Samu aprimora detecção precoce do AVC, diz diretor-médico do serviço no Recife
Entre os chamados do Samu, suspeitas de AVC são tratadas de forma prioritária. No Recife, são quase mil atendimentos por essa causa até novembro
O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de mortalidade no Brasil, com mais de 100 mil óbitos por ano. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) desempenha um papel crucial no atendimento rápido e eficaz às pessoas com AVC, o que contribui para a redução de sequelas e mortes.
Esta entrevista é parte desta reportagem especial: São apenas quatro horas e meia para agir: o tempo define o futuro do paciente com AVC
Nesta entrevista à jornalista Cinthya Leite, titular desta coluna Saúde e Bem-Estar, o diretor-médico do Samu Recife, João Paulo Martins, detalha como o serviço atua nesses casos. Além disso, ele orienta a população sobre a identificação dos sintomas e a importância do acionamento imediato do Samu.
JC - Sabemos que a rápida identificação de sintomas e o pronto atendimento reduzem risco de complicações graves e morte por acidente vascular cerebral (AVC). Como o método Samu ajuda nesse sentido?
JOÃO PAULO MARTINS - O atendimento inicial de casos de AVC, através do SAMU 192, possibilita o rápido contato da vítima ou seu acompanhante com o médico, através do número 192. Dessa maneira, será possível fazer uma avaliação inicial por telemedicina e identificar se os sintomas são de aparecimento súbito. O caráter agudo é a principal característica do AVC, a doença que mais incapacita no mundo, além de ser a segunda que mais mata (atrás apenas da doença cardíaca isquêmica). No Brasil, é a primeira causa de mortalidade. E 80% dos pacientes são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
JC - Como orientar a população a reconhecer que se trata de um caso de AVC ao ligar para o Samu?
JOÃO PAULO MARTINS - O aparecimento súbito de perda de força ou sensibilidade, dificuldade de falar, perda visual ou perda de equilíbrio deve sempre levantar a possibilidade de se tratar de um caso de AVC. Neste momento, é iniciado um protocolo de atendimento, que visa levar o paciente o mais rápido possível a um centro que possa diagnosticar e realizar o tratamento de forma adequada.
JC - Quem liga 192 consegue, sem dificuldades, aplicar o protocolo de forma rápida?
JOÃO PAULO MARTINS - Uma forma fácil de gravar os sinais e sintomas de um AVC é utilizar o método mnemônico de quatro etapas, utilizando a palavra/sigla "Samu". Com a letra "S", deve-se lembrar de pedir para a pessoa com suspeita de AVC dar um sorriso e observar se há desvio de comissura labial (se um dos lados da face vai entortar ou paralisar). Com a letra "A", vem o abraçar. Deve-se pedir ao paciente para levantar os braços e observar se algum deles perde força e cai. Em seguida, a letra "M" desponta para pedir ao paciente para repetir uma frase conhecida de uma música e observar se há dificuldade na fala. Por sim, a letra "U" remete à urgência. Caso haja algum dos sintomas anteriores com a aplicação do método mnemônico de quatro etapas, o paciente precisa ser removido com urgência ao hospital, e uma das formas disso acontecer é através do Samu 192.
JC - Além dos atendimentos a pessoas com suspeita de AVC, o Samu tem várias outras demandas de atendimento. No caso do AVC, há prioridade para atender o chamado?
JOÃO PAULO MARTINS - Sim, os casos em que existe a suspeita de AVC são tratados de forma prioritária. Quanto menor for o intervalo de tempo entre o início dos sintomas e a realização do tratamento, menor é a chance do desenvolvimento de sequelas permanentes. O ideal é que esse tratamento aconteça em um intervalo de até 4,5 horas. Por isso, é importante que os familiares dos pacientes registrem o horário de início dos sintomas e façam a ligação precoce ao 192.
JC - Qual o volume de atendimentos por essa causa (AVC)?
JOÃO PAULO MARTINS - Na cidade do Recife, são realizados cerca de 60 atendimentos por AVC mensalmente. Além disso, há aproximadamente 30 transferências entre unidades, que são aqueles casos em que o Samu transfere um paciente de uma unidade de saúde de menor complexidade (policlínicas e Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h) para outra com capacidade de diagnóstico e tratamento. Assim, temos um total de 983 atendimentos nos primeiros 11 meses de 2024.
JC - Para onde, em rede pública, esse paciente é geralmente encaminhado quando socorrido pelo Samu em Pernambuco?
JOÃO PAULO MARTINS - Os hospitais de referência para tratamento do AVC, na cidade do Recife, são o Hospital da Restauração e o Hospital Pelópidas Silveira. Além disso, existem outros dois hospitais no Estado habilitados para esse tratamento, que são o Hospital Eduardo Campos (Serra Talhada, no Sertão) e o Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina (também no Sertão).
JC - A ambulância e as equipes, em caso de AVC, são especiais?
JOÃO PAULO MARTINS - As ambulâncias empregadas no atendimento às vítimas de AVC são UTIs móveis, tripuladas por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um condutor socorrista. São equipadas com monitor cardíaco, respirador mecânico e bomba de infusão. Ou seja, todos os equipamentos necessários para a estabilização inicial e transporte para uma unidade de saúde adequada.