Epilepsia: o que fazer para ajudar alguém durante crise convulsiva? Neurologista orienta e tira dúvidas sobre a doença
Associação Brasileira de Epilepsia divulga protocolo capaz de dar apoio em primeiros socorros na crise convulsiva
Doença neurológica crônica, a epilepsia afeta de 1% a 2% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A doença remete automaticamente à crise convulsiva, mas as consequências vão além do risco de acidentes pela perda de consciência imediata.
A falta de tratamento adequado pode levar a problemas cognitivos, restrições laborais, educacionais e sociais, além de mudanças súbitas de humor.
Ainda existem muitos mitos e desconhecimento sobre a doença.
Por isso, o neurologista Lécio Figueira, vice-presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), decidiu explicar as crenças populares e quebrar estigmas associados a essa condição. Confira:
A epilepsia é uma doença contagiosa?
Não. De acordo com Lécio Figueira, até 10% das pessoas podem ter uma crise epiléptica durante a vida. Isso pode acontecer devido a um acidente vascular cerebral (AVC), meningite, tumor cerebral, trauma de crânio (acidentes), alterações graves no funcionamento do corpo (insuficiência renal, hepática, alterações sanguíneas), hipoglicemia ou hiperglicemia. Contudo, ter epilepsia implica em ter mais de uma crise, com risco de acontecer novamente.
É possível manter a consciência durante uma crise epiléptica?
Sim. Como as crises acontecem pela alteração do funcionamento cerebral ("curto-circuito"), caso ocorra em apenas uma região do cérebro, a pessoa pode estar consciente.
Algumas vezes ela conseguirá ainda responder ou interagir; em outras, mesmo sem responder, ainda estará consciente. Porém, isso não é o mais frequente e devemos tomar cuidado.
Vale destacar que uma crise pode causar perda da capacidade de guardar os fatos que aconteceram durante ou próximo ao episódio.
Durante uma crise epiléptica, deve-se segurar os braços e a língua da pessoa?
"Não adianta segurar os braços e pernas ou puxar a língua. Isso continuará acontecendo até que a crise acabe, o que acontece espontaneamente em quase todas as crises. Vire a pessoa de lado, apoie a cabeça, não tente destravar dentes ou puxar a língua, afaste objetos para que não se machuque enquanto ainda tem os movimentos em braços e pernas", afirma Lécio Figueira.
"As crises duram menos de 5 minutos. Olhe para o relógio porque, se durar mais que isso, é importante chamar por socorro (Samu 192). Após a crise, a pessoa demora alguns minutos para se recuperar", acrescenta.
O estresse é um fator desencadeador de crises epilépticas?
Depende. De acordo com Lécio, o estresse pode, sim, facilitar a ocorrência de uma crise em diversos pacientes. Contudo, existem alguns pontos importantes a serem discutidos.
Se a pessoa não tiver predisposição para a epilepsia, a crise não acontecerá. Em geral, esses episódios não acontecem na hora do estresse, mas, sim, alguns minutos ou horas depois.
Existem medicamentos capazes de controlar totalmente a incidência das crises?
"A maioria das pessoas com epilepsia ficará controlada das crises, desde que tenham acompanhamento médico adequado e façam o uso de uma medicação apropriada para seu tipo de crise. Além disso, a dose correta e consumida de maneira regular também são fatores cruciais para manter esse controle", explica o neurologista.
As pessoas com epilepsia não podem dirigir?
Pacientes com epilepsia controlada, sem crises há mais de um ano e uso regular das medicações, podem dirigir. Como previsto na lei brasileira, para conseguirem a permissão, os pacientes precisam de um parecer favorável do neurologista que acompanha o caso.
Pessoas com epilepsia não podem ter filhos?
Mulheres e homens com epilepsia podem ter filhos.
De forma geral, a epilepsia não afeta a fertilidade, exceto se existirem outros problemas associados. Para as mulheres, é importante se programar para as crises estarem controladas e uma medicação segura seja escolhida, sempre com dose adequada.
A epilepsia pode acometer todas as idades?
Sim! "Em geral, acredita-se que a epilepsia seja uma doença que se inicia em crianças. Porém, hoje, sabemos que as pessoas podem começar a ter crises em qualquer momento da vida. Mesmo assim, as duas fases em que mais acontecem as crises são a infância e após os 60 anos. Inclusive, com o envelhecimento da população, a epilepsia tem sido mais frequente nos idosos", diz Lécio Figueira.
PROTOCOLO C.A.L.M.A: APOIO PARA PRIMEIROS SOCORROS NA CRISE CONVULSIVA
O C.A.L.M.A, um protocolo elaborado pela Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), pode ajudar em casos de urgência, já que consiste em cinco passos fundamentais para apoio em primeiros socorros na crise convulsiva. São eles:
1 – COLOQUE a pessoa de lado, com a cabeça elevada para que não se sufoque com a saliva;
2 – APOIE a cabeça da pessoa para proteção em algo macio (ex: mochilas, blusas, jalecos);
3 – LOCALIZE objetos que possam machucar a pessoa e afaste-os (ex: óculos, correntes, móveis e roupas apertadas);
4 – MONITORE o tempo. Caso a crise dure mais que 5 minutos ou acontecer outra logo após a primeira, ligue para o SAMU (192);
5 – ACOMPANHE a pessoa até ela acordar. Em caso de ferimentos ou caso seja a primeira crise, ligue para o SAMU (192).
“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”