DENÚNCIA

VÍDEO: Em dia de morte de policial, Corregedoria da SDS faz festa de Carnaval em clube no Recife

De acordo com o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), o expediente do órgão foi interrompido para o evento ocorrido na tarde da sexta-feira (2)

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Raphael Guerra

Publicado em 03/02/2024 às 9:26 | Atualizado em 03/02/2024 às 10:26
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Faltou, no mínimo, empatia. Na tarde dessa sexta-feira (2), enquanto o corpo de um policial civil - morto em um assalto - era velado, servidores da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) encerraram o expediente mais cedo e foram participar de uma festa de Carnaval.

A denúncia foi registrada em vídeo por membros do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE). Segundo Áureo Cisneiros, presidente da entidade, as portas do órgão foram fechadas pouco após o meio-dia. 

"Olha aqui, fechado. O povo na confraternização... Corregedoria, o órgão que fiscaliza a atuação (dos policiais) e dia de sexta não dá expediente...", disse Áureo, em um dos vídeos compartilhados pelo Sinpol-PE, ao lado do prédio do órgão.

Em outro vídeo, Áureo mostra imagens da festa, que aconteceu no Clube dos Oficiais da Polícia Militar, no Recife. "Estamos aqui, quatro da tarde, todo mundo trabalhando, e a Corregedoria tá aqui desde o meio-dia... (...) Horário de expediente, policial foi assassinado... Era para dar exemplo...", citou. 

Nas imagens, é possível observar um grupo de homens e mulheres usando abadás e cantando músicas de Carnaval. 

Segundo o Sinpol-PE, o evento foi intitulado "CORREGEFOLIA ANO I". 

"O evento da Corregedoria ocorreu em pleno expediente e em meio à maior crise de segurança da história de Pernambuco. A corregedoria, que deveria dar o exemplo de correção no serviço público. Infelizmente, a Corregedoria Geral da SDS dá um péssimo exemplo", afirmou a entidade. 

O QUE DIZ A CORREGEDORIA?

Em nota oficial, a Corregedoria Geral da SDS argumentou que a confraternização contou com a participação de apenas uma parte do seu efetivo, "o qual, além de custear integralmente o evento, utilizou de compensação de horário extraordinário para viabilizar sua presença".

Disse ainda que os trabalhos administrativos, operacionais e de inteligência desenvolvidos pelo órgão "não tiveram qualquer prejuízo e continuaram durante todo o dia e de forma ininterrupta".

"Cabe aqui apenas lamentar que uma entidade sindical, em total descompasso com a realidade, e se valendo de interesses políticos e pessoais, se utilize da trágica morte de um policial para tentar macular a imagem de um órgão correcional que possui total confiança da população pelo seu trabalho de excelência, divulgando em mídias sociais fatos dissociados da verdade", afirmou a nota da SDS. 

"A Corregedoria Geral da SDS nunca se omitiu em seu dever institucional previsto em lei de apurar sistematicamente qualquer desvio de conduta de todos os servidores subordinados à SDS, incluindo os lá lotados. Para além disso, importante ressaltar o compromisso com a verdade, transparência e justiça, afastando de pronto quaisquer ilações que visam degradar a imagem do órgão", pontuou o texto.

A nota informou, ainda, que qualquer pessoa pode procurar a Corregedoria de forma presencial, 24h todos os dias, na Avenida Conde da Boa Vista, nº 428, ou por email: [email protected]. Denúncias também podem ser feitas pelo telefone 3184-2772.

POLICIAL FOI VÍTIMA DE LATROCÍNIO

Na noite da quinta-feira (1º), o comissário da Polícia Civil Natanael Nazareno Neto, de 56 anos, pedalava com amigos, no Memorial Arcoverde, no bairro de Salgadinho, em Olinda, quando foi surpreendido por assaltantes armados. Ele teria reagido e acabou atingido por um tiro. 

Natanael foi socorrido e encaminhado ao Hospital da Restauração, na área central do Recife, onde faleceu na madrugada da sexta-feira. 

Horas depois, dois homens suspeitos de envolvimento no latrocínio entraram em confronto com a polícia. Um deles foi preso em flagrante e o outro, atingido por um tiro, foi encaminhado para uma unidade hospitalar, onde faleceu. Na ação, uma arma foi apreendida com os suspeitos.

O velório do corpo do policial civil aconteceu no Cemitério Parque das Flores. 

CORREGEDORIA INVESTIGA PRESIDENTE DO SINPOL-PE

Coincidentemente, a festa dos integrantes da Corregedoria da SDS aconteceu um dia após a publicação de uma portaria determinando a instauração de um processo administrativo disciplinar especial (PADE) em desfavor de Áureo Cisneiros e do presidente do Sindicato dos Médicos Legistas de Pernambuco (Sismepe), Carlos Medeiros.

A portaria foi assinada pela corregedora geral, Mariana Cavalcanti de Souza. De acordo com a SDS, a investigação diz respeito a um episódio ocorrido em 24 de janeiro, quando policiais do Comando de Operações e Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, teriam sido impedidos por manifestantes do Sinpol-PE de acessar o Instituto de Medicina Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, onde 18 presos passariam por exames. 

"A equipe do grupo especial precisou acionar o diretor do Core para deslocar-se até o local a fim de negociar, pois os presos deveriam estar até 10h nas audiências de custódia de Jaboatão, Recife e Olinda. Após tratativas com os representantes sindicais, os presos foram submetidos ao exame. A direção do Core também fez gestão junto aos juízes da audiência de custódia, que aceitaram receber excepcionalmente os presos com atraso em Olinda e Jaboatão", pontuou a SDS.

Ainda de acordo com a secretaria, os presidentes das entidades de classe teriam infringido a lei nº 6.425, do Estatuto dos Policiais Civis de Pernambuco, ao "provocar a paralisação, total ou parcial, do serviço policial, ou dela participar" e ao "trabalhar incorretamente, de modo intencional, com o fim de prejudicar o andamento do serviço, ou negligenciar no cumprimento dos seus deveres". 

"A Corregedoria da SDS irá analisar as provas em processo disciplinar com total imparcialidade, isenção e observância aos princípios constitucionais da legalidade, contraditório e ampla defesa", argumentou a pasta. 

SINPOL-PE REBATE ACUSAÇÃO

Por meio de nota, o Sinpol-PE se pronunciou sobre instauração do PADE.  

"Este ato descabido do governo do Estado ocorre durante nossa campanha salarial e coincidentemente um dia após o democrático protesto dos policiais civis, em Caruaru, pedindo por mais segurança pública, melhores condições de trabalho e valorização salarial. Tal atitude do governo representa uma postura antidemocrática, autoritária e de clara perseguição a atividade sindical", afirmou um trecho.

"Essa perseguição, já experimentada anteriormente, se configura como uma tática do governo para tentar desmobilizar a categoria e atacar frontalmente a luta sindical. É lamentável que, ao invés de dialogar e buscar soluções conjuntas, o governo escolha o caminho do abuso e repressão que prejudicam não apenas os profissionais da segurança, mas toda a população pernambucana que almeja melhorias na segurança pública."

 

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