Samu aprimora detecção precoce do AVC, diz diretor-médico do serviço no Recife

Entre os chamados do Samu, suspeitas de AVC são tratadas de forma prioritária. No Recife, são quase mil atendimentos por essa causa até novembro

Publicado em 28/12/2024 às 18:42 | Atualizado em 28/12/2024 às 19:16
Google News

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de mortalidade no Brasil, com mais de 100 mil óbitos por ano. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) desempenha um papel crucial no atendimento rápido e eficaz às pessoas com AVC, o que contribui para a redução de sequelas e mortes.

Esta entrevista é parte desta reportagem especial: São apenas quatro horas e meia para agir: o tempo define o futuro do paciente com AVC

Nesta entrevista à jornalista Cinthya Leite, titular desta coluna Saúde e Bem-Estar, o diretor-médico do Samu Recife, João Paulo Martins, detalha como o serviço atua nesses casos. Além disso, ele orienta a população sobre a identificação dos sintomas e a importância do acionamento imediato do Samu. 

JC - Sabemos que a rápida identificação de sintomas e o pronto atendimento reduzem risco de complicações graves e morte por acidente vascular cerebral (AVC). Como o método Samu ajuda nesse sentido? 

JOÃO PAULO MARTINS - O atendimento inicial de casos de AVC, através do SAMU 192, possibilita o rápido contato da vítima ou seu acompanhante com o médico, através do número 192. Dessa maneira, será possível fazer uma avaliação inicial por telemedicina e identificar se os sintomas são de aparecimento súbito. O caráter agudo é a principal característica do AVC, a doença que mais incapacita no mundo, além de ser a segunda que mais mata (atrás apenas da doença cardíaca isquêmica). No Brasil, é a primeira causa de mortalidade. E 80% dos pacientes são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

JC - Como orientar a população a reconhecer que se trata de um caso de AVC ao ligar para o Samu?

JOÃO PAULO MARTINS - O aparecimento súbito de perda de força ou sensibilidade, dificuldade de falar, perda visual ou perda de equilíbrio deve sempre levantar a possibilidade de se tratar de um caso de AVC. Neste momento, é iniciado um protocolo de atendimento, que visa levar o paciente o mais rápido possível a um centro que possa diagnosticar e realizar o tratamento de forma adequada.

JC - Quem liga 192 consegue, sem dificuldades, aplicar o protocolo de forma rápida? 

JOÃO PAULO MARTINS - Uma forma fácil de gravar os sinais e sintomas de um AVC é utilizar o método mnemônico de quatro etapas, utilizando a palavra/sigla "Samu". Com a letra "S", deve-se lembrar de pedir para a pessoa com suspeita de AVC dar um sorriso e observar se há desvio de comissura labial (se um dos lados da face vai entortar ou paralisar). Com a letra "A", vem o abraçar. Deve-se pedir ao paciente para levantar os braços e observar se algum deles perde força e cai. Em seguida, a letra "M" desponta para pedir ao paciente para repetir uma frase conhecida de uma música e observar se há dificuldade na fala. Por sim, a letra "U" remete à urgência. Caso haja algum dos sintomas anteriores com a aplicação do método mnemônico de quatro etapas, o paciente precisa ser removido com urgência ao hospital, e uma das formas disso acontecer é através do Samu 192.

SAMU RECIFE/DIVULGAÇÃO
"As ambulâncias empregadas no atendimento às vítimas de AVC são UTIs móveis, tripuladas por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um condutor socorrista", ressalta João Paulo - SAMU RECIFE/DIVULGAÇÃO

JC - Além dos atendimentos a pessoas com suspeita de AVC, o Samu tem várias outras demandas de atendimento. No caso do AVC, há prioridade para atender o chamado?

JOÃO PAULO MARTINS - Sim, os casos em que existe a suspeita de AVC são tratados de forma prioritária. Quanto menor for o intervalo de tempo entre o início dos sintomas e a realização do tratamento, menor é a chance do desenvolvimento de sequelas permanentes. O ideal é que esse tratamento aconteça em um intervalo de até 4,5 horas. Por isso, é importante que os familiares dos pacientes registrem o horário de início dos sintomas e façam a ligação precoce ao 192.

JC - Qual o volume de atendimentos por essa causa (AVC)?

JOÃO PAULO MARTINS - Na cidade do Recife, são realizados cerca de 60 atendimentos por AVC mensalmente. Além disso, há aproximadamente 30 transferências entre unidades, que são aqueles casos em que o Samu transfere um paciente de uma unidade de saúde de menor complexidade (policlínicas e Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h) para outra com capacidade de diagnóstico e tratamento. Assim, temos um total de 983 atendimentos nos primeiros 11 meses de 2024.

JC - Para onde, em rede pública, esse paciente é geralmente encaminhado quando socorrido pelo Samu em Pernambuco?

JOÃO PAULO MARTINS - Os hospitais de referência para tratamento do AVC, na cidade do Recife, são o Hospital da Restauração e o Hospital Pelópidas Silveira. Além disso, existem outros dois hospitais no Estado habilitados para esse tratamento, que são o Hospital Eduardo Campos (Serra Talhada, no Sertão) e o Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina (também no Sertão).

JC - A ambulância e as equipes, em caso de AVC, são especiais?

JOÃO PAULO MARTINS - As ambulâncias empregadas no atendimento às vítimas de AVC são UTIs móveis, tripuladas por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um condutor socorrista. São equipadas com monitor cardíaco, respirador mecânico e bomba de infusão. Ou seja, todos os equipamentos necessários para a estabilização inicial e transporte para uma unidade de saúde adequada.

Tags

Autor