PANDEMIA

É possível desenvolver casos graves de covid-19 e morrer mesmo após ter sido vacinado? Esclareça essa e outras dúvidas

Médico sanitarista e diretor adjunto da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) esclareceu que isso pode, sim, acontecer, mas que os casos raríssimos não tiram a importância da imunização

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Katarina Moraes

Publicado em 16/06/2021 às 10:50 | Atualizado em 16/06/2021 às 14:24
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Ainda que sejam poucos, existem nas redes sociais relatos de pessoas que tomaram as duas doses da vacina contra a covid-19 e desenvolveram formas graves da doença e até morreram. Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta quarta-feira (16), o médico sanitarista e diretor adjunto da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), Jarbas Barbosa, esclareceu que isso pode, sim, acontecer, mas que os casos - raríssimos - não tiram a importância da imunização para barrar a disseminação do novo coronavírus pelo mundo.

O especialista explicou que "nenhuma vacina, não só de covid-19, tem 100% de eficácia", mas que reduzem, em muito, a chance de infecção e do desenvolvimento de quadros mais sérios. "A Inglaterra divulgou há poucas semanas que as duas vacinas usadas lá, - entre elas, a AstraZeneca, também usada no Brasil - reduzem a mortalidade em 80%. Mas tem pessoas que tomam a vacina e não desenvolvem a proteção necessária. Nos mais velhos, esse fenômeno é ainda maior, porque a idade naturalmente compromete o sistema imunológico", disse.

Dados do Ministério da Saúde obtidos pela CNN em maio mostravam o registro de uma morte a cada 25 mil pessoas que tomaram as duas doses do imunizante, o que equivale a 0,004% dos vacinados. Por isso, segundo o médico, é importante que mesmo os já vacinados com as duas doses sigam adotando todos os cuidados já conhecidos, como o uso de máscara, distanciamento social e fuga de aglomerações. Outro ponto importante é que estudos sobre a longevidade da proteção trazida pelos imunizantes ainda estão em curso.

"Ter 80% de redução na mortalidade é um resultado excelente. Mas tem, sim, pessoas que vão tomar as duas vacinas e vão ter a forma grave e morrer. Por isso, a gente recomenda que quem tomou as duas vacinas não deixe as medidas de proteção. Quando você toma essa vacina, não sabe se estará no grupo dos que estarão completamente protegidos, ou no pequeno grupo dos que não estarão", explicou.

O diretor da Opas ainda disse que nem mesmo testes de anticorpos podem determinar se o vacinado desenvolveu uma imunidade suficiente para largar as medidas de proteção. "Esses testes têm uma capacidade limitada em indicar exatamente como está seu sistema imunológico. Apenas exames mais sofisticados, feitos em laboratórios, conseguem dizer se você está protegido."

Tire outras dúvidas

Posso repetir a vacinação ou tomar novamente um outro imunizante contra o novo coronavírus?

"Por enquanto não há recomendação para repetir ou tomar outra vacina. Não sabemos ainda quanto tempo vai durar a imunidade dessa vacina, isso vem sendo estudado, tem pessoas vacinadas que todos os meses fazem exame de sangue para identificar se ainda têm anticorpos ou não.

Outra questão que pode complicar é o surgimento de novas variantes. Até aqui, as vacinas funcionam bem contra elas, mas há estudos dizendo que algumas variantes podem reduzir um pouco a eficácia da vacina em formas leves da covid-19. É importante fazer esse monitoramento para saber se é preciso tomar outra vacina ou não".

Quando será a hora de vacinar crianças e adolescentes?

"A prioridade é completar a vacinação em adultos, porque ainda tem muita gente que não foi vacinada. A cobertura com duas doses na população brasileira ainda é pouco acima de 10%, tem muita gente para vacinar antes de se pensar em crianças. Claro que as que têm alguma comorbidade que facilite o aparecimento de formas graves fazem parte de um grupo especial que precisa ser vacinado quando houver vacinas que possam ser utilizadas em crianças. Os Estados Unidos já têm. Quando houver no Brasil, primeiro devem ser vacinados os quadros que justifiquem maior vulnerabilidade para desenvolver formas graves. A prioridade é salvar vidas."

O que poderia ser feito pelos países que ainda não começaram a vacinação?

"Na região das Américas, o único país que não começou a vacinar foi o Haiti. Há países do Caribe com 20 a 25% da população vacinada. O Haiti vive uma situação muito complexa de crises políticas, e mesmo sendo um dos 10 países que recebem vacina de graça pelo COVAX, não conseguimos convencer o governo que ele deveria usar a vacina da Astrazeneca, que era a que estava disponível. Com o recente aumento de casos que começou a ocorrer, o governo decidiu que vai utilizar a vacina. Estamos junto ao mecanismo COVAX buscando as doses para o Haiti."

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