Deolane Bezerra: veja quais acusações da polícia contra a influenciadora

Inquérito policial aponta que Deolane teria usado a mãe e um filho para lavagem de capitais. Ela foi presa novamente após descumprir ordem judicial

Publicado em 10/09/2024 às 15:07 | Atualizado em 22/09/2024 às 18:34

advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra teve a prisão domiciliar revogada em menos de 24 horas. No dia 10, ao se apresentar no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na área central do Recife, ela foi informada sobre a revogação do habeas corpus. 

A decisão foi tomada após ela descumprir a determinação do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) que proibia manifestações em veículos de imprensa ou redes sociais. Assim que deixou a Colônia Penal Feminina do Recife, na segunda-feira, ela fez um pronunciamento breve com críticas à Polícia Civil e à investigação que deu origem à Operação Integration. 

ENTENDA ACUSAÇÕES CONTRA DEOLANE

A operação, deflagrada no dia 4 de setembro, indicou que Deolane teria usado a mãe e o filho de 17 anos para lavagem de capitais. O crime consiste no ato de ocultar ou dissimular a origem ilícita de bens ou valores.

A investigação cita, por exemplo, que Deolane comprou um carro de luxo avaliado em R$ 3,85 milhões do empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da empresa de apostas Esportes da Sorte, investigada na operação, em novembro de 2023. Até maio deste ano, a influenciadora realizava publicidades divulgando a empresa bet. 

Chamou a atenção dos investigadores o pagamento à vista pela compra e pela venda de carros de luxo feitas pela empresa e pelo empresário, com "indícios da perpetração de lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas esportivas". Por isso, a influenciadora também entrou na mira da polícia. 

Para a polícia, a venda do veículo Lamborguinhi Urus Performance demonstrou "nitidamente a tentativa de ocultar/dissimular patrimônio adquirido com a lavagem de dinheiro por parte da Esportes da Sorte e de seu proprietário Darwin Henrique, pois a empresa teria permanecido em posse do automóvel por meros 4 meses".

MOVIMENTAÇÕES SUSPEITAS DA MÃE DE DEOLANE

A investigação apontou uma movimentação de R$ 478.973,61, entre 1º de dezembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023, na conta bancária da mãe de Deolane, Solange Bezerra, apesar de ela afirmar ter uma renda mensal de cerca de R$ 10 mil. 

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicou que Solange movimentou "valores acima de sua capacidade financeira, com alta fragmentação nas contrapartes e rápida evasão de recursos, além de valores frequentemente arredondados na unidade de milhar sem justificativa", cujas quantias foram de R$ 15 mil, R$ 20 mil e R$ 10 mil. 

Em relação à movimentação de dinheiro na conta bancária, a polícia reforçou que a entrada de valores foi oriunda da mesma titularidade e de duas empresas do ramo de intermediação de pagamentos.

Já a saída de valores, "além de parte ter sido triangulada de volta para as empresas intermediadoras de pagamentos, que aparecem também nas entradas, parte ainda foi transferida para outra empresa desse mesmo ramo, o que dificulta o entendimento da origem e destino dos recursos", destacou a polícia. 

Quantias também foram repassadas a um filho de Deolane de 17 anos. Em depoimento, na última quarta-feira, após ser presa, Solange foi questionada sobre o envio de R$ 409,44 mil para o neto (filho de Deolane) entre 1º de dezembro de 2022 e 31 de maio de 2023. Ela disse não saber informar sobre a transação. 

A investigação indicou que o adolescente, cujo nome será preservado, tinha uma renda mensal de pouco mais de R$ 2 mil. Apesar disso, a conta bancária dele recebeu valores que, somados, chegaram a R$ 1.393.959,84 entre 1º de dezembro de 2022 e 31 de maio de 2023, "enquanto os débitos totalizaram
R$ 1.357.464,96, sendo 99% transferência(s) via PIX", disse a polícia. 

"Fica patente ainda que Deolane utiliza-se de sua genitora e do seu filho menor de idade para lavagem de capitais investigada no presente inquérito policial", pontou o relatório enviado à Justiça com o pedido de prisão preventiva dos investigados. 

INVESTIGAÇÃO DA OPERAÇÃO QUE PRENDEU DEOLANE

PCPE/Divulgação
Operação da Polícia Civil apreendeu bens como carros de luxo, imóveis, jóias, aeronaves e embarcações, e dinheiro - PCPE/Divulgação

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a investigação apontou uma movimentação de cerca de R$ 3 bilhões, de janeiro de 2019 a maio de 2023, em contas correntes, provenientes dos jogos ilegais. A empresa de apostas Esportes da Sorte foi um dos alvos da operação. 

Empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da empresa, está preso preventivamente no Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima.

A investigação indicou que o dinheiro era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com o imediato saque do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da aquisição de centenas de imóveis.

Desde a operação, a polícia prendeu 10 dos 19 alvos. Também apreendeu uma quantia de mais de R$ 454 mil em dinheiro - somando reais, euros, dólares e libras esterlinas. 

Duas aeronaves e dois helicópteros avaliados em R$ 127 milhões e quatro veículos de luxo, incluindo uma Ferrari avaliada em R$ 7 milhões, também estão entre as apreensões. Ainda fazem parte da lista, 37 bolsas femininas de luxo, 76 anéis e 17 joias de diversos modelos e 16 relógios de luxo.

DEPOIMENTOS DE DEOLANE E DA MÃE

Deolane e a mãe foram presas no Novotel Marina, localizado no Cais de Santa Rita, na área central do Recife. As duas chegaram à capital no fim da semana junto com a família. Apesar de serem pernambucanas, elas moram em São Paulo.

Na sede do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri), em Afogados, na Zona Oeste, ambas prestaram depoimento. 

A influenciadora digital negou envolvimento em crimes. Ela confirmou que teve contrato com a empresa Esportes da Sorte, com sede no Recife, e que o contrato foi encerrado em maio deste ano.

Deolane afirmou que possuía três contas bancárias para receber pagamentos por trabalhos realizados, mas que todas foram encerradas. E que atualmente tem uma conta digital.

A influenciadora declarou que não emprestou suas contas bancárias para terceiros, nem deixou que outras pessoas movimentassem as contas delas.

No depoimento, Deolane ressaltou que não teve envolvimento com lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores provenientes do crime.

No interrogatório, Solange foi questionada se tem envolvimento com lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores provenientes de crimes. Ela negou.

A mãe de Deolane disse ser sócia da empresa da filha, Bezerra Publicidades, mas afirmou não saber qual o percentual dela. Ela alegou ainda não ter relação com a empresa Esportes da Sorte, um dos alvos da investigação policial.

Solange foi questionada sobre a origem de altos valores em dinheiro que circulam em sua conta bancária, com rápida saída dos recursos.

Ela declarou que precisava de um contador para fazer o levantamento.

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