Por unanimidade, os desembargadores da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) decidiram reduzir as penas de três dos seis homens condenados por envolvimento na explosão e roubo milionário da sede da empresa Brinks Segurança e Transporte de Valores, no bairro da Estância, Zona Oeste do Recife. O crime classificado como "cinematográfico" ocorreu em 21 de fevereiro de 2017 e teve repercussão nacional.
A coluna Segurança teve acesso à decisão, que foi publicada nessa quinta-feira (10). Nela, o desembargador Marco Antônio Cabral Maggi, relator do caso, destacou que "ao contrário do que alegam as defesas, existem provas suficientes nos autos de que os réus cometeram os crimes de roubo circunstanciado e organização criminosa descritos na denúncia".
O relator pontuou, no entanto, que "as valorações negativas da personalidade e conduta social dos acusados Willames Aguiar Silva, Júlio César Oliveira de Andrade e Edison Fabrício dos Santos, assim como dos motivos dos crimes, não restaram devidamente fundamentadas na sentença. A alegação de que os réus possuem 'forte inclinação para (a) prática de crimes' é genérica, sem base concreta, na medida em que eles são primários".
Willames Aguiar Silva (apontado como o líder do grupo e até então guarda de trânsito de Olinda) e Edison Fabrício dos Santos, condenados em primeira instância a 20 anos de prisão e 60 dias-multa, tiveram as penas reduzidas para 18 anos e 50 dias-multa.
Já Júlio César Oliveira de Andrade teve a pena reduzida de 18 anos e oito meses para 15 anos e um mês de prisão e 50 dias-multa.
Os outros três condenados não tiveram as penas alteradas. Bruno Rafael Félix da Silva cumpre 18 anos e três meses de prisão, além de 60 dias-multa; Gleison Silva da Hora cumpre 16 anos e oito meses de prisão, além de 60 dias-multa; Rodrigo Anderson Gomes de Souza cumpre 13 anos e seis meses de prisão, além de 60 dias-multa.
Na decisão colegiada do TJPE, os desembargadores também decidiram pela manutenção das prisões dos seis homens.
Na primeira instância, em 2019, o grupo foi condenado pelos crimes de roubo mediante grave violência, com concurso de pessoas e emprego de armas de fogo, e por organização criminosa.
RELEMBRE O ASSALTO À BRINKS
Segundo a denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), os criminosos fortemente armados com fuzis, metralhadoras, pistolas e explosivos se dirigiram à sede Brinks. Eles dispararam uma sequência de tiros em direção à guarita de segurança da empresa, onde estava um dos vigilantes, que tentou se esconder em um carro forte. Em seguida, houve a explosão do imóvel.
"Divididos em grupos com funções específicas, um deles destruiu os muros laterais da empresa, mediante uso de explosivos, enquanto outros integrantes permaneciam do lado de fora dando cobertura à ação. Outro grupo se dirigiu a um posto de gasolina ao lado da empresa, onde renderam quem lá estava para explodir o muro que separa as empresas, além de atirarem nas câmaras do posto", detalhou a sentença, em primeira instância.
Houve cinco pontos de bloqueios e ao menos sete carros foram queimados para dificultar o trabalho da polícia. Antes da fuga do grupo, houve uma intensa troca de tiros com policiais militares.
Na madrugada do fato, nenhum suspeito do crime chegou a ser detido. Em depoimento à Justiça, o delegado João Gustado Godoy confirmou que R$ 12 milhões foram roubados. Na época do assalto, falava-se que a quantia podia chegar a R$ 60 milhões, o que foi negado pela polícia.
Na sentença, destacou-se ainda que o grupo demonstrou ser "extremamente perigoso e com ramificações em outras unidades da Federação, vez que as testemunhas mencionam que alguns dos criminosos possuem sotaques típicos do sudeste do país".
ASSALTO FOI PLANEJADO DURANTE MESES
A investigação concluiu que o grupo passou meses planejando o crime. Em janeiro daquele ano, um dos acusados alugou um galpão, no bairro da Estância, por R$ 12 mil mensais. Ao proprietário, o acusado disse que precisava do imóvel para montar um negócio de venda de água sanitária. No mês seguinte, outro acusado alugou uma casa de veraneio na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul do Estado, por R$ 9 mil ao mês.
A denúncia do MPPE destacou que o mesmo grupo, de alcance nacional, tem "amplo histórico de prática de crimes de roubo, notadamente roubos a bancos". Dois dos acusados que foram condenados ainda teriam participado de um roubo a caixas eletrônicos. Um deles, em um supermercado de Casa Forte.