MSF pede urgência no combate à tuberculose infantil
Falta de alinhamento com as diretrizes da OMS prejudica o combate à tuberculose em crianças, aponta novo relatório do Médicos Sem Fronteiras
Um relatório divulgado nesta terça-feira pela organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) revelou que crianças com tuberculose (TB) estão sendo negligenciadas no combate global à doença.
O estudo, intitulado “TACTIC: Testar, Evitar, Curar TB em Crianças”, analisou as diretrizes políticas de 14 países com alta incidência de tuberculose e apontou que muitos desses países ainda não alinharam suas políticas com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os países analisados foram Afeganistão, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Guiné, Índia, Moçambique, Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Serra Leoa, Somália, República do Sudão do Sul, Uganda.
O MSF fez um apelo urgente para que os países atualizem suas diretrizes nacionais e implementem medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento da tuberculose em crianças. Além disso, a organização pediu aos doadores internacionais que garantam financiamento suficiente para a aplicação dessas políticas.
“A tuberculose é curável, inclusive em crianças, e a OMS já atualizou suas políticas para garantir o melhor tratamento possível”, destacou Stijn Deborggraeve, consultor em diagnósticos da MSF. “Mas os países estão atrasados na adoção dessas medidas. Cada dia de atraso significa mais mortes desnecessárias.”
O relatório da MSF identificou que, dos 14 países analisados, apenas um tem suas políticas totalmente alinhadas com as diretrizes da OMS, enquanto quatro países apresentam menos de 50% de alinhamento. As maiores deficiências estão relacionadas ao diagnóstico, com apenas cinco países adotando diretrizes que permitem o tratamento baseado em sintomas, mesmo sem a confirmação laboratorial da doença.
No Brasil, embora o estudo da MSF não tenha avaliado a situação, as diretrizes de diagnóstico e tratamento da tuberculose foram atualizadas conforme as recomendações da OMS. Contudo, o país enfrenta um alto índice de subdiagnóstico, especialmente entre crianças de até 15 anos. Em 2023, o Brasil registrou 80 mil novos casos de TB, sendo 3.406 em crianças.
De acordo com a OMS, cerca de 1,25 milhão de crianças adoecem de tuberculose a cada ano, mas apenas metade delas é diagnosticada e tratada. Em 2022, a organização atualizou suas orientações, recomendando, entre outras medidas, o uso de algoritmos de decisão que permitem o diagnóstico com base nos sintomas e a adoção de regimes orais mais curtos para o tratamento de crianças.
Na Serra Leoa, MSF já tem adotado as novas diretrizes da OMS, e os resultados são positivos. Joseph Sesey, diretor clínico da organização em Makeni, relatou que, desde a implementação das novas recomendações, houve uma queda significativa no número de mortes entre crianças.
“É inaceitável que medicamentos adequados para crianças ainda não estejam disponíveis em muitos países”, lamentou a Dra. Cathy Hewison, chefe do grupo de trabalho sobre tuberculose da MSF. “Pedimos ação urgente para que as ferramentas e tratamentos disponíveis cheguem a quem mais precisa.”