Esclerose múltipla: fadiga, visão dupla, perda de equilíbrio e outros sinais da doença

A maioria dos diagnósticos ocorre dos 20 aos 50 anos, embora a doença possa aparecer em qualquer idade. Fadiga é um dos sintomas mais comuns

Publicado em 27/08/2024 às 17:27

Doença que compromete o sistema nervoso central e atinge principalmente adultos jovens, a esclerose múltipla é caracterizada por surtos e remissões (redução ou desaparecimento dos sintomas). O quadro é caracterizado por uma ampla gama de manifestações que impactam significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Entre eles, fadiga, formigamentos, problemas visuais e motores (perda de força ou do equilíbrio).

O diagnóstico precoce, tratamentos inovadores e acompanhamento multidisciplinar são os pilares para um combate à progressão da esclerose múltipla, que tem uma data dedicada à conscientização: 30 de agosto.

Instituída em 2014 para alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce da doença, a campanha Agosto Laranja tem como missão desmistificar essa condição crônica. Nesse sentido, vale frisar que a esclerose múltipla não é doença mental, não é contagiosa, não é suscetível de prevenção e não tem cura - o tratamento consiste em atenuar os sintomas e desacelerar a progressão da doença.

Estima-se que, no mundo, 3 milhões de pessoas vivam com esclerose múltipla - 40 mil delas no Brasil (sendo 85% mulheres jovens, predominantemente brancas, entre 18 e 30 anos, segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla).

De acordo com o neurologista Marcílio Oliveira, do Hospital Pelópidas Silveira (localizado no bairro do Curado, Zona Oeste do Recife), os sintomas iniciais da esclerose múltipla podem incluir quadros de fraqueza, alteração no equilíbrio, visão dupla e/ou embaçada, além de dificuldades urinárias. A doença também pode levar ainda a espasmos e rigidez muscular.

"A base do diagnóstico da esclerose múltipla é pelo exame clínico neurológico. Também são solicitados exames complementares, como ressonância magnética do cérebro e da medula espinhal. Às vezes, também precisa de avaliação oftalmológica mais específica e exame do líquor, por meio de uma pulsão lombar, para ter um diagnóstico mais preciso", afirma Marcílio Oliveira.

O neurologista salienta que não existe um tratamento milagroso. "O paciente vai precisar passar por uma mudança no estilo de vida, com alimentação mais saudável, sono adequado, correção de deficiência de vitaminas, principalmente D e B12. A hipervitaminose, ou seja, doses elevadas de vitamina, não é indicada."

Ele também sublinha que há medicações de uso contínuo para evitar surtos e a progressão da doença. No momento do surto, também há remédios para o controle rápido da imunidade, o que ajuda a evitar sequelas.

É fundamental o acompanhamento multiprofissional (com profissionais de diferentes especialidades), de acordo com as necessidades de cada caso.

"Não podemos tratar a esclerose múltipla de forma isolada. É necessário um time de profissionais, incluindo fisioterapeutas, psicólogos e neurologistas, que trabalhem juntos para garantir que o paciente tenha a melhor qualidade de vida possível", ressalta o neurologista Edson Issamu, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. 

Doença neurológica autoimune crônica

O neurologista Leonardo de Deus Silva, cordenador da área de Neurologia e Neurocirurgia do Vera Cruz Hospital, em Campinas (São Paulo), explica que a esclerose múltipla é uma doença inflamatória e autoimune.

"As células do sistema imunológico atacam por engano uma proteína do sistema nervoso central chamada mielina, responsável pela agilidade da condução dos impulsos nervosos, que governam as funções motoras, sensitivas e cognitivas do organismo", destaca.

Dessa maneira, segundo Leonardo, quando a doença não é diagnosticada rapidamente e tratada de forma adequada, pode levar a lesões no sistema nervoso central. "Isso compromete diversas funções, que podem variar desde as mais tênues, como formigamento em alguma região do corpo, àquelas mais graves como uma paralisia."

De acordo com o neurologista, as mulheres têm uma predisposição maior, numa proporção de três para cada homem. O diagnóstico, na maior parte dos casos, ocorre entre os 20 e os 40 anos e há uma incidência maior em pessoas brancas, com descendência europeia, embora possa acometer outros grupos.

Os principais sintomas da esclerose múltipla descritos pelo médico são:

  • Distúrbios visuais: visão embaçada, borrada ou dupla, e/ou dor ocular;
  • Alterações sensoriais: formigamento em alguma parte do corpo, dormência, sensação de queimação, e perdas de sensibilidade e força;
  • Problemas de coordenação e equilíbrio: desequilíbrio, tontura, instabilidade ao andar;
  • Problemas cognitivos: dificuldade de concentração e raciocínio e perda de memória.

O importante é que há tratamentos muito eficazes e capazes de mudar o curso da doença, desde que iniciados o quanto antes. Atualmente, pacientes com acompanhamento adequado podem e devem ter uma vida praticamente normal. Portanto, é fundamental que o esclarecimento da população seja incentivado para que os diagnósticos sejam feitos o mais precocemente possível.

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