Cinema

Os 30 anos de 'Lua de Cristal': um clássico do cinema brasileiro

Filme estrelado por Xuxa Meneghel destacou a força dos longas infantis nacionais que atravessam gerações

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 22/06/2020 às 10:55 | Atualizado em 22/06/2020 às 11:01
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Sérgio Mallandro e Xuxa Meneghel formavam o par romântico de Lua de Cristal, levemente inspirado por Cinderela - FOTO: COLUMBIA PICTURES/DIVULGAÇÃO
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Quando se fala em "clássicos do cinema brasileiro", considerando fatores como bilheteria e repercussão, os nomes vêm aos montes: Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), Pixote, a Lei do Mais Fraco (1980), Baile Perfumado (1997), Carandiru (2003), ou os filmes de Amácio Mazzaropi. Mas a maioria dos cinéfilos e estudiosos da cinematografia brasileira torce o rosto para reconhecer a força dos filmes voltados para o público infantil, que possuem números tão expressivos quanto e também merecem ser admitidos como clássicos. Dentro desse recorte, dois nomes resumem a força do filão: Os Trapalhões e Xuxa Meneghel. E há exatos 30 anos - no dia 22 de junho de 1990 - 137 salas de cinemas pelo País estreavam o filme Lua de Cristal, protagonizado por Xuxa, que acreditem ou não, faria história na sétima arte brasileira.

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O Jornal do Commercio conversou com a diretora gaúcha Tizuka Yamasaki, responsável pela direção do que seria seu primeiro contato com o público infantil, após sucessos adultos no cinema como Gaijin - Caminhos da Liberdade (1980) e a novela Kananga do Japão (1989). "Fui convidada pelo produtor Diler Trindade e pelo produtor executivo Carlos (Cacá) Diniz, meu parceiro produtor. O convite aconteceu também porque a Marlene Mattos - empresária de Xuxa na época - era fã do Gaijin. Aceitei por duas razões: a primeira era que meus filhos, ainda crianças, me cobravam um filme infantil. A segunda era que eu, como diretora, achei interessante acompanhar de perto aquele fenômeno de comunicação que era a Xuxa. Foi meu primeiro filme como diretora contratada".

Xuxa Meneghel também conversou com o JC sobre este longa, especial na sua carreira desde a gênese, quando ainda era chamado Xuxa e os Guerreiros Invencíveis: "Eu tinha acabado de fazer o filme Super Xuxa Contra o Baixo Astral (1988), com uma história que eu acreditava muito: cristais, energia... Achei que este novo filme podia ser mais perto do real: dos sonhos. O nome ainda não era Lua de Cristal, mas Michael Sullivan e Paulo Massadas tinham conversando comigo pra fazer uma música com algo que eu quisesse e acreditasse. Eu disse que falava muito com o 'Cara lá em cima' e também sobre sonhos. A música acabou ficando muito forte e o filme se baseou na música. Mudanças, adaptações... Tudo para o filme ter um link forte com a música. O filme acabou levando o nome da música e tudo parecia bom, só não sabíamos que ia dar tão certo".

Com argumento de Patrícia Travassos, Lua de Cristal tem roteiro final assinado por Luís Carlos Góes, Yoya Wurch e Cacá Diniz. Tizuka também reconheceu que o projeto sofreu várias modificações.

"Não gostei da primeira proposta do roteiro e batalhei para que ele se inspirasse na vida da Xuxa, aquela que vem do subúrbio, que tinha que trabalhar, estudar, enfrentar os dissabores da vida se quisesse vencer na conquista do seu sonho, ser cantora. As crianças na época se vestiam como a Xuxa, faziam as chuquinhas e achavam que a vida estava resolvida! Eu via isso acontecendo com meus filhos e sobrinha, com todos em vários lugares... Era uma febre louca! Era como se as crianças, e muitas mães, acreditassem que Xuxa era o Rei Midas - aquele que transformava em ouro tudo que tocava. Aquilo me incomodava muito! Então achei interessante, e bom para aquele público infantil, que a personagem da Xuxa pudesse ser o exemplo de alguém que precisa 'ir à luta' pra conquistar sua liberdade", explica Tizuka.

Assim foi desenvolvida a sinopse final de Lua de Cristal: Ao deixar o interior para morar no Rio de Janeiro junto a um sonho de ser cantora, Maria da Graça (Xuxa Meneghel) se hospeda na casa da tia Zuleika (Marilu Bueno) - uma autêntica bruxa - a prima Cidinha (Júlia Lemmertz) e o primo Mauricinho (Avellar Love), que logo se interessa pela prima recém-chegada. Em meio aos tormentos sofridos dentro da nova casa, aparece Duda (Duda Little), que conduz Maria nos caminhos perigosos da cidade. E é ali que ela conhece Bob (Sérgio Mallandro), um amigo desajeitado que consegue um emprego para ela e nutre um sentimento especial pela jovem.

Gravado em 28 dias, Lua de Cristal tem a estética do Rio no final da década de 1980. Misturando música, drama e comédia, o filme tem toques inspirados em Cinderela: há um tênis largado por Maria e achado pelo "príncipe" Bob; a mocinha maltratada pela prima malvada para executar os afazeres domésticos; uma tia preocupada com a beleza a ponto de conversar com o espelho, e claro, uma "Lua Madrinha", com quem a protagonista desabafa sobre os perrengues. Tudo isso culminando num príncipe montado num cavalo branco que salva a mocinha por um beijo... Numa praia, após "morrer afogada" devido a uma armação do primo malvado.

Sobre este "clímax", Xuxa relembra com carinho, mas com um pouco de crítica. "Acho que a cena do Serginho correndo a cavalo, que parece um jegue, poderia ter mais charme e glamour, pois ele era meu príncipe, mas... Até isso combinou com ele. Portanto acredito que, para a época, fizemos o que tinha de melhor. E mesmo parecendo velho ou trash, faríamos de novo", comenta.

Tizuka também relatou como foi dirigir a então "Rainha dos Baixinhos" da TV, numa produção cinematográfica: "Xuxa era e é uma pessoa muito carinhosa e simples no trato. E também não se achava atriz e nem cantora. Essa postura de humildade, o maior valor da personagem protagonista, colaborou muito para que eu pudesse conduzi-la no desenvolvimento do papel de Maria da Graça".

Não demorou para que Lua de Cristal acertasse o público alvo. O primeiro fim de semana de lançamento arrastou 920 mil espectadores aos cinemas: recorde que permaneceu intacto por 16 anos, quando foi destronado por 2 Filhos de Francisco (2006). Segundo a Ancine, hoje o longa está na 26ª posição dos filmes nacionais recordes de bilheteria, fechando com mais de 4 milhões e 170 mil espectadores.

O SEGREDO

Xuxa e Tizuka tentam explicar o sucesso deste filme que marcou uma geração e é sim, um clássico do cinema nacional. "Lua de Cristal tinha no seu conteúdo uma verdade que tocou as crianças da época. Só isso pode justificar, 30 anos depois, uma plateia de 30/40 anos que vi na sessão Midnight do Festival do Rio, lotando uma sala, dançando e cantando durante a exibição do filme. É comum pessoas de todos os tipos - de diretores de marketing a domésticas, engenheiros e até militares - confessarem a mim o quanto o filme foi importante nas suas vidas", destaca Tizuka.

"Alegria, criança, música, verdade e um toque mágico, lúdico, que fala de sonhos. Lua de Cristal deixou um legado de nunca desistir dos sonhos, pois "tudo que tiver que ser, será". Para quem nunca viu, se você gosta de algo bem anos 1980, não deixe de ver este filme. Você vai viajar para essa época em um conto quase de fadas", declara Xuxa, a eterna Maria da Graça.

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BASTIDOR Lua de Cristal foi o primeiro filme infantil de Tizuka Yamasaki - FOTO: DIVULGAÇÃO
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CLÁSSICO Roteiro de Lua de Cristal era um verdadeiro 'Cinderela à brasileira' - FOTO: DIVULGAÇÃO
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MAKING-OF Xuxa nos bastidores de Lua de Cristal: o filme foi gravado em 28 dias - FOTO: DIVULGAÇÃO
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DESTAQUE Maria da Graça (Xuxa) contava sempre com a ajuda da pequena Duda (Duda Little) - FOTO: DIVULGAÇÃO
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ICÔNICO Misturando música, drama, romance e comédia, Lua de Cristal marcou uma geração nos anos 1990 - FOTO: DIVULGAÇÃO
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SUCESSO Lua de Cristal foi recorde de bilheteria na primeira semana por 16 anos - FOTO: DIVULGAÇÃO
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ROTEIRO Maria da Graça (Xuxa Meneghel) deixa o interior e vai para a cidade grande com o sonho de ser cantora - FOTO: DIVULGAÇÃO
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VILÕES Mauricinho (Avellar Love) e Lidinha (Júlia Lemmertz) atormentavam Maria da Graça (Xuxa) - FOTO:DIVULGAÇÃO

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