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Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
PSIQUIATRIA FORENSE

Assassinatos em massa: eles não são causados por psicose, mas são um trágico problema de saúde pública; prevenção deve ser prioridade

"A psicose não se faz muito presente neste tipo de ataques, pois são eventos muito bem elaborados, planejados por quem o comanda. E uma pessoa com psicose não traria toda essa elaboração", diz psiquiatra

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Cinthya Leite

Publicado em 19/10/2023 às 22:33 | Atualizado em 19/10/2023 às 22:42
Apesar de ser difícil prevenir um assassinato em massa, existem sinais de alerta, durante a fase de planejamento dos ataques, que podem oferecer uma janela de oportunidade para que se possa evitar um evento violento dessa natureza - FREEPIK/BANCO DE IMAGENS

SALVADOR (BA) - Psiquiatra forense, a pernambucana Milena França fez lotar, no fim da tarde desta quinta-feira (19), o auditório Dr. Juberty de Souza, no Centro de Convenções Salvador, onde ocorre a 40º edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Ela falou sobre um tema que tem preocupado a população em geral: os assassinatos em massa (conhecidos também, pela expressão em inglês, mass murders).

"É um fenômeno que desperta medo, confunde psiquiatras, sociólogos e políticos. A frequência desses eventos aumentou nas últimas décadas e, mesmo em países onde o acesso a armas de fogo é altamente regulamentado", destacou Milena, que é secretária-geral do Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Durante o simpósio em que apresentou uma aula sobre os assassinatos em massa, ela relembrou dois ataques em massa que ocorreram este ano no Brasil. 

No dia 5 de abril, quatro crianças foram brutalmente assassinadas por um homem que invadiu uma creche em Blumenau (SC). Outras cinco crianças ficaram feridas. Poucos dias antes (27 de março), um menino de 13 anos matou um professor de 71 anos e feriu outras cinco pessoas com uma faca, em uma escola na cidade de São Paulo.

"A psicose não se faz muito presente neste tipo de ataques, pois são eventos muito bem elaborados, planejados por quem o comanda. E uma pessoa com psicose não traria toda essa elaboração", destacou Milena - CINTHYA LEITE/JC

"É importante deixar claro que esses perpetradores (aqueles que cometem o crime) não tem psicose nem esquizofrenia, como parte da mídia divulga. Há grande probabilidade de ter um transtorno mental envolvido, mas não a psicose em si. A psicose não se faz muito presente neste tipo de ataques, pois são eventos muito bem elaborados, planejados por quem o comanda. E uma pessoa com psicose não traria toda essa elaboração", destacou Milena. 

Os perpetradores desses ataques, segundo a psiquiatra, geralmente não têm diagnóstico prévio de uma condição psiquiátrica grave (como psicose). Eles procuram fama e atenção, são influenciados em algum nível por agressores semelhantes e que planejam cuidadosamente o ataque para alcançar o maior número de vítimas.

"O assassino menciona antecipadamente, em até 75% das vezes, seus planos e ameaças antes de realizar os ataques. E há fatores de risco relacionados a atiradores escolares, como os individuais (sentimento de vingança), os conflitos familiares, a violência escolar e o sentimento de injustiça. É um grande problema de saúde pública", alerta Milena. 

Outro ponto que merece ser destacado é o fato de que as consequências dos ataques em massa perduram a longo prazo nos locais onde ocorrem. Estudos mostram que, entre as adversidades associadas a assassinatos em massa, estão transtorno de estresse pós-traumático, depressão e outros sintomas psiquiátricos apresentados pela população que vivenciou a violência.

Dessa maneira, a psiquiatra sublinha que, apesar de ser difícil prevenir um assassinato em massa, os fatores de risco podem ser avaliados como sinais de alerta por profissionais de saúde e autoridades sanitárias, durante a fase de planejamento dos ataques, o que pode oferecer uma janela de oportunidade para que se possa evitar o evento violento.  

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