Compulsão por clareamento dental tem nome: entenda a bleachorexia e os seus riscos

Comportamento obsessivo em clarear os dentes é semelhante ao transtorno dismórfico corporal, caracterizado por preocupação em defeito imaginário

Publicado em 03/02/2025 às 15:27
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A pessoa sente que os seus dentes nem sempre são suficientemente brancos e continua a passar por procedimentos e a usar produtos para obter um "sorriso perfeito". Esse é um comportamento chamado de bleachorexia e que tem se tornado frequente. Especialistas alertam, então, para as consequências desse vício em clareamento dental, um distúrbio comportamental semelhante à anorexia e que pode exigir acompanhamento médico. 

Nos consultórios odontológicos, o clareamento dental tem despontado como um dos procedimentos mais procurados. Um dado da Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar (Abimo) mostra que cerca de 12 milhões de brasileiros frequentam o cirurgião-dentista para conquistar a autoestima no sorriso.

E segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), a frequência de realização de procedimentos de clareamento dental teve um aumento de 30% entre aqueles que mais cresciam no setor. No aspecto econômico, a empresa de pesquisa Technavio apontou no cenário mundial uma movimentação de milhões de dólares no mercado global de clareamento entre 2021 e 2024.

Em meio a esse cenário, tornaram-se comuns os casos de pessoas com comportamento obsessivo em clarear os dentes (bleachorexia). 

O cirurgião-dentista Sérgio Brossi Botta, presidente da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), explica que os sintomas da compulsão pelo clareamento dental são semelhantes aos do transtorno dismórfico corporal, que é caracterizado por uma preocupação em um defeito imaginário na aparência.

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Exagero no clareamento dental pode causar erosão dos dentes, sensibilidade dental, irritações na gengiva e na mucosa oral - Wavebreak Media LTD/Freepik

De acordo com o Crosp, pacientes com transtorno dismórfico corporal tendem a ter nove vezes mais chances de considerar fazer clareamento dental, em comparação com pessoas sem o transtorno. Além disso, as pessoas com essa condição de saúde mental, que leva a uma preocupação excessiva com a aparência e o suposto defeito no corpo, apresentam cinco vezes mais probabilidade de estarem insatisfeitos com seu tratamento odontológico mais recente, aponta pesquisa da The British Dental Journal

"Dentistas devem se comunicar abertamente e ouvir atentamente as preocupações e necessidades de seus pacientes. Uma avaliação completa do histórico odontológico e médico, discussão de expectativas e motivações para clareamento dental e avaliação de tendências dismórficas corporais podem fornecer insights valiosos sobre possíveis comportamentos viciantes", esclarece Sérgio Brossi Botta. 

O que acontece se fizer clareamento demais?

O cirurgião-dentista Sérgio Brossi Botta alerta que o exagero no clareamento dental pode causar erosão dos dentes, sensibilidade dental, irritações na gengiva e na mucosa oral.

O uso excessivo de peróxido de hidrogênio pode causar quebra de proteínas da dentina, o que provoca danos irreversíveis à estrutura dental.

O papel do cirurgião-dentista é importante para diagnosticar o desvio de comportamento do paciente e orientá-lo sobre os riscos à saúde bucal que o vício em clareamento dental causa.

Ainda de acordo com Sérgio Brossi Botta, o clareamento chega a um ponto em que há apenas estruturas incolores hidrofílicas, chamadas de ponto de saturação, considerado o ponto limite de clareamento do paciente.

Dessa maneira, não ocorrerá maior branqueamento. Para qualquer estratégia de clareamento (clareamento caseiro, clareamento de consultório ou técnica mista), o reaparecimento de cor é comum, em decorrência de questões fisiológicas.

"A atuação multiprofissional entre dentistas, psiquiatras e equipes multidisciplinares é importante no tratamento da bleachorexia. Os profissionais podem trabalhar juntos para abordar os fatores psicológicos e emocionais associados ao comportamento viciante, fornecer suporte e desenvolver um plano de tratamento personalizado", esclarece o cirurgião-dentista. 

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