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Round 6: em escola privada no Recife, educadores vão de sala em sala e enviam carta a pais com alerta sobre a série

"Os pais precisam ficar atentos às questões sobre 'Round 6'. Sabemos que é difícil controlar, principalmente os adolescentes. Mas isso é necessário", diz diretora de colégio particular

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Cinthya Leite

Publicado em 18/10/2021 às 14:29 | Atualizado em 18/10/2021 às 14:46
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A série Round 6, que tem sido motivo de preocupação entre as famílias de crianças e adolescentes, também tem chamado a atenção de educadores. No Colégio Vera Cruz, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, a direção tem feito um trabalho de orientação sobre a série da Netflix com os alunos e os pais. Com tem classificação indicativa de 16 anos, Round 6 tem sido vista por crianças mais novas, que se sentem atraídas pela estética inspirada em animes. A questão é que os pequenos não devem ser expostos a conteúdos inadequados de entretenimento, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência.

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"É uma situação que requer monitoramento dos pais. O conteúdo da série é muito pesado. Por isso, estamos preparando uma circular, a ser enviada hoje (dia 18) para os pais. Eles precisam ficar atentos às questões sobre Round 6. Sabemos que é difícil controlar, principalmente os adolescentes. Mas isso é necessário", diz a diretora do Vera Cruz, Gladys Brasileiro. Ela conta que, no colégio, não tem ouvido com frequência comentários sobre a série vindo dos alunos menores (do fundamental 1, do 1º ao 5º ano). "Os maiores, dos anos finais do fundamental (6º ao 9º ano), até conversam discretamente sobre a série. Começamos o trabalho de orientação com alunos dessas séries finais. A supervisora foi às salas para conversar com eles sobre o assunto."

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A diretora do colégio acrescenta que, especialmente durante a pandemia, toda a sociedade vivencia um misto de sentimentos, marcado por dores e perdas. "Nesse contexto, vem Round 6, que traz uma degradação total, com muita morte. As crianças e os adolescentes precisam do oposto: de coisas construtivas", ressalta Gladys. 

O impacto de Round 6 na infância  

Segundo a sinopse, a série traz jogadores falidos que aceitam um convite para um jogo de sobrevivência, e um prêmio milionário aguarda os participantes, mas as apostas são altas e mortais. Com isso, Round 6 traz cenas e temáticas de assassinato, tortura, tráfico de órgãos e suicídio. E impactante é que tudo isso vem em brincadeiras infantis (“batatinha frita 1,2,3”, cabo de guerra e bolinha de gude), em que os perdedores dos desafios morrem com muito tiro.

Assista ao trailer:

A psiquiatra da infância e da adolescência Carolina Rolim explica que séries que trazem conteúdos de violência e suicídio, por exemplo, podem disparar gatilhos emocionais - uma resposta mental que envolve emoções, pensamentos e comportamentos que podem ser negativos. Ou seja, diante de cenas como as da série, crianças e jovens podem reagir de forma mais exaltada ao que tem visto. "Para quem está vulnerável emocionalmente, essas cenas causam um impacto mais intenso e tendem a ser um gatilho significativo", diz Carolina.

A médica recomenda aos pais que façam a supervisão de tudo o que os filhos, até o final da adolescência, acessam. "Eu não costumo impor, aos pais, o que eles devem recomendar ou não para as crianças. Cada família tem uma forma de pensar. O que eu apresento são as recomendações trazidas pela ciência e o impacto que cada atitude pode gerar. A partir daí, as famílias conversam com suas crianças. "Mas uma coisa é certa: se a classificação indicativa é 16 anos, por que crianças e adolescentes menores vão ver? É um conteúdo claramente impróprio para eles", acrescenta Carolina.

Segundo o psicólogo Rodrigo Nery, depois que Round 6 viralizou, muitas crianças acabaram tendo acesso ao conteúdo da produção coreana. "Isso pode acabar atraindo as crianças e causar danos psicológicos. A série mostra cenas de suicídio, tráfico de órgãos, tortura psicológica, violência explícita e palavrões. É completamente inapropriada para as crianças", alerta. Ele frisa que é de inteira responsabilidade da família decidir o que é melhor para as suas crianças, permitindo ou não o acesso a conteúdos impróprios para a idade. "Porém, é importante que nossas crianças acessem conteúdos apropriados para cada faixa etária", reforça Rodrigo Nery. O psicólogo orienta que os responsáveis da criança controlem o tempo de exposição a telas e coloquem limites sobre o uso. "Eles também devem estar juntos aos pequenos se a decisão for permitir que tenham acesso a estes conteúdos impróprios para a faixa etária." 

O psicólogo também destaca o quanto é importante a família criar um ambiente acolhedor, que priorize o diálogo com os filhos, com uma rotina de conversas sobre o dia da criança: o que fez, o que viu e o que aprendeu. "Isso pode ajudar a não criar um pânico sobre o que a criança está consumindo. Caso ela já tenha assistido à série, é bom lembrar que cada uma absorve conteúdos de forma diferente. É importante questionar o que aprenderam e o que sentiram vendo a produção e, a partir das respostas, pais e criança devem discutir juntos", acrescenta Rodrigo Nery.

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