Dia Mundial do Lúpus conscientiza população sobre doença crônica 

Tássia Di Carvalho só descobriu que tinha lúpus em 2011, após uma noite de grande estresse. "Não consegui nem andar. Fui me arrastando até chegar ao banheiro para ver o meu rosto. Meus olhos estavam inchados", relata

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Agência Brasil

Publicado em 10/05/2021 às 10:42
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A jornalista Tássia Di Carvalho só descobriu que tinha lúpus em 2012. No final do ano anterior, após uma noite de grande estresse, ela acordou com o rosto totalmente inchado. "Não consegui nem andar. Fui me arrastando até chegar ao banheiro para ver o meu rosto. Meus olhos estavam inchados".

Tássia ligou para o marido e ele a levou para o pronto-socorro, onde os médicos julgaram se tratar de alergia a algum alimento ingerido. Receitaram corticoides e ela desinchou. Dois dias depois, voltou a inchar. Mais corticoides. "Ficaram nessa brincadeira cerca de dois meses. Aí, me mandaram para a Santa Casa, porque ficaram com medo da quantidade de corticoides que eu estava tomando". Além disso, foi levantada a possibilidade de se tratar de uma doença crônica.

Na Santa Casa, Tássia teve que recorrer à assistência social para poder ser atendida com urgência e não ter que aguardar durante meses para agendar uma consulta. Somente ali, após exames, a jornalista descobriu que tinha lúpus. Chegou a perder todo o cabelo, sofreu episódios sem conseguir andar, fez quimioterapia por cinco anos. Ficou com perda de visão e teve lesões cutâneas. Hoje, se trata com hidroxicloroquina.

Fatores

Hoje (10) é o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus, que faz parte da campanha mundial de conscientização "Maio Roxo", cujo objetivo é incentivar o diagnóstico precoce e controle da doença. O presidente da Comissão Científica de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Edgard Reis, disse à Agência Brasil que não existe um fator único para o aparecimento do lúpus. Ele resulta de uma junção de fatores genéticos, ambientais (radiação ultravioleta) e hormonais (estrógeno) que atuam sobre o sistema autoimune. "Ou seja, o próprio indivíduo começa a produzir anticorpos, células, moléculas que vão atacar o próprio organismo. Em vez de atacar vírus e bactérias, acabam por atacar o próprio organismo também", afirmou Reis.

O lúpus é um doença reumática, crônica, que afeta principalmente mulheres entre 15 e 45 anos de idade, período compreendido, em geral, após a primeira menstruação e a pré-menopausa. Como se trata de uma doença crônica, não tem cura. "Mas tem um bom controle", advertiu o médico. Com o uso de medicamentos adequados, o paciente tem uma vida praticamente normal, completou. "Não existe um remédio que vai estabelecer uma cura específica, ao contrário do que ocorre com a pneumonia, por exemplo". Admitiu, por outro lado, que após a menopausa, existe tendência de melhor controle do lúpus, caso essa seja uma doença menos agressiva.

Pacientes com lúpus têm mais chance de ter aumento de peso, mais risco de ter obesidade e síndrome metabólica, quando ocorre aumento da pressão, diabetes, problemas de colesterol, o que oferece mais risco cardiovascular. "Se você já tem uma doença crônica, autoimune, que já tem mais risco cardiovascular, outra doença, como a obesidade, é muito ruim, porque aumenta o risco de eventos e pode atrapalhar o controle do lúpus", disse o presidente da Comissão Científica do Lúpus da SBR.

Mulheres

Embora o maior número de pessoas com lúpus seja de mulheres, Edgard Reis afirmou que isso não quer dizer que a doença não aconteça em crianças ou em idosos, só que aparece em uma relação menor e em uma proporção também menor entre homens e mulheres. No Brasil, a estimativa é que existam 65 mil pessoas com lúpus, a maioria mulheres.

Em Natal (RN), por exemplo, estudo realizado mostrou que a incidência de casos novos é de 8,7 pessoas para cada 100 mil habitantes por ano. Segundo Edgard Reis, a incidência de casos maior em Natal do que em alguns países pode ser explicada pela influência da radiação ultravioleta nessa cidade, que é banhada pelo sol ao longo de todo o ano.

Doença inflamatória, o lúpus pode afetar vários órgãos e tecidos, como pele, articulações, pulmão, coração, rins e cérebro. Quando acomete apenas a pele é chamado de lúpus cutâneo; quando, além da pele, atinge outros órgãos e tecidos, é chamado de lúpus eritematoso sistêmico (LES). Entre as lesões cutâneas, as mais comuns são as manchas vermelhas nas áreas da pele expostas ao sol, como rosto, orelha e o colo. Uma de suas principais características é uma mancha avermelhada nas maçãs do rosto e dorso do nariz, denominada lesão em asa de borboleta, porque seu contorno lembra uma borboleta. Esse animal acabou sendo símbolo do lúpus. Essas mancham pioram com a exposição ao sol.

Sintomas

No início, alguns sintomas podem ser inespecíficos, como cansaço, desânimo, febre diária baixa, emagrecimento, inapetência, alterações de humor, dor nas articulações e no corpo. Reis lembrou que alguns pacientes podem ter problema no pulmão, como tosse, falta de ar; às vezes alterações renais como diminuição da urina; manifestações do sistema nervoso que são mais raras, como quadros de convulsão e até mesmo de alterações psiquiátricas. "Depende muito de paciente para paciente".

Edgard Reis destacou que o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus, ou Dia Mundial do Lúpus, é importante não só para a prevenção da doença, mas para a conscientização. "Porque não é uma doença que é bem divulgada na mídia. Então, é importante para que as pessoas entendam que ela existe, quais os principais sintomas, visando à realização de um diagnóstico precoce da doença, para melhora do tratamento e do desfecho a longo prazo. Essa conscientização é importante também para que os parentes do doente entendam do que se trata.

O lúpus não é contagioso. Não é uma doença infecciosa, mas do sistema imune. "Não pega de pessoa para pessoa, não é transmissível". Quando há suspeita clínica, pode ser pedido ao paciente que faça exames gerais, entre eles hemograma completo, exame de urina para saber se tem alterações nos rins, e alguns anticorpos. "Em alguns casos, quando se faz necessário, podem ser feitos alguns exames de imagem, radiografia, tomografia, ecocardiograma, ou mesmo análise dos tecidos, com biópsia da pele e do rim". O tratamento visa a diminuir a progressão do quadro, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.

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