Mirabilandia: quatro são indiciados por homicídio de professora que caiu de brinquedo
Investigação indicou que houve negligência na manutenção do brinquedo. Acidente, que resultou na morte de Dávine Muniz Cordeiro, ocorreu em setembro de 2023
Após quase seis meses de investigação, a Polícia Civil de Pernambuco concluiu o inquérito que apurou a morte da professora de inglês Dávine Muniz Cordeiro, de 34 anos, arremessada de um brinquedo no Parque Mirabilandia, em Olinda, no Grande Recife. Quatro pessoas foram indiciadas por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
Para os investigadores, ficou claro que houve negligência na manutenção do brinquedo Wave Swinger, que funcionava desde 1998. O brinquedo ficava a uma distância de 1,5 mil metros do mar, e, segundo análise técnica, a maresia intensificava a corrosão das correntes.
"Os elos estavam fraturados, corroídos. E isso pode ser visto a olho nu. A perícia indicou que havia danos nos elos de todas as cadeiras do brinquedo", explicou a delegada Euricelia Nogueira, em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (19).
"Além disso, cinco dias após o acidente os peritos do Instituto de Criminalística solicitaram o acesso aos relatórios de manutenção do brinquedo, mas, como consta no laudo, esses documentos nunca foram entregues pelo parque", completou Euricelia.
O laudo pericial contou com apoio do Instituto Nacional de Tecnologia em União e Revestimento de Materiais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "Em 15 anos como delegada, foi um dos laudos mais completos que já vi", disse a delegada.
"O parque chegou a apresentar uma nota fiscal, de 2020, mostrando que adquiriu 360 metros de correntes. Mas essa quantidade não era suficiente nem para metade das cadeiras do brinquedo. Além disso, não há comprovação de que esses materiais, de fato, foram usados nele", ressaltou Euricelia.
INDICIAMENTOS
Um dos indiciados criminalmente é administrador do parque e filho de um sócio. "Ele teria obrigação de fazer as manutenções ou contratar pessoas com qualidade técnica para fazê-las", pontuou a delegada.
Além dele, foram indiciados o engenheiro de operações responsável pelas vistorias técnicas (dez meses antes do acidente, ele emitiu um termo de responsabilidade técnica), o gerente geral de manutenção (que trabalha no parque há 21 anos) e o profissional responsável pela vistoria das correntes.
Os nomes deles não foram divulgados pela Polícia Civil em respeito à Lei de Abuso de Autoridade. Não foram solicitadas as prisões preventivas dos suspeitos, visto que a pena máxima, em caso de condenação, é de até três anos de detenção.
Agora, com o inquérito concluído, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) vai avaliar se denuncia os suspeitos à Justiça ou se solicita diligências complementares.
ACIDENTE E INTERDIÇÃO
O acidente aconteceu na tarde de 22 de setembro de 2023. Dávine passou por dez cirurgias, permaneceu internada na UTI e, em 1º de fevereiro deste ano, faleceu.
O parque chegou a passar 40 dias interditado, por determinação do Procon Pernambuco, e só voltou a reabrir as portas após seguir dez recomendações do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE). O Wave Swinger foi desmontado e outro brinquedo foi colocado no espaço.
O QUE DIZ O MIRABILANDIA?
Por meio de nota à imprensa, o Parque Mirabilandia se pronunciou sobre o inquérito. No texto, afirmou que "reitera a seriedade com que tratou a manutenção dos seus equipamentos ao longo de mais de duas décadas, desde o início da sua operação em Pernambuco, sem qualquer ocorrência significativa até então".
"Infelizmente, uma conjunção de fatores levou ao acidente de setembro último, não sendo possível apontar apenas uma causa objetiva ou pessoas como responsáveis diretos", pontuou.
A nota declarou ainda que a direção "lamenta a perda de Dávine Muniz e reforça que desde o dia do ocorrido prestou assistência à família, através de seus representantes indicados, apesar de contestações e informações controversas".
Por fim, afirmou que "antes mesmo da transferência de Dávine de hospital houve um acordo entre as partes, homologado pela Justiça e contendo cláusula de confidencialidade. Portanto, não há qualquer disputa judicial em curso, considerando que as partes transacionaram, tendo o Mirabilandia atendido aos pleitos formalizados pela família da vítima em sua integralidade".