Além do corpo: a importância da saúde mental no tratamento oncológico

O suporte emocional e psicológico no enfrentamento do câncer fortalece a adesão aos tratamentos e melhora os resultados terapêuticos

Publicado em 09/01/2025 às 13:37
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O diagnóstico de câncer transforma a vida de quem o recebe, trazendo desafios que vão além dos impactos físicos. Ansiedade, depressão e medo do futuro tornam-se companheiros frequentes, dificultando o enfrentamento da doença.

Reconhecer a importância da saúde mental e espiritual nessa jornada não é apenas uma questão de bem-estar, mas uma estratégia essencial para melhorar a adesão ao tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.

Um estudo publicado na revista científica Frontiers indica que cerca de 25% dos pacientes oncológicos enfrentam depressão e até 45% relatam níveis elevados de ansiedade.

Essas condições afetam não apenas o estado emocional, mas também interferem na continuidade e eficácia das terapias.

"A saúde mental não é um elemento acessório; ela é uma parte essencial do cuidado integral do paciente oncológico," ressalta a psicóloga Cristiane Bergerot, líder nacional da especialidade equipe multidisciplinar da Oncoclínicas.

O suporte psicológico permite que o paciente desenvolva estratégias de enfrentamento, fortaleça a comunicação com a equipe médica e encontre maior resiliência durante o processo.

Psicoterapia durante o tratamento oncológico

A psicoterapia é um recurso fundamental para os pacientes com câncer, ajudando a gerenciar emoções, reduzir sintomas de estresse e promover bem-estar. No entanto, no Brasil, sua oferta enfrenta desafios significativos.

O Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental destaca que apenas 5,1% dos brasileiros recebem acompanhamento psicoterapêutico regular, enquanto 16,6% fazem uso de medicamentos psiquiátricos sem apoio complementar, uma prática que pode limitar a eficácia do tratamento.

Além disso, a integração entre saúde mental e oncologia ainda é limitada, com escassez de profissionais especializados e falta de coordenação entre diferentes áreas da saúde.

Essa lacuna impede que os pacientes recebam um cuidado multidisciplinar que contemple suas necessidades emocionais e psicológicas.

A superação desses entraves passa pela conscientização sobre a relevância da psicoterapia, pelo fortalecimento de políticas públicas que ampliem o acesso a serviços de saúde mental e pela formação de profissionais capacitados a oferecer um atendimento mais humanizado.

“Precisamos desmistificar questões como essas. O câncer não afeta apenas o corpo; ele impacta o indivíduo de forma holística, e a abordagem terapêutica deve refletir essa complexidade”, acrescenta Bergerot.

Espiritualidade pode complementar o cuidado integral

A espiritualidade também desempenha um papel importante no enfrentamento do câncer, ajudando os pacientes a ressignificar sua experiência e encontrar equilíbrio em meio às adversidades.

"Ela permite ao paciente encontrar forças internas para lidar com a jornada, promovendo bem-estar e serenidade em meio às adversidades", destaca a médica Clarissa Mathias, oncologista da Oncoclínicas.

Diferente da religiosidade, que está ligada a práticas específicas de uma fé, a espiritualidade pode se manifestar de formas variadas, como meditação, contato com a natureza ou reflexões pessoais.

Práticas espirituais têm mostrado benefícios na redução do estresse, no fortalecimento emocional e na promoção de uma visão mais ampla da saúde.

No entanto, sua integração ao cuidado oncológico ainda enfrenta barreiras, como a falta de treinamento de profissionais e o receio de impor crenças pessoais aos pacientes.

Modelos de atendimento integrativo que unam suporte psicológico e espiritual têm obtido resultados promissores, demonstrando que uma abordagem holística é essencial para atender às múltiplas dimensões do ser humano.

Benefícios do acompanhamento psicológico e espiritual no tratamento

  • Adesão ao tratamento: pacientes emocionalmente amparados seguem os protocolos médicos com maior consistência;
  • Redução do estresse: técnicas como mindfulness e terapia cognitivo-comportamental equilibram emoções;
  • Fortalecimento da rede de apoio: psicólogos orientam familiares a oferecer suporte mais eficaz;
  • Melhoria da qualidade de vida: a redução de sintomas como ansiedade e depressão proporciona maior bem-estar;
  • Resignificação da experiência: a espiritualidade ajuda a encontrar propósito e força interior.

Uma abordagem holística para melhores resultados

Cuidar do paciente oncológico vai além do tratamento físico. Envolve enxergar o indivíduo em sua totalidade, compreendendo suas necessidades emocionais, psicológicas e espirituais.

Adotar uma visão humanizada, que una corpo, mente e espírito, não apenas melhora os resultados terapêuticos, mas também promove dignidade e qualidade de vida aos pacientes.

"A verdadeira luta contra o câncer vai além da doença; é uma jornada pela dignidade, pelo equilíbrio e pelo bem-estar do paciente. Precisamos de uma medicina que enxerga o ser humano em sua complexidade, unindo corpo, mente e espírito para alcançar melhores resultados terapêuticos," conclui Cristiane Bergerot.

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