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Saiba por que a dramática e nova onda de covid-19 na Europa alerta para risco de mais uma alta de casos no Brasil

Com mais uma alta de casos da doença, Europa coloca os não imunizados na mira

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 22/11/2021 às 16:50
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
CONVIVÊNCIA Estágio avançado da reabertura das atividades proporciona ambientes com aglomerações, a exemplo das praias - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Quase dois anos após a explosão de casos de covid-19, a Europa se vê novamente num momento preocupante diante da alta de infecções pelo coronavírus em países como a Alemanha, Áustria, Grécia, Reino Unido, Rússia e Hungria. Alguns adotam lockdowns totais ou parciais. Na rota dos alertas sobre a nova onda de adoecimento, o ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, fez mais um apelo pela vacinação no País e foi enfático ao dizer que, até o fim do inverno, é possível estimar que todos os alemães que não tomaram as vacinas serão infectados. Os alemães estarão "vacinados, curados ou mortos" no fim do inverno (no hemisfério norte), devido ao aumento do número de casos de covid-19, segundo disse Jens Spahn, enquanto a chanceler Angela Merkel falou de uma situação "dramática".

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É por isso que a Europa coloca na mira os não imunizados contra a doença. Os países com índices insuficientes de vacinação, como Alemanha (67,5% protegidos), Áustria (64,1%) e a Grécia (61,1%) pretendem restringir atividades das pessoas que se recusam a tomar a injeção contra o coronavírus. "Essa retomada no aumento de casos, em alguns países da Europa, principalmente do Leste do continente, tem como uma das explicações a baixa cobertura vacinal. Há uma proporção alta de pessoas que se negam a tomar os imunizantes, o que levou ao que se chama hoje de pandemia dos não vacinados", explica o epidemiologista Rafael da Silveira Moreira, professor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

Também pesquisador da Fiocruz Pernambuco, Rafael destaca que, enquanto houver recusa de grupos para a imunização, a doença será mantida. "Infelizmente há países, na Europa, que ignoram a ciência e alimentam as fake news." De acordo com os números oficiais, divulgados pela Associated Press, a Alemanha registrou mais de 30 mil casos nas últimas 24 horas. Os hospitais alertam que a capacidade das unidades de terapia intensiva (UTI) está quase no limite, e alguns pacientes precisaram ser transferidos para unidades de saúde fora do país. 

Já no Reino Unido, segundo relata a AFP, foram registradas 45 mortes por covid-19 e 44.917 casos nas últimas 24 horas. Isso se compara às 47 mortes e 39.705 casos na semana passada, de acordo com a Sky News. E na Rússia, como mostra a Associated Press, foram registrados 1.241 óbitos pela doença nesta segunda-feira (22), além de 35.681 novos casos. 

"Com a chegada do inverno (dezembro a março) no Hemisfério Norte, as pessoas têm evitado locais abertos e se reúnem em espaços fechados, o que propicia a circulação do vírus. Aliado a isso, as medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, estão sendo flexibilizadas em vários países da Europa. Tudo contribui para este atual aumento de casos", esclarece Rafael Moreira, que também não descarta a possibilidade de surgimento de novas variantes do coronavírus. "As pessoas adoecem e têm sintomas que não associam ao coronavírus. Acham que é gripe e continuam circulando."

Por outro lado, o epidemiologista cita a Espanha exceção no continente - ou seja, como exemplo no combate à pandemia. O país tem a segunda menor incidência (58,7 casos por 100 mil habitantes), atrás apenas de Malta, e uma das mais altas coberturas vacinais: 80%. "E mesmo assim, a Espanha mantém o uso de máscaras. É o país que mais vem se destacando no controle da covid-19." 

O cenário atual da Europa serve como alerta para o Brasil. Por aqui, este mês de novembro registrou a maior queda na média móvel de óbitos por covid-19 desde o início da pandemia. Os boletins epidemiológicos divulgados recentemente, pelo Ministério da Saúde, têm revelado uma redução de 31,24% nas notificações de casos e óbitos, desde o pico da pandemia, registrado em abril. Mais de 131,2 milhões de brasileiros já completaram o esquema vacinal - ou seja, 74% do público-alvo. A primeira dose já chegou para mais de 158 milhões de pessoas, o que representa mais de 89% da população elegível para a imunização contra a covid-19.

Com esse avanço na imunização e a queda no número de casos e mortes, muitos Estados e cidades estão flexibilizando os protocolos contra covid-19. Para alguns especialistas, ainda é cedo. "Estamos nos aproximando das festas de fim de ano e das confraternizações. Por isso, não é momento de flexibilizar medidas de restrição e retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras. Além disso, estamos próximos ao período em que se comemora Carnaval, que é o ápice da aglomeração popular. Dessa maneira, o que vemos na Europa agora deve servir de sinal para os gestores refletirem bem sobre as condutas diante da pandemia", frisa Rafael Moreira. 

Nova onda de covid-19 na Europa preocupa e alerta para risco de mais uma alta de casos em Pernambuco

Neste mês, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, reforçou o quanto a nova onda de covid-19 da Europa faz uma chamada de alerta para todo o mundo, principalmente nas localidades onde a cobertura vacinal completa ainda está abaixo do esperado.

"Muito tem nos preocupado a nova onda da doença na Europa, que aponta risco de repique da infecção pelo vírus, especialmente no período sazonal e com foco naqueles, nesses países europeus, que não tomaram a vacina. Isso reforça a importância da imunização. A pandemia não acabou e não é momento de relaxamento total, apesar de a situação ter melhorado muito. Mas permanecemos com a circulação viral e, por isso, ainda temos riscos (de novas altas da covid-19)", alertou o secretário. 

Com a quarta onda da covid-19 em países europeus em pleno vigor na aproximação do inverno (estação propícia à disseminação do coronavírus), o secretário refletiu o quanto isso pode demonstrar uma tendência para outros países e Estados brasileiros. "Temos até fevereiro para corrermos juntos para atingirmos melhores indicadores de vacinação e, dessa maneira, enfrentar o período de maior ocorrência de vírus respiratórios (geralmente de março a junho em Pernambuco), a fim de evitar eventual terceira onda da covid-19", salientou Longo. 

O secretário sublinhou que "a única forma de evitarmos o pior é com a vacina, avançando. É a vacina que pode nos dar uma condição melhor em 2022, especialmente quando chegar o tempo de maior circulação viral". Ele disse que, sem taxas altas de coberturas vacinais, estamos em risco de ter nova onda. "E muito impactante. Será diretamente proporcional aos bolsões de pessoas não vacinadas com a segunda dose e dose de reforço nos suscetíveis", acrescentou Longo. 

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