Desde que o novo Coronavírus vem se expandido pelo mundo, alguns livros de ficção cujos enredos se passam em meio a pandemias voltaram nas listas dos mais vendidos. Na França, por exemplo, o clássico A peste, de Albert Camus, teve suas vendas dobradas entre janeiro e fevereiro, segundo a empresa de estatísticas de vendas de livros Edistat. Na Itália, país altamente afetado pelo Covid-19, a obra também se encontra entre os best-sellers no momento.
Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1957, o franco-argelino Albert Camus, autor do também clássico livro O Estrangeiro, lançou A Peste em 1947. O enredo relata como a cidade de Orã muda após uma peste dizimar sua população.
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A doença era transmitida pelos ratos e, além de uma ótima história ficcional, representa uma grande analogia à ocupação nazista na França durante a Segunda Guerra Mundial, encerrada em 1945. O narrador no livro de Camus é um médico envolvido na luta contra a doença. Em meio à quarentena, os moradores de Orã precisam vencer a solidão e se apegar aos momentos de união e compaixão.
Ao longo da história, a literatura se inspirou diversas vezes em cenários apocalípticos provocados por epidemias e pandemias para criar histórias ficcionais. Conheça ou relembre de outros quatro livros marcantes que trataram do tema:
Ensaio sobre a Cegueira
Um dos livros mais conhecidos do premiadíssimo José Saramago, foi lançado em 1995 e se passa durante a "treva banca". O efeito colateral desta pandemia é a cegueira - física mas também metafórica. Esta cegueira causa grandes transtornos na vida das pessoas mas também nas estruturas sociais. A treva branca tem início com um homem, que é acometido do mal de forma repentina, enquanto dirige seu carro. As pessoas que vão ajudá-lo acabam sendo contaminadas e a partir daí a cegueira branca se espalha.
Apenas uma mulher permanece imune e consegue enxergar. O que ela vê vai muito além da desordem e do medo: a ausência do poder público e a ganância humana nunca estiveram tão escancarados. Em 2008, a obra foi adaptada para o cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles. Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga e Gael García Bernal integram o elenco.
"Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, Isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que eu sou obrigada a ver, quererias estar cego, Acredito, mas não preciso, cego já estou, Perdoa-me, meu querido, se tu soubesses, Sei, sei, levei a minha vida a olhar para dentro dos olhos das pessoas, é o único lugar do corpo onde talvez ainda exista uma alma, e se eles se perderam", escreveu Saramago.
O Amor nos Tempos de Cólera
Neste romance do colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), acompanhamos a história de amor entre o telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza e Fermina Daza em meio a uma epidemia de cólera. Os nomes dos personagens principais foram inventados pelo escritor, mas as vidas de seus pais, Gabriel Elígio e Luiza, estão presentes em todas as páginas deste épico romance, pois foi a partir da verdadeira história do casal que o escritor se baseou para criar uma das maiores obras da literatura latino-americana.
Florentio e Fermina se apaixonam muito novos e precisam enfrentar a oposição do pai da moça. Como forma de dissuadir a filha de levar o namoro em frente, ele força a jovem a permanecer por um ano numa cidade do interior. O Amor nos Tempos de Cólera é um marco no gênero literário realismo fantástico.
O Último Homem
Conhecida mundialmente como a autora de Frankestein (1818), Mary Shelley foi pioneira no campo da ficção científica. Britânica, ela nasceu em 1797 e lançou O Último Homem com 29 anos. O enredo se passa numa sociedade futura, num momento de devastação pela peste bubônica. Lionel Verney é o narrador, membro de uma família nobre que perdeu suas riquezas, que assiste ao colapso ao seu redor se tornando o único sobrevivente dessa tragédia. Especialistas costumam ressaltar os retratos autobiográficos de figuras do círculo da autora, como seu falecido marido, Percy Bysshe Shelley e Lord Byron.
O leitor acompanha também o cotidiano da irmã de Lionel, Perdita, casada com Lorde Raymond, que se torna chefe de estado. Além deste núcleo familiar, há o Conde de Windsor e a irmã de Adrian, Idris, que tem uma relação conflitante com a mãe, e outros personagens cujas histórias, amores, desamores e interesses pessoais acabam sendo colocados em segundo plano devido a conflitos políticos. Mas, entre reis, princesas e desavenças, é a praga descontrolada que dita as atitudes humanas.
Eu Sou a Lenda
Muitos conhecem o filme de mesmo título, protagonizado por Will Smith e lançado em 2008. O longa-metragem é baseado no livro de Richard Matheson, autor norte-americano, lançado em 1954. Um cenário pós-apocalíptico é apresentado aos leitores, em que os indivíduos, em consequência de uma praga desconhecida, se transformaram em zumbis. Em meio ao medo e caos, Robert Neville vive entre seu esconderijo e a busca por alimentos.
Além de escritor, Matheson, falecido em 2013, trabalhou como roteirista em shows de televisão como The Twilight Zone e Star Trek, além de ter adaptado obras de Edgar Allan Poe para o cinema. Além de Eu Sou a Lenda,seus livros O Incrível Homem que Encolheu, Em Algum Lugar do Passado e Amor Além da Vida também se tornaram filmes.
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