A primeira vinícola do Agreste de Pernambuco já tem data de inauguração. Localizada em Garanhuns, a Vale das Colinas abre as portas ao público no próximo dia 7 de novembro.
Na estreia, estarão disponíveis três rótulos, dois tintos e um branco: Dona Elisa (malbec), Cabana do Vale (cabernet sauvignon) e Dona Cecília (muscat blanc à petits grains).
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O espaço oferecerá visitas guiadas agendadas de sexta a domingo, em três horários (15h, 16h e 17h) e com o limite de 15 pessoas por grupo. O passeio dura cerca de uma hora, custa R$ 40 e tem início com a exibição de um vídeo. Depois, segue para o parreiral. A etapa seguinte deveria ser na bodega, mas por enquanto a vinificação ainda está sendo realizada em Petrolina, em parceria com uma vinícola do Vale do São Francisco. "A pandemia atrasou as obras, mas a partir da safra 2022 esperamos realizar todo o processo em nossa própria cantina, que também poderá ser visitada pelos turistas", diz o proprietário da Vale das Colinas, Michel Leite.
O gran finale do tour é a degustação, realizada no charmoso chalé principal da propriedade. De brinde, o visitante ganha uma taça para ser usada na atividade que promete ser das mais concorridas da vinícola. Os vários cantinhos intimistas convidam a um piquenique demorado à beira do lago.
Para acompanhar os vinhos, que custam R$ 45 a garrafa, a lojinha oferece diversos itens produzidos na região, como queijos, defumados, embutidos, pães e sobremesas.
Quem quiser conhecer a propriedade por conta própria paga uma taxa de consumação mínima de R$ 20, mas no primeiro fim de semana o acesso será gratuito.
O amplo espaço verde possibilita o distanciamento social, mas ainda assim será preciso respeitar os protocolos de segurança sanitária contra a covid-19, que incluem aferição de temperatura, uso obrigatório de máscaras e controle de entrada de clientes na lojinha. Álcool em gel também estará disponível.
A Vale das Colinas funcionará de terça a domingo, das 10h às 18h. Reservas devem ser feitas a partir do dia 13/11 no site da vinícola.
CONHEÇA A HISTÓRIA DA VALE DAS COLINAS
O empreendimento é a vitrine privada de um projeto desenvolvido por três entidades públicas com o objetivo de formar um novo terroir de produção de vinhos no Estado, a exemplo do que ocorreu no Vale do São Francisco, no Sertão, a partir da década de 60.
Quando comprou a propriedade de 35 hectares em 2013, o médico cearense Michel Moreira Leite só queria um lugar “friozinho” para viver com a família. Depois de fazer um curso básico de enologia, passou a alimentar o sonho de plantar uva e fabricar seus próprios rótulos. Mas não fazia ideia por onde começar diante de um terreno descampado, até então dedicado à criação de animais. “Fui à unidade de Petrolina da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em busca de me informar se era algo possível”, conta.
Não imaginava que a harmonização de interesses seria tão perfeita. Para sua felicidade, soube que tanto era viável como já estavam sendo dados os primeiros passos do cultivo em Brejão. No município próximo a Garanhuns, pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) testavam o desempenho das uvas viníferas e o seu potencial enológico em um campo experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).
Partiram da tese de que o solo (arenoso argiloso), a altitude (quase 800 metros acima do nível do mar) e as condições climáticas (temperatura média anual de 20.4°C) seriam favoráveis à nova cultura. Faltava verificar na prática. "Introduzimos dez variedades, das quais se destacaram em volume as tintas cabernet sauvignon, malbec e syrah e as brancas muscat blanc à petits grains, sauvignon blanc e viognier", diz o professor de fruticultura da Ufape, Mairon Moura.
Vinificadas as uvas e feitos todos os testes, a primeira degustação ocorreu em 2017. Foi a prova final para chancelar os vinhos elaborados na região como aptos à produção em escala comercial. "Concluímos que o produto se adequa às exigências da legislação brasileira para vinho fino seco em requisitos como teor alcoólico e de açúcares, acidez total e volátil e dióxido de enxofre total", explica a pesquisadora do laboratório de enologia da Embrapa Semiárido, Aline Biasoto.
De acordo com a especialista, o envelhecimento natural das videiras e ajustes nas épocas de poda e colheita trarão ainda mais qualidade à bebida, aumentando a sua capacidade de guarda. Por enquanto, os vinhos estão classificados como jovens, para consumo em curto período.
“Ficamos felizes com o resultado. Isso porque nossa meta maior é proporcionar uma alternativa econômica para pequenos e médios produtores, associada ao desenvolvimento do turismo regional, uma vez que Garanhuns já tem o apelo do clima e de atrativos culturais”, acrescenta outra das líderes do projeto, a doutora em genética e melhoramento de plantas Patrícia de Souza Leão.
Pioneiro em assumir o desafio, Michel Leite incorporou-se à iniciativa através de um convênio de cooperação técnica. Contribui financeiramente para a sua execução e disponibiliza o parreiral para novos estudos, enquanto recebe suporte científico e capacitação profissional. "Sou oftalmologista, mas não sabia que uva era mais complicado do que olho", diverte-se Michel Leite.
Com o conhecimento já acumulado, a Vale das Colinas conseguiu acelerar etapas. Na inauguração, já poderão ser degustados três vinhos, frutos da primeira vindima, ocorrida entre janeiro e fevereiro deste ano. São dois tintos e um branco, respectivamente: Dona Elisa (malbec), Cabana do Vale (cabernet sauvignon) e Dona Cecília (muscat blanc à petits grains). Os rótulos homenageiam as filhas de Michel e o primeiro chalé da família na chácara.
Para os próximos anos, outras variedades estão sendo implantadas, como a syrah (tinta) e a viognier (branca). Serão testadas, ainda, mourvedre e pinot noir (ambas tintas) e riesling (branca). No futuro, espumantes devem se incorporar ao portfólio.
O empreendedor não revela o investimento, mas um estudo de pesquisadores que acompanham o projeto de Brejão e a vinícola desde o início mostra que o custo total por hectare para produção de uva destinada ao processamento na região fica em torno de R$ 172 mil. O montante inclui despesas básicas desde o preparo do solo na implantação até a primeira colheita produtiva no terceiro ano de cultivo. Desconsidera, no entanto, o valor da terra e da captação de água para irrigação, sem a qual a atividade não pode ser viabilizada.
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Na safra de estreia da Vale das Colinas, a produção inicial esperada é de cinco mil garrafas. “Nesta colheita, tivemos despesas extra, porque precisamos enviar as uvas em câmaras frias para vinificar em Petrolina. A pandemia atrapalhou os planos de construção da fábrica, que só deve ficar pronta em 2021”, diz Michel. O empresário antecipa que a estrutura também agregará espaço multieventos, restaurante, área de exposições e palco móvel para pequenos shows acústicos.
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