Para assistir um show de stand-up comedy – qualquer um – é preciso que o espectador esteja preparado para todos os tipos de piadas. Todos mesmo. Porque geralmente quem comanda o espetáculo não tem filtro ou qualquer pudor sobre seu texto. E nessa mescla de piadas bobas e pesadas, e até preconceituosas para alguns, o público pode ter duas reações: ou se entrega ao show e ri bastante, ou fica julgando cada frase dita com a cara fechada, para dar força à sua opinião de que aquela apresentação não tem graça alguma. E essa premissa toda também se aplica ao show Levando o Caos, do humorista Maurício Meirelles, que a Netflix lançou nesta quinta-feira (16) na plataforma.

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Para quem não liga o nome à pessoa, este comediante carioca de 36 anos já tem mais de 12 de carreira. Publicitário de formação, Maurício também é escritor, humorista, repórter e guitarrista. Na TV, já teve passagens em programas como CQC, Pânico na Band e Vídeo Show. E além dos espetáculos de stand-up, ele faz sucesso nas redes sociais com o Webbullying, onde ele manipula redes sociais de anônimos e famosos. Levando o Caos é o seu primeiro especial gravado para a Netflix.

Neste show solo registrado ao vivo em São Paulo de pouco mais de 1 hora, escrito e estrelado por ele – com direção de Diego Pignataro – Maurício Meirelles tem “cara de pau” suficiente para alcançar vários públicos com suas piadas. Diante de um teatro lotado, e um interessante cenário de luzes, o comediante abre o espetáculo brincando, logicamente, com a plataforma de streaming que decidiu gravar o seu show. “A Netflix não ganha dinheiro com assinatura porque ninguém assina Netflix, a gente empresta a senha”, diz o anfitrião, que já arranca os primeiros risos e aplausos de concordância, que serão muitos ao longo do espetáculo.

A narrativa de Maurício é muito segura e ele consegue unir bem todos os tópicos sem cair o ritmo. Quando o texto se encaminha para o tópico “família de primeira viagem”, por exemplo, o comediante ilustra bem com suas vivências pessoais, já que ele é casado e pai de um filho. As piadas se tornam mais consistentes, gerando a identificação do público, que se converte em mais risadas e aplausos, mesmo usando uma linguagem mais pesada.

O roteiro também é interessante quando chega no tópico do feminismo. Um tema polêmico, claro, que divide opiniões. Mas Maurício Meirelles consegue refletir sobre o seu “caos” de pensamento sendo irônico e didático na medida certa. O comediante consegue abordar vários prismas do assunto e suas conclusões espirituosas são os pontos altos do show. O assunto dá deixa para falar de casamento, que também é abordado no melhor estilo “rir para não chorar”.

IRONICAMENTE DIVERTIDO

Na segunda metade do espetáculo, o humorista fala de quanto o País está polarizado, principalmente nas opiniões de Direita e Esquerda. E ele tenta unir várias pautas – como hino nas Escolas e uso de maconha – de forma democrática, para agradar os dois lados, e acerta mais uma vez. A narrativa, então, se encaminha para as opiniões postadas nas redes sociais. “Me dá a impressão de que a internet virou uma caixa de sugestão onde todo mundo quer colocar a sua opinião dentro. E sabe quem coloca opinião dentro de uma caixa de sugestão? Gente chata”, concluiu Meirelles.

Nos momentos finais de Levando o Caos, o comediante tem uma abordagem bem pertinente sobre preconceito e do quanto cada um é dotado disso, ainda que negue. E essas reflexões o levam a chamar a sua esposa Emily Borges no palco, onde ele compartilha uma história íntima do casal, já que o último tópico é “sacanagem”. É mais um ponto de boa ironia, claro, já que não há lição de vida ou frase de efeito para arrematar tudo o que foi dito naquele espetáculo. E no fim das contas, nem precisa.

O fato é que Maurício Meirelles, ao expor todo o caos de sua vida, de maneira espirituosa e divertida naquele show, provoca mais reflexão em seu todo do que precisar de um momento específico para isso. Basta estar aberto para ouví-lo. E sem qualquer culpa.