Conteúdo atualizado às 15h do dia 13 de novembro de 2020
Deveria ser um trajeto tranquilo de curta duração, mas logo na estreia o voo entre o Aeroporto do Recife e o Oscar Laranjeira, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, já enfrentou intercorrência.
Operada pela Azul Conecta, braço de aviação sub-regional da Azul, a aeronave Cessna Grand Caravan contava com seis passageiros a bordo, além de dois tripulantes, no voo inaugural da rota na manhã desta quarta-feira (11). Ao tentar aproximação, precisou arremeter durante a aterrissagem por causa da presença de uma viatura do Corpo de Bombeiros em local inadequado da pista. O veículo havia sido acionado para realizar a cerimônia de batismo do avião.
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Na partida de volta ao Recife, há relatos da presença de outra pequena aeronave em uma pista lateral, que teria atrasado a decolagem.
Através de nota, a Secretaria Estadual de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra) limitou-se a dizer que "o voo inaugural ocorreu de acordo com o previsto, de forma segura". A arremetida, segundo a Seinfra, foi necessária para que o carro dos Bombeiros "realizasse um pequeno ajuste em seu posicionamento".
Quanto ao outro avião detectado na área, a Secretaria disse apenas que a aeronave "pertence ao hangar existente naquela área”, sem explicar as razões do atrapalho no horário de partida do voo comercial.
Também através de nota enviada à coluna, a Azul afirmou que procedimentos como a arremetida "são comuns na aviação e que visam a segurança das operações da empresa". "Após nova aproximação, o voo pousou normalmente no destino planejado, dando início às operações comerciais da companhia no Agreste pernambucano", prossegue a nota. Ainda de acordo com a empresa, a decolagem ocorreu sete minutos depois do previsto, em função de atraso no embarque e da necessidade de taxiar para esperar a saída da outra aeronave da pista.
De acordo com a Seinfra, a pista de pouso e decolagem do Aeroporto Oscar Magalhães tem comprimento de 1.800 x 30 m e o pátio de aeronaves comporta simultaneamente até quatro aviões de pequeno a médio porte. Além das duas novas frequências comerciais da Azul de segunda a sexta, o terminal opera, em média, um voo diário com aviões privados.
SERRA TALHADA
A Azul Conecta estreou também nesta quarta-feira (11) outra nova rota para Serra Talhada, no Sertão do Pajeú.
As novas frequências haviam sido anunciadas no último dia 8 de outubro, após dois anos de negociações entre o governo de Pernambuco e a Azul Linhas Aéreas. Os voos atendem a uma antiga reivindicação de moradores e empresários das respectivas cidades e devem contribuir para o desenvolvimento econômico de ambas as regiões.
Cada destino passou a contar com duas frequências diárias, pela manhã e à tarde, de segunda a sexta-feira. As rotas são operadas por aviões Cessna Grand Caravan, com capacidade para nove passageiros e 150 kg de carga. Na estreia, o voo para Caruaru contou com seis clientes. Os demais partiram com ocupação máxima.
Os bilhetes estão disponíveis através dos canais oficiais da Azul e custam a partir de R$ 194,80 para Caruaru e de R$ 323,90 para Serra Talhada por trecho. O tempo de viagem é de 45 minutos e 1h35, respectivamente.
"É o voo inaugural, e com certeza outros virão, com aeronaves maiores", disse o governador Paulo Câmara, antes de embarcar para Serra Talhada, segundo nota enviada pela assessoria de imprensa.
A Azul considerou usar aeronaves ATR (até 70 clientes) para as novas operações em Pernambuco, mas mudou de ideia por dois fatores: a demanda ainda restrita por causa da pandemia e a incapacidade dos terminais de comportar aviões de maior porte.
INFRAESTRUTURA DOS AEROPORTOS PRECISA DE MELHORIA
Foram as deficiências de infraestrutura, aliás, que atrasaram o lançamento dos voos, de acordo com o diretor de Relações Institucionais da Azul, Marcelo Bento Ribeiro. "Serra Talhada vem passando por investimento há muito tempo, primeiro para a construção da pista, depois para o terminal de passageiros provisório. Por último, agora está sendo feita uma revisão da cerca em volta do aeroporto. O de Caruaru já existia, mas precisava de adequações e o Estado neste momento está investindo no terminal, que era bem acanhado", justificou durante o anúncio dos voos, em outubro.
"A grande vantagem será a possibilidade de conexão fácil e rápida com cidades de todo o País a partir do Recife. Nenhuma outra capital do Nordeste tem ligação com todas as outras da região e ainda municípios do interior", destacou, ainda, na ocasião.
A Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra) disse, por meio de nota, que na quarta-feira (7/10) foi assinada a ordem de serviço para a execução da reforma do prédio do terminal de passageiros de Caruaru, onde serão investidos cerca R$ 450 mil. "A iniciativa também inclui a remoção dos obstáculos determinados pelo Plano Básico de Zona de Proteção de Aeródromo (PBZPA)", informou.
Em Serra Talhada, para o tipo de aeronave operada pela Azul, a Seinfra afirmou que não seria necessária a realização de obras no terminal. Prevendo o aumento da demanda, no entanto, a secretaria destaca que está finalizando um projeto de engenharia necessário para a contratação das obras de reestruturação do aeródromo.
Segundo a Seinfra, também se encontra em fase avançada o estudo para a concessão dos aeroportos de Caruaru, Serra Talhada e do Arquipélago de Fernando de Noronha à iniciativa privada.
Mesmo com as adequações dos aeródromos para aviões maiores, Bento Ribeiro acredita que levará pelo menos um ano até o desenvolvimento de uma demanda que justifique a migração para aviões ATR. Baseado na experiência de outros mercados com os Cessna Grand Caravan, a ocupação prevista é de 75% dos assentos.
Em um contexto "normal", o perfil de clientes seria principalmente de executivos. Mas com a pandemia, o comportamento mudou. "O movimento mais forte que temos visto é de amigos e famílias buscando se reencontrar. As viagens corporativas ainda não retornaram", atestou Bento Ribeiro. Mesmo assim, trade e setor produtivo comemoram a conquista dos novos voos, mirando o futuro.
OPORTUNIDADE
A chegada dos voos comerciais da Azul a Caruaru e Serra Talhada é encarada como uma oportunidade de aceleração do desenvolvimento das duas cidades-polo e adjacências. Promessa antiga, a conexão aérea ao Recife deve facilitar o fluxo de turistas a lazer e a negócios. Já o transporte de mercadorias por enquanto será limitado às de menor volume e maior valor agregado, em função do porte da aeronave operada, que só comporta 150 quilos de carga.
Encravada no meio do Estado, Serra Talhada tem mais de 86 mil habitantes e grande importância logística para todos os municípios do Pajeú, alguns da Paraíba e também do Ceará. “Recebemos essa notícia com muita alegria. Tem muita gente esperando esses voos para fazer turismo fora e empresário esperando para investir”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Serra Talhada, Marcos Oliveira.
Segundo o gestor, o município tem mostrado “um ambiente propício para o empresário investir”, conseguindo saldos positivos de postos de trabalho formal. “Fomos um dos municípios com maior geração de emprego no Estado. Além de serviços e comércio, também temos conseguido expandir a parte industrial, facilitando com incentivo fiscal e melhorando infraestrutura”, avalia o secretário. O condomínio industrial da cidade conta com mais de 300 km² e deve fechar o ano com cinco indústrias.
No Agreste, Caruaru reúne uma população de mais de 365 mil habitantes. Com outras cidades, como Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, compõe o polo têxtil do Estado, que produz mais de 800 milhões de peças de vestuário ao ano. A chegada de voos comerciais diários, não só para essa atividade, significa um alívio em relação à facilidade nos deslocamentos constantes e necessários para o Recife e demais cidades do País.
“Quem está na capital deve chegar ao aeroporto pelo menos duas horas antes do voo. A gente que sai do interior enfrenta uma distância de 200 km e ainda o caos do trânsito urbano. Perde-se praticamente um dia de trabalho só com deslocamento. Toda semana temos motorista para pegar cliente ou fornecedores no Aeroporto do Recife. Com a vinda de novos voos para Caruaru, aumenta a facilidade de chegar e sair”, afirma o empresário Arnaldo Xavier.
Com combustível, diária de motoristas e alimentação, o custo atual chega a ser praticamente o mesmo do valor atualmente cobrado pela Azul por trecho, segundo Xavier, mas o ganho em tempo é bastante superior. “Fazer o trajeto Caruaru-Recife com logística de pessoas e encomendas rápidas pode complementar o leque que Caruaru dispõe. Já olhamos adiante, pensando num segundo momento em voos para Petrolina, Salvador, Fortaleza…”, corrobora o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic), Luverson Ferreira.
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