NOVA CEPA

Ômicron pode não ser a última variante, diz diretor da Opas, cobrando mais vacinas para países pobres

O vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), Jarbas Barbosa, concedeu entrevista à Rádio Jornal nesta segunda-feira (29)

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 29/11/2021 às 11:39
GUILLEM SARTORIO / AFP
Rio e Ceará registram casos de 'flurona', coinfecção por Covid e influenza - FOTO: GUILLEM SARTORIO / AFP
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O surgimento de uma variante da covid-19, confirmada em regiões da África, tem causado preocupação não apenas em especialistas na área de saúde, mas na população em geral. Nesta linha, o vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), Jarbas Barbosa, afirmou, em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta segunda-feira (29), que esta variante, batizada de ômicron, pode não ser a última cepa a surgir, e, por isso, é necessário ter cautela em relação a ela.

“Seguramente, esta pode não ser a última variante. Outras podem surgir. Isso é absolutamente não previsível. O que sabemos é que é natural que o vírus, à medida que circule mais, produza estas variantes. A ômicron também chama atenção para o fato de que a pandemia não acabou”, afirmou Jarbas Barbosa, que também é médico sanitarista e epidemiologista.

“Vemos claramente que ainda temos um caminho pela frente, e esse caminho precisa de mais vacinas em mais países, com esquema vacinal completo e que também a liberação de atividades precisa ser feita de maneira cuidadosa e planejada. O uso de algumas medidas, como uso de máscaras em lugares fechados, em transporte público, precisam continuar enquanto houver transmissão. É isso que vai, junto com a vacina, fazer com que tenhamos o vírus controlado”, acrescentou o vice-diretor da Opas.

O especialista disse ainda que a ausência de vacinas nos países mais pobres, que são a maior parte dos locais onde a ômicron foi detectada, contribuiu para o aparecimento desta nova cepa. Munido de estudos que apontam a eficácia dos imunizantes, Barbosa explicou o porquê de a variante ter seus primeiros casos em países da África Austral, na parte sul do continente.

“A vacina protege contra a transmissão. Claro, nenhuma vacina é 100% absoluta, mas todos os dados que temos demonstram que pessoas imunizadas têm muito menor risco de contrair a doença e quando a contraem, geralmente, têm na forma mais leve. Isso porque o organismo já está preparado para responder àquele vírus”, pontua Jarbas.

“O perigo, contudo, está onde as pessoas não estão vacinadas. Porque, assim, o vírus se multiplica, invade o organismo das pessoas, que muitas vezes não têm o sistema imunológico muito eficiente, permanecendo os vírus, então, durante muito tempo, possibilitando que a partir daí surjam novas variantes. Ou seja, o vírus vai fazendo mutações que acabam se consolidando numa nova variante”, explicou.

Consórcio Covax Facility

Jarbas Barbosa apontou ainda as dificuldades enfrentadas pelo consórcio Covax Facility para fazer chegar às nações menos desenvolvidas as doses dos imunizantes contra a covid-19. O mecanismo trata-se de iniciativa global criada para permitir o acesso justo e igualitário de vacinas covid-19 por meio de parcerias de organismos internacionais com laboratórios e países de renda alta e média-alta.

“O mecanismo Covax tem um papel importante, visto que já distribuiu mais de 500 milhões de doses de vacinas para a grande maioria dos países mais pobres, que se não fosse o Covax, creio, eles sequer teriam começado a vacinar. No entanto, as empresas produtoras de vacinas têm priorizado os chamados acordos bilaterais, que elas fizeram com países ricos ou de renda média. Elas fazem isso porque nesses acordos, é possível cobrar mais caro do que o preço passado ao mecanismo Covax”, disse Barbosa, afirmando que há companhias que prometeram entregar 200 milhões de doses, mas não cumpriram o acordado, entregando apenas 5 milhões.

Além disso, o vice-diretor da Opas citou os problemas relacionados à Índia, que paralisou, em março, as exportações das doses da AstraZeneca, feitas pelo Instituto Serum, maior produtor de vacinas do mundo.

“Tivemos um problema na Índia. O grande produtor de AstraZeneca, o Instituto Serum, tinha se comprometido com 500 milhões de doses, mas com a epidemia crescendo na Índia, desde março ou abril, o governo indiano proibiu exportações. Então, esse produtor também deixou de entregar suas doses”, pontuou ele, cobrando que outras grandes farmacêuticas contribuam mais intensamente para o combate à pandemia.

“Se nós não tivermos um acesso equitativo à vacina por todos os países, nós teremos dificuldades para controlar essa pandemia, além de estarmos despreparados para outras pandemias”, concluiu.

Ouça a entrevista completa:

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