Em 12 de março de 2020, um dia após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter decretado a pandemia do novo coronavírus, Pernambuco confirmou seus dois primeiros casos de covid-19. De lá até aqui, muitos foram os momentos vivenciados, protagonizados pelo sobe e desce das curvas de casos e óbitos. Essa oscilação, impulsionada pelas variantes em todo o mundo, deu fôlego a um vírus que seguiu uma rota para adquirir maior poder de transmissão e escapar da imunidade. Felizmente, nos últimos meses, o controle das ondas de casos e óbitos tem ocorrido graças ao poder das vacinas, que nos mostram o quanto têm sido eficazes na queda da mortalidade pela doença.
Hoje, dois anos depois, Pernambuco acumula 861.859 registros de pessoas que foram infectadas pelo coronavírus. Desse total, 21.195 não resistiram às complicações decorrentes da infecção e foram a óbito. E em mais de um ano de campanha de imunização (foi iniciada em 18 de janeiro de 2021 no Estado), foram 7.985.119 doses aplicadas (cobertura de 90%). Do total, 6.809.887 pernambucanos (77%) completaram seus esquemas vacinais e somente 2.600.512 tomaram a dose de reforço (39,3%). O desafio atual é identificar esses bolsões de não vacinados (pessoas não imunizadas totalmente e que estão susceptíveis à doença) e levar as doses até esses locais. Isso precisa ser feito porque quanto maior o número de pessoas não vacinadas, mais chances o coronavírus tem de se multiplicar e sofrer mutação.
"Na vacinação, que é peça fundamental para que pudéssemos reverter o curso da pandemia e salvar vidas, estamos fazendo um intenso trabalho para levar a vacina para o braço dos pernambucanos. Desde o primeiro momento, montamos uma ágil operação logística de distribuição das doses para que todas as prefeituras conseguissem planejar e avançar nas suas ações. Montamos um comitê técnico formado por profissionais de notado saber na área de imunizações para nos auxiliar neste processo de vacinação", diz o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo.
Ao longo desses dois anos, os números comprovam que a imunização faz a diferença na queda da mortalidade por covid-19. Levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), entre os pacientes que foram a óbito pela doença em janeiro, mostra que, de cada cinco pessoas que morreram com covid-19, quatro não tinham tomado todas as doses necessárias da vacina. E, entre os que morreram mesmo totalmente vacinados, 85% eram idosos, com mais de 60 anos, e 85% tinham comprovadamente doenças preexistentes. "Esse levantamento só ratifica a importância de tomar todas as doses preconizadas, incluso o reforço", afirma André Longo.
Até agora, o comportamento de Pernambuco em relação às ações de cuidado segue o cuidado preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em um momento em que as medidas sanitárias, como o uso obrigatório de máscaras, estão sendo suspensas, o governo do Estado continua a alertar que ainda é muito cedo para baixar a guarda. A conduta também está alinhada com o que diz a Associação Médica Brasileira (AMB). "Precisamos ter cautela quanto à questão do uso opcional de máscaras na prevenção de infecções respiratórias. Uma flexibilização indiscriminada pode ampliar os riscos à população, ainda mais à parcela não vacinada ou com esquema incompleto e principalmente os imunocomprometidos", afirma, em nota, a AMB.
As próximas semanas serão fundamentais para pesquisadores e autoridades sanitárias compreenderem um possível novo cenário da doença. Ou seja, precisamos de mais um tempo para concluir que a pandemia está sob controle e, enquanto isso não ocorre, todos os cuidados devem ser mantidos.
"Sem clima de fim de pandemia"
JC — Como o senhor avalia o enfrentamento à pandemia, em Pernambuco e no Brasil, ao longo destes 2 anos?
ANDRÉ LONGO — No Brasil, precisamos lamentar a ausência de uma coordenação nacional na condução da pandemia, aliada a um discurso negacionista no plano federal, que gerou uma mensagem inadequada para a população. Precisamos destacar a articulação dos Estados do Nordeste, que se uniram no enfrentamento à pandemia para resistir ao negacionismo, com a criação, inclusive, de um Comitê Científico de Combate ao Coronavírus. Especificamente aqui em Pernambuco, nesta longa jornada de dois anos, por determinação do governador Paulo Câmara, fomos guiados pela ciência, atuando com total transparência para levar a melhor informação à população e sempre em articulação com as secretarias municipais de Saúde, por meio do Cosems-PE (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Pernambuco). Assim, procuramos responder à altura desta maior crise sanitária em 100 anos. Na assistência, colocamos em prática um grande plano de mobilização de leitos, insumos e de recursos humanos e, com isso, montamos a maior rede hospitalar para atendimento de casos de síndrome respiratória aguda grave entre os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Na vacinação, que é peça fundamental para que pudéssemos reverter o curso da pandemia e salvar vidas, também estamos fazendo um intenso trabalho. Montamos uma ágil operação logística de distribuição das doses para que todas as prefeituras conseguissem planejar e avançar nas suas ações.
JC — Com a queda dos indicadores nesta fase atual, acredita que estamos perto do fim da pandemia?
ANDRÉ LONGO — Observamos, semana após semana, uma melhora nos indicadores da Covid-19, com redução na positividade, no número de pacientes internados, no registro de novos casos e óbitos. Mas, para continuarmos colhendo resultados positivos, o único caminho é avançarmos ainda mais na vacinação. Também não podemos entrar no clima de fim de pandemia. A vacinação está mudando a realidade, mas a desigualdade no acesso aos imunizantes, ao redor do globo, ainda nos deixa inseguros em relação ao aparecimento de novas variantes.
JC — Onde se concentram hoje os bolsões de não vacinados em Pernambuco e quais as estratégias que têm sido adotadas para solucionar este desafio?
ANDRÉ LONGO — Para atingir esses bolsões e apoiar os municípios com maiores dificuldades, acelerando a imunização no Estado, criamos, em parceria com a Opas/OMS, o Programa Vacina Mais Pernambuco. E, ao longo dos últimos três meses, fizemos um grande trabalho de varredura vacinal, com busca ativa, casa a casa, em 15 municípios do Estado - a maioria localizada na Mata Sul. Neste trabalho, também detectamos infelizmente que existe um sub-registro das vacinas aplicadas contra a covid-19 na população. Isso significa dizer que as doses são aplicadas, mas não estão sendo devidamente informadas e/ou registradas nos sistemas. Por isso, é importante que as equipes de saúde dos municípios se organizem e adotem medidas para incrementar o registro de dados nos sistemas oficiais de informação. A precisão das informações é crucial para o planejamento da necessidade municipal e estadual.
JC — A cobertura para a terceira dose ainda está baixa no Estado. Com a pandemia mais calma atualmente, as pessoas podem relaxar e não retornar para tomar este reforço. Como o Estado tem sensibilizado esse público?
ANDRÉ LONGO — Em dois anos de pandemia, está muito claro que não podemos baixar a guarda. O único caminho para superarmos este momento, é avançarmos ainda mais na vacinação, seja na proteção das crianças de 5 a 11 anos, seja ampliando a cobertura da terceira dose nos adultos que tomaram a segunda dose há mais de quatro meses. As vacinas, como sempre digo, são seguras e são a nossa principal aliada para a proteção da vida e para vencermos o vírus. Por isso, é fundamental o compromisso de cada um de nós com o processo vacinal.
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