O ano de 2023 na Saúde começa com velhos problemas e situações precárias que se repetem no Hospital Otávio de Freitas, localizado no bairro de Tejipió, Zona Oeste do Recife. Referência para o tratamento de doenças urológicas, a unidade (única emergência urológica de Pernambuco) desponta, mais uma vez, como um retrato de muitos atropelos pelos quais passa a saúde pública nos últimos anos.
Degradados e superlotados, em meio à entrada do quarto ano da pandemia de covid-19, os hospitais públicos do Estado vivenciam decadência na infraestrutura, problemas de gestão e plantões desfalcados.
As unidades de saúde estão tão saturadas que novamente as denúncias dos pacientes se multiplicam. Um setor tão primordial como a Saúde não deve ser relegado a um segundo plano por aqueles que têm a maior responsabilidade, as autoridades.
Nesta quinta-feira (19), imagens recebidas pela TV Jornal revelam superlotação no Otávio de Freitas - e o mais grave: água de esgoto vazando na ala dos pacientes.
A última coisa que pensamos sobre um hospital é a possibilidade de ele ser ambiente inseguro. Mas infelizmente, no Otávio de Freitas (e ele não é o único com um setor de emergência apinhado com doentes), as pessoas estão expostas a condições sanitárias indevidas e graves.
Essa situação representa risco à saúde de que está na unidade para ser cuidado e também dos profissionais.
É um cenário desumano, que não deixa de ser uma emergência em saúde pública. Afinal, é uma situação que demanda o emprego urgente de medidas de controle, de contenção de riscos, de danos e de desassistência à população.
Por parte do governo estadual, são necessárias ações de curto prazo para solucionar a falta de condições do hospital de receber novos pacientes, de oferecer um atendimento adequado e humanizado a quem precisa. Além de deixar transparecer as feridas da saúde pública de Pernambuco, o problema no Otávio de Freitas escancara uma crise social.
"O que vou fazer, doutora?", questiona uma mãe, em um dos vídeos de denúncia sobre o hospital. As imagens mostram a mulher, em meio a água do esgoto que alaga corredores, arrastando a maca do filho, que tem uma condição grave de saúde, segundo relatou.
Outros vídeos gravados também esta semana, por pacientes que estão dentro do hospital, mostravam pessoas internadas em macas e sobre papelões nos corredores.
Resolver todos esses problemas exige a criação de uma força-tarefa na gestão da saúde pública de Pernambuco, a fim de ir além de estratégias paliativas. É preciso atuar na raiz dos problemas para melhorar as condições dos serviços de saúde públicos. Indo mais além, é hora de rediscutir os modelos de gestão, em prol da qualidade de vida da população.
"O problema é complexo, pois reúne questões estruturais e de recursos humanos", reconhece a secretária de Saúde de Pernambuco, Zilda Cavalcanti, ao ser questionada sobre ações que serão feitas para resolver a situação do Otávio de Freitas.
Ela assegura que está em desenvolvimento o projeto para descentralizar a assistência à saúde, principalmente o atendimento emergencial aos pacientes com doenças urológicas, que seguem para o Otávio de Freitas quando precisam cuidar de alguma urgência dessa especialidade.
Para solucionar a crise atual do hospital, Zilda diz que a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) tem realizado a transferência de pacientes para outras unidades. "Estamos vendo onde há leitos de urologia disponíveis para essas pessoas. A previsão é que até amanhã (sexta-feira, dia 20), tudo se acalme."
A meta a curto prazo, segundo Zilda, é abrir um novo serviço de urologia em unidade que já faz parte da rede estadual, a fim de desafogar o Otávio de Freitas.
A verdade é que, há tempos, entre entradas e saídas de governantes, os hospitais públicos enfrentam uma série de dificuldades.
Neste novo comando estadual, a saúde pública aguarda sua vez, mas não pode esperar muito tempo mergulhada no que (ainda) parece ser transição de governo. Sempre é tempo de fazer diagnósticos da rede assistencial e de traçar planos. Mas também sempre é hora de colocar em prática uma assistência digna à população. É necessário agir e permitir à Saúde sair a tempo da UTI.
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