VIOLÊNCIA NO RECIFE

Batalhão onde PM atirou em colegas tem número alto de licenças por doenças mentais

Inspeção feita por promotores de Justiça verificou a situação do 19° Batalhão da PM, no Recife

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 20/12/2022 às 21:24 | Atualizado em 21/12/2022 às 11:16
REPRODUÇÃO/TV JORNAL
O soldado Guilherme Barros matou a companheira, atirou em quatro colegas de farda e depois tirou a própria vida, na manhã de ontem - FOTO: REPRODUÇÃO/TV JORNAL

O 19º Batalhão da Polícia Militar de Pernambuco, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, onde o soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, atirou em colegas de farda e depois se matou, nesta terça-feira (20), chamou a atenção do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) durante inspeção realizada há exatamente um ano. Lá, Promotores de Justiça da Capital identificaram que um número alto de militares havia se afastado das atividades por problemas de saúde mental. 

A promotora Delane Mendonça, que atua como coordenadora de Apoio Operacional de Defesa Social e Controle Externo da Atividade Policial do MPPE, esteve na visita ao batalhão. E ficou impressionada com a quantidade de policiais que estavam de licença-médica. 

"Estudos indicam que houve um recrudescimento de problemas com a  saúde mental por causa da pandemia da covid-19. E a situação foi mais complicada para o policial, que fica exposto ao risco o tempo todo. Ele faz o policiamento ostensivo, enfrentando a criminalidade. O nível de estresse é muito alto", pontuou a promotora.

"A arma para um cidadão comum já é um risco, imagine para um policial com adoecimento mental estar com um armamento", completou. 

"É preciso questionar quais estratégias estão sendo adotadas para haver menos adoecimentos. Que política interna é adotada pelos gestores para consolidar a saúde mental dos PMs. Isso tem que ser uma preocupação de todos. Com o aumento da pobreza, cresce a violência e a sobrecarga de trabalho para esses policiais", disse a promotora.

Antes de tirar a própria vida, o soldado Guilherme Barros atirou em quatro militares. O tenente Wagner Souza morreu na hora. A major Aline Maria e o cabo Paulo Rebelo foram encaminhados ao Hospital Português. A primeira não resistiu aos ferimentos e faleceu. O cabo, ferido no ombro, encontra-se internado para avaliações médicas.

Já o sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, foi atendido no Hospital da Restauração e já recebeu alta. 

Após tomar conhecimento da tragédia no 19° Batalhão, Delane Mendonça encaminhou ofício ao Comando Geral da Polícia Militar solicitando informações sobre o número atual de militares que estão afastados do trabalho por problemas mentais. 

AGENTES DE SEGURANÇA MORTOS NO GRANDE RECIFE

Com as três mortes de policiais militares registradas nesta terça-feira, a Região Metropolitana do Recife soma 104 agentes de segurança baleados nos últimos quatro anos, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. Cinquenta e um desses agentes morreram e 53 ficaram feridos. 

Para Cecília Olliveira, diretora executiva do instituto, o ataque ao 19º Batalhão é reflexo da saúde mental dos agentes de segurança. “Os policiais militares são a categoria mais afetada pela violência armada e mais expostas aos traumas. Em quatro anos, representaram 68% dos agentes de segurança baleados. É preciso investir para garantir que estes casos não se tornem rotina”, disse. 

A Coluna Segurança entrou em contato com a Secretaria de Defesa Social e com a Polícia Militar para pedir informações sobre como é feito o acompanhamento desses policiais afastados por questões de saúde, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

“O Fogo Cruzado monitora a violência armada no Grande Recife há quatro anos e por isso conseguimos produzir esse dado que é alarmante. Sem informação de qualidade não há política pública eficaz. O dado de mais de 100 agentes baleados assusta, mas precisamos ir além. Pernambuco carece de um plano de segurança que tenha foco em garantir a vida, sobretudo de seus agentes de segurança, como podemos ver”, avaliou Cecilia Olliveira. 

Entre os 51 agentes de segurança mortos, seis estavam em serviço, 25 estavam de folga e 20 eram aposentados ou exonerados. Dos 53 feridos,19 estavam em serviço, 28 estavam fora de serviço, cinco eram aposentados ou exonerados e um não teve o status de serviço revelado.

Em nota pública, o Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), entidade de direitos humanos, afirmou que episódios como o que ocorreu nesta terça-feira "revelam a necessidade de adoção de medidas práticas voltadas para a promoção da saúde mental, bem como a oferta de atenção psicossocial e de saúde no trabalho aos profissionais de segurança pública". 

FEMINICÍDIO ANTES DE ATAQUE A BATALHÃO DA PM

IMAGEM AUTORIZADA PELA FAMÍLIA
Cláudia Gleice da Silva foi morta a tiros na casa da mãe, no Cabo de Santo Agostinho. Ela estava grávida de três meses do policial - IMAGEM AUTORIZADA PELA FAMÍLIA

Antes de atirar em colegas do 19° Batalhão e se matar, o soldado Guilherme Barros matou a tiros a companheira, que estava grávida, no município do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife.

Segundo as investigações, ele assassinou Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos, dentro da casa da mãe dela. Ela chegou a ser socorrida e encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Cabo, onde faleceu. Ela teria sido atingida por sete tiros. Um parente da vítima contou que o policial não aceitava o fim do relacionamento. 

FEMINICÍDIOS EM PERNAMBUCO

No último mês de novembro, três casos de feminicídio foram registrados em Pernambuco. Foram duas mortes a menos do que no mesmo mês de 2021. No total de janeiro a novembro de 2022, foram 63 mortes violentas motivadas por questões de gênero contra mulheres. Já no mesmo período do ano passado, a polícia somou 81 registros. A queda foi de 22,2%.

COMO PEDIR AJUDA

Para denunciar violência doméstica ou obter informações sobre a rede de proteção, o número da Ouvidoria Estadual da Mulher é 0800-281-8187. Em situação de emergência policial, a orientação é ligar para o 190.

 

 

 

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