INFÂNCIAS PERDIDAS

Violência sexual é a mais relatada em garotas até 14 anos, aponta Atlas da Violência

Levantamento nacional indicou o alto número de casos de abusos registrados sobretudo contra crianças e adolescentes do sexo feminino

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Estadão Conteúdo

Publicado em 19/06/2024 às 17:49
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A violência sexual corresponde à metade das agressões praticadas contra crianças e adolescentes de 10 a 14 anos no País. Trata-se da única faixa etária em que esse tipo de crime é mais prevalente, aponta o Atlas da Violência 2024.

Ao todo, o Brasil teve 221,2 mil casos de violência contra a mulher em 2022. Conforme o relatório, as agressões normalmente acontecem dentro de casa e em contexto intrafamiliar - praticamente dois terços dos episódios têm esse perfil (65,2%). Os homens são os principais autores.

Entre as formas mais frequentes, a agressão física apareceu como prevalente no somatório de todas as faixas etárias, representando 36,7% dos casos. O segundo tipo mais frequente são as chamadas "violências múltiplas" (31,1%), em que mais de uma forma de violência foi informada pela vítima. Na sequência estão negligência (11,9%), violência psicológica (10,7%), violência sexual (8,9%) e outras formas de violência (0,7%).

"Quando a gente olha para as meninas de 10 a 14 anos, a principal causa de atendimento no sistema de saúde foi violência sexual, quase metade dos casos. Isso traz um pouco da magnitude do problema", afirma Samira Bueno, uma das coordenadoras do Atlas e diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em 2022, esse tipo de violação foi apontada em 49,6% dos registros na faixa etária de 10 a 14 anos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. "A gente normalmente só publicava os dados do DataSUS (sobre violência contra mulher) e esse ano decidimos incluir as informações do Sinan, que é o sistema de notificação de agravos. Ou seja, (relata) o número de meninas que passaram pelo sistema de saúde e alguma violência foi notificada", diz Samira.

A pesquisadora destaca que, no Sinan, a violência é de notificação compulsória. "Então toda pessoa que sofre qualquer tipo de violência e passa pelo sistema de saúde, isso necessariamente tem de ser objeto de preenchimento de uma ficha", diz ela. "Assim, a gente consegue ver o tipo de violência predominante por faixa etária e indicar a autoria em cada etapa da vida."

NEGLIGÊNCIA INFANTIL

O Atlas aponta que, em 2022, entre as vítimas de 0 a 9 anos, a violência mais frequente foi a negligência, com 37,9% dos casos, seguida de violência sexual, com 30,4%. Depois, ganha força a violência sexual entre as vítimas de 10 a 14 anos. "Já de 15 até 69 anos, em todas as faixas etárias, o que predomina é a violência física", ressalta Samira.

A violência física, segundo o relatório, esteve presente em 35,1% dos casos de violência na faixa etária de 15 a 19 anos. Depois, chegou a 49% entre mulheres de 20 a 24 anos, e se manteve acima dos 40% até os 59 anos.

IDOSOS

"A partir dos 70 anos, a negligência volta a ser uma forma de violência bastante presente na vida das mulheres, crescendo até o fim da vida", indica o Atlas. Dos 70 aos 74 anos, 26,5% dos casos de violência foram classificados como negligência e 28,8%, como violência física. Dos 75 aos 79 anos a negligência esteve em 37,5% dos casos desta faixa etária e chegou a 50,4% em mulheres com 80 anos ou mais.

 

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