Mãe de Deolane diz que não lembra de valores em dinheiro recebidos e repassados

Solange Alves Bezerra foi presa durante a operação que investiga lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais. Ela está com a filha em cela isolada

Publicado em 05/09/2024 às 13:55

Em depoimento à Polícia Civil, após ser presa na quarta-feira (4), Solange Alves Bezerra, mãe da advogada, empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra, afirmou que lembrar de altos valores em dinheiro recebidos em contas bancárias.

A coluna Segurança teve acesso à integra do depoimento, que foi colhido na sede do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife. 

Inicialmente, a mãe de Deolane foi questionada se possuía bens. Ela declarou que tem uma casa no valor de R$ 1,4 milhão, em São Paulo, e que não possui veículo. 

Ela afirmou ser empresária do ramo de cosméticos e disse que recebe cerca de R$ 20 mil mensais. 

No interrogatório, ela disse que "não possui conexões empresarias com outros Estados". Alegou que tem uma conta bancária pessoal e que "desconhece a conta da empresa, a qual tem outras pessoas que a movimenta". 

No interrogatório, Solange foi questionada se tem envolvimento com lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores provenientes de crimes. Ela negou. 

A mãe de Deolane disse ser sócia da empresa da filha, Bezerra Publicidades, mas afirmou não saber qual o percentual dela. Ela alegou ainda não ter relação com a empresa Esportes da Sorte, um dos alvos da investigação policial. 

Solange foi questionada sobre a origem de altos valores em dinheiro que circulam em sua conta bancária, com rápida saída dos recursos. 

Ela declarou que precisava de um contador para fazer o levantamento.

No interrogatório, Solange foi questionada como ela justifica o recebimento e o envio de dinheiro para as empresas Pay Brokers Cobrança e Serviço e Pixs Brasil Cobrança e Serviço. 

A mãe de Deolane disse acreditar que os valores tem relação com as publicidades realizadas no Instagram. 

Mãe e filha estão presas preventivamente na Colônia Penal Feminina do Recife. Diante da repercussão do caso, as duas estão numa cela isolada das demais presas. 

RECEBIMENTO E ENVIO DE DINHEIRO PARA EMPRESAS

A polícia pontuou, no interrogatório, que, entre 1º de dezembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023, ela recebeu R$ 73,7 mil por meio de 11 transações por meio do CNPJ do Pay Brokers Cobrança e Serviço. 

Solange alegou que o valor "deve ser derivado das publicidades realizadas via internet".

A polícia também questionou sobre o recebimento de R$ 31,5 mil no período de 1º de dezembro de 2022 a 21 de janeiro de 2023, em quatro transações via CNPJ do Pixs Brasil Cobrança e Serviço. Ela disse não lembrar. 

Também foi questionada sobre o envio de R$ 167.433,23, em 25 transações, para o  CNPJ do Pay Brokers Cobrança e Serviço entre 1º de dezembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023. Ela novamente afirmou não recordar das transações. 

A polícia perguntou sobre o envio de R$ 90.290,00 por meio de 22 transações para CNPJ do Pixs Brasil Cobrança e Serviço no mesmo período. Ela disse desconhecer. 

Solange foi questionada sobre o envio, também no mesmo período, de R$ 34.042,68 através de 7 transações para o CNPJ da Pay Brokers Efx Facilitadora de Pagamentos S.A. Também disse desconhecer o repasse. 

ENVIO DE QUANTIAS EM DINHEIRO PARA O NETO, FILHO DE DEOLANE

Solange foi questionada sobre o envio de R$ 409,44 mil para o neto (filho de Deolane) entre 1º de dezembro de 2022 e 31 de maio de 2023. Ela disse não saber informar sobre a transação. 

Também foi questionada sobre o motivo pelo qual o garoto, com 16 anos, ter remetido para a empresa Zelu Brasil Facilitadora de Pagamentos LTDA a quantia de pouco mais de R$ 781 mil. Ela responde que somente o neto poderia esclarecer. 

OPERAÇÃO INVESTIGA LAVAGEM DE DINHEIRO

A operação que resultou na prisão da advogada, empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra, no Recife, apura uma movimentação estimada em quase R$ 3 bilhões.

A Polícia Civil já identificou que a organização criminosa investigada por lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais atuava em várias frentes, inclusive em grandes eventos por todo o País, casas de câmbio e seguros, publicidades. A lavagem de dinheiro ocorria por meio de depósitos e transações bancárias.

A 12ª Vara Criminal da Comarca de Recife determinou o cumprimento de 19 mandados de prisão preventiva e 24 mandados de busca e apreensão domiciliar. Além do Recife, mandados foram cumpridos em cidades da Paraíba, São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais.

Foram recolhidos pela Justiça 17 carros de luxo e 38 veículos restritos no Renajud, sistema on-line de restrição judicial de veículos criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além disso, foram apreendidos mais de cem imóveis, quatro aviões e sete embarcações.

A operação resultou, ainda, no bloqueio de valores em conta e aplicações financeiras. Os investigados precisaram entregar seus passaportes, os portes de armas de fogo deles foram suspensos e os registros, cancelados.

O empresário Darwin Henrique da Silva Filho, CEO da empresa Esportes da Sorte, foi alvo da operação. Mas não foi encontrado no apartamento de luxo dele, na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife. O advogado Pedro Avelino, responsável pela defesa do investigado, alegou que ele está viajando a trabalho.

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a investigação teve início em abril de 2023, a partir da apreensão de R$ 180 mil reais em espécie em 1º de dezembro de 2022.

"Foram movimentados, de janeiro de 2019 a maio de 2023, mais de R$ 3 bilhões em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes dos jogos ilegais", disse o ministério em nota.

O dinheiro era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com o imediato saque do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da aquisição de centenas de imóveis.

A Polícia Civil de Pernambuco, que coordena as investigações, não detalhou o suposto envolvimento de cada um dos investigados no esquema criminoso.

Na operação, uma aeronave apreendida em São Paulo pertenceu ao cantor Gusttavo Lima. A equipe dele informou, porém, que ela foi vendida por meio de contrato de compra e venda, registrado junto ao Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), para uma empresa.

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