O centenário de Clarice Lispector é celebrado apenas em dezembro, mas desde o início do ano vêm acontecendo algumas comemorações em homenagem ao aniversário da escritora. É inegável que 2020 é o ano de ler e reler como nunca sobre sua obra. Um dos lançamentos literários recentes que reverencia a romancista, contista e ensaísta ucrano-brasileira é o Visões de Clarice Lispector - Ensaios, Entrevistas, Leituras, publicado pela Imprensa Universitária UFC, da Universidade Federal do Ceará.
Organizado pela professora Fernanda Coutinho e pelo pesquisador Sávio Alencar, o livro se destaca pela pluralidade de abordagens e interpretações sobre os escritos de Clarice. Uma boa leitura tanto para quem ainda deseja se aventurar em seus escritos quanto para seus leitores mais antigos.
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Disponível de forma gratuita em PDF, reúne, em 245 páginas, 21 autores em textos que passeiam pelas narrativas ensaístas, crônicas de cunhos mais pessoal e interessantes entrevistas - vale destacar os depoimentos da ex-coordenadora de literatura do Instituto Moreira Salles (IMS), Elvia Bezerra, e o da tradutora de Clarice para o italiano, Amina di Munno.
"Nosso ponto de partida para pensar o livro foi uma publicação que Fernanda já havia organizado em 2012, para celebrar os 50 anos da obra Laços de Família. A ideia inicial era apenas acrescentar alguns capítulos mas quando fomos mapeando os autores que pensam e pesquisam Clarice hoje, o livro mudou de rumo e nasceu completamente novo", conta Sávio. "Tentamos convidar não apenas quem estuda a obra dela há muito tempo como também quem tem apostando em novas formas de enxergá-las."
Humberto Werneck, Noemi Jaffe e Jacques Fux são alguns dos autores que integram o capítulo Leituras, muito interessante em um volume publicado por uma universidade por justamente se afastar, na forma, da linguagem acadêmica. A cineasta pernambucana Taciana Oliveira, diretora do documentário A Descoberta do Mundo, que investiga aspectos pessoais e profissionais da vida da escritora, também participa do projeto e escreveu o ensaio O Mundo e Outras Descobertas em Clarice Lispector, em que destaca a atemporalidade e a dimensão comunicativa para com o leitor na obra de Clarice.
"A obra de Clarice é marcada por uma pluralidade e nosso livro acaba ressaltando isso, esse olhar multidisciplinar. É uma obra inesgotável, pois na terceira, quarta, quinta leitura de um mesmo livro seu ainda nos deparamos com novas perguntas. Daqui a 100, 200 anos, acredito que os seus escritos ainda irão continuar instigando leitores. E isso é tão sintomático que cada vez mais ela ganha novas traduções, novas camadas de sentido", pontua Sávio.
Este ano já estava predestinado a ser de grandes relançamentos editoriais e novos projetos culturais em homenagem à autora. Sua obra, que aborda temáticas densas da vida humana, que questiona, provoca e até causa certo desconforto, parece mais atual do que nunca neste momento em que mudanças drásticas na dinâmica social, provocadas pela pandemia do novo Coronavírus, vêm pautando tantos debates sobre questões existenciais.
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