Streaming

'A Vida e a História da Madame C. J. Walker' transborda inspiração na Netflix

Minissérie baseada em fatos reais da primeira mulher a se tornar milionária nos Estados Unidos é uma lição de vida e igualdade

Robson Gomes
Cadastrado por
Robson Gomes
Publicado em 07/04/2020 às 16:36 | Atualizado em 07/04/2020 às 16:36
AMANDA MATLOVICH/NETFLIX
Octavia Spencer é a protagonista de 'Madame C. J. Walker', na Netflix. - FOTO: AMANDA MATLOVICH/NETFLIX

Neste complexo período de isolamento social que vivemos, nada melhor que buscarmos inspiração para as nossas vidas. E ela pode ser encontrada de várias formas, até mesmo ao assistir uma simples obra de streaming. E inspiradora talvez seja uma das palavras chaves para classificar a minissérie A Vida e a História de Madame C. J. Walker, que está em cartaz na Netflix desde o último dia 20 de março. Com apenas quatro capítulos, a produção protagonizada pela vencedora do Oscar Octavia Spencer, baseada em fatos reais, transborda representatividade sobre vários âmbitos.

>> 'Elite' renova fôlego em terceira temporada na Netflix

>> 'O Poço' mergulha em alegorias rasas e narrativa pouco sólida

>> Minissérie 'Nada Ortodoxa' retrata a jornada de uma jovem judia em busca de liberdade

A minissérie conta a história real da personagem-título: uma cabeleireira empreendedora afro-americana que se tornou a primeira mulher milionária por seu próprio esforço nos Estados Unidos e um verdadeiro ícone cultural daquele país. Inspirada pelo livro On Her Own Ground, escrito pela trisneta de Walker A’Lelia Bundles, a produção mostra que, contra todas as probabilidades, a Madame C. J. Walker superou o preconceito racial pós-escravidão, o preconceito de gênero, traições pessoais e rivalidades empresariais para construir uma marca que revolucionou o cuidado com os cabelos do público negro. E em meio a tudo isso, ela também lutava por transformações sociais.

A representatividade de A Vida e a História de Madame C. J. Walker se mostra desde sua gênese: a minissérie original da Netflix foi criada por Nicole Jefferson Asher junto às showrunners Elle Johnson e Janine Sherman Barrois, com direção de Kasi Lemmons e DeMane Davis. Ou seja, são mulheres negras dando voz e vez à trajetória de uma mulher negra. São espaços conquistados não apenas para preencher números ou cotas raciais, mas por merecimento e talento que transparecem na tela, e que fazem justiça à história contada. A obra também chama atenção na sua lista de produtores executivos: entre os dez creditados, surgem os nomes da protagonista Octavia Spencer e do jogador de basquete LeBron James.

Por se tratar de uma série de época, no primeiro capítulo somos transportados para St. Louis em 1908. Lá, somos apresentados a Sarah Breedlove (Octavia Spencer) e sua triste história de vida. Logo também percebemos que ela quer ser mais que uma lavadeira e vemos sua determinação em querer vender um elixir capilar criado por Addie Munroe (Carmem Ejogo), que salvou sua vida e autoestima. Mesmo sendo cruelmente rejeitada pela esteticista negra “de cor clara” (como sua avó a chamava), Sarah faz disso sua força-motriz para criar o seu próprio negócio. Costurado com cenas metafóricas, o roteiro diverte com esses leves escapes. Neste primeiro episódio, vemos Sarah e Addie se enfrentando em um ringue de luta, para ilustrar a rivalidade entre as duas. Esse recurso de sequências metafóricas também é visto nos outros capítulos.

Também é logo nos primeiros minutos do primeiro episódio que conhecemos o Charles James Walker, interpretado por Blair Underwood. O segundo marido de Sarah é o responsável por encorajá-la profissional e pessoalmente. Mas ao longo da história percebemos que o empoderamento e a ascensão de sua esposa, depois que decide se chamar Madame C. J. Walker, e passa a prosperar nos negócios levantando o seu império, mexe diretamente com o seu ego e afeta a vida do casal. Personagens à parte, a atuação magistral de Octavia junto ao bom trabalho de Blair dão mais peso à história que está sendo contada. Também vale reparar nas cenas de Garrett Morris, como o Cleophus, pai de C. J., que entrega um bom papel de comédia com nuances de drama.

OBRA NECESSÁRIA

A força da mulher, o machismo estruturado, o drama da transição capilar, o preconceito de gênero – vivido por Lélia (Tiffany Haddish), filha de Sarah – além do próprio racismo são aspectos que dão mais força à esta minissérie da Netflix, que também agrada em sua trilha sonora atemporal - que mescla passado e presente - através de canções interpretadas por Janélle Monáe (Dance or Die), Kimberly Nichole (Seven Nation Army), LATASHÁ (Who I Am), entre outras artistas negras.

Em um momento que falamos tanto de representatividade, A Vida e a História de Madame C. J. Walker chega de forma necessária ao público. A minissérie é carregada de mensagens fortes, transmitidas com sutileza, que podem nos inspirar a buscar uma vida mais justa e respeitosa para com o próximo, sem qualquer tipo de preconceito, e reforçando o conceito de igualdade, que deveria ser inerente a todo o ser humano, independente de qualquer coisa.

Comentários

Últimas notícias