Estudo evidencia relação entre violência armada e desigualdade racial no Brasil

De cada 10 homens vítimas de homicídio por arma de fogo, 8 são negros. População jovem, que vive em áreas periféricas, é a mais atingida

Publicado em 06/12/2024 às 8:00
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A desigualdade racial e social tão presente no Brasil se evidencia também quando se observa os números da violência. Estudo publicado pelo Instituto Sou da Paz aponta que, de cada dez homens vítimas de homicídio por arma de fogo, oito são negros. 

"Isso indica que a população negra, especialmente os homens, está muito mais vulnerável à violência armada do que os outros grupos raciais, realidade que não muda ao longo do tempo. A taxa de homicídios por arma de fogo é três vezes maior entre os homens negros. Isso se perpetua, mostrando a desigualdade estrutural na nossa sociedade, com recorte de raça", avaliou Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz.

"A violência se sobrepõe a outras vulnerabilidades sociais, como piores indicadores de acesso à educação, à saúde, a renda e trabalho dignos. Então ela vem agravar um quadro de vulnerabilidade social, que é muito mais marcante na comunidade negra", disse.

A 3ª edição da pesquisa "Violência Armada e Racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial" mostra que os jovens adultos, com faixa etária entre 20 a 29 anos, representam 43% das vítimas de homicídios por armas de fogo - sobretudo aqueles que vivem em áreas periféricas e com alta incidência de vulnerabilidade social por conta da falta de políticas públicas eficazes. 

"Para reverter esse quadro é preciso que um conjunto de políticas seja implementado e que tenha uma perspectiva de curto, médio e longo prazos. Nós precisamos de políticas que sejam perenes e que sejam articuladas. Não é uma única medida que vai dar conta de resolver um problema tão complexo como a violência, que tem múltiplas causas", ressaltou a porta-voz do Sou da Paz. 

Ela citou, por exemplo, os investimentos em proteção social, combate à evasão escolar, garantia de renda e trabalho dignos como formas de tirar as pessoas da situação de vulnerabilidade social, diminuindo o risco da violência. 

ALTA IMPUNIDADE NO BRASIL

O estudo reforça que o alto índice de impunidade no Brasil é um fator determinante para a continuidade dos crimes de homicídios. Do total de mortes registradas em 2022, 61% das investigações não foram solucionadas. No ano anterior, essa taxa era de 65%.

Apesar da melhoria do índice de casos encerrados com identificação dos autores de crimes, esse resultado ainda é muito baixo e demonstra a necessidade de fortalecimento das políticas de segurança pública - com reforço no número de policiais e de avançadas tecnologias de combate aos crimes. 

Cristina Neme ressaltou que é preciso investimento no campo da Justiça Criminal, "para que esses crimes sejam identificados, os autores sejam punidos, e a gente diminua a impunidade dos crimes contra a vida no País".

"A nossa taxa de esclarecimento desses crimes é muito baixa. Nem chega à metade dos casos e isso é um fator de risco para que homicídios continuem acontecendo."

MAIS ARMAS DE FOGO CIRCULANDO

O aumento da circulação de armas de fogo no País, graças à flexibilização das regras de acesso a elas no governo de Jair Bolsonaro, também gera forte preocupação em relação à necessidade de controle para evitar o crescimento dos homicídios. 

"A arma é um fator de risco muito grave para violência letal. Nós precisamos controlar e garantir que não tenhamos um grande número de armas circulando na nossa sociedade. Esse é um desafio para o País", pontuou Cristina.

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