Pernambuco perde Zé Lopes, mestre mamulengueiro e patrimônio vivo do Estado

Mestre morreu aos 69 anos de idade, em Glória do Goitá, Zona da Mata Norte do Estado
Thalis Araújo
Publicado em 21/08/2020 às 22:15
Mamulengueiro Zé Lopes morreu aos 69 anos Foto: GILMAR SANTOS


A sexta-feira (21) é de luto para a cultura pernambucana. O Estado perdeu o mestre mamulengueiro Zé Lopes, patrimônio vivo de Pernambuco. Lopes, de 69 anos, morreu por volta das 18h30, em sua casa, que fica no município de Glória do Goitá, na Mata Norte.

Em virtude da morte do mestre mamulengueiro, o município de Glória do Goitá irá decretar luto oficial de três dias.

Velório e enterro

O corpo do mestre mamulengueiro foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, no Centro do Recife, por volta das 21h10. Ainda não há informações sobre o velório e enterro de Lopes.

De acordo com a assessoria de Zé Lopes, não há conhecimento de que o artista estivesse enfrentando depressão ou algum problema nos últimos dias, apesar do suicídio. A sexta-feira de Lopes foi de muito trabalho em seu ateliê, que fica em sua residência, e de muita conversa com pessoas do seu convívio.

Quem foi Zé Lopes

José Lopes da Silva Filho, ou Zé Lopes, artisticamente falando, nasceu em 21 de outubro de 1950, no Sítio Cortesia, em Glória do Goitá. Ele foi símbolo de referência e resistência no mundo dos brincantes e do teatro de mamulengos. Lopes também foi um dos mais antigos mamulengueiros em atividade, com isso lhe foi assegurado, em 2016, o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

GILMAR SANTOS/CORTESIA - Zé sempre esteve ao lado de grandes mestres

Sua história com os bonecos se iniciou ainda na infância, quando acompanhava sua mãe, Severina Pereira, nas suas vendas de bolo nas apresentações de mamulengo e cavalo marinho, que aconteciam na sua cidade natal. Na primeira vez que o menino, ainda de comportamento retraído, viu os tais bonecos, enxergou que seriam pessoas pequenas.

Aos 12 anos, Zé Lopes andava às voltas com madeiras para criar seus próprios mamulengos. O primeiro se chamou Carioquinha (Mateus). Sua mãe rejeitava a ideia de ver o filho mamulengueiro.

Zé Lopes ao lado de grandes mestres

No ano de 1962, ao lado do também mamulengueiro Zé di Vina e dos tios Zé e Chico de Teca, Zé Lopes começou a se apresentar com o Mamulengueiro São José, o mundo encantado dos bonecos. Aos 18 anos, Zé seguiu para o Recife, por pressão da mãe. Na capital pernambucana, ele trabalhou em uma serraria, deixando o teatro de bonecos apenas para os fins de semana.

Ao longo da sua vida, Lopes conviveu com outros grandes mestres, como João Nazário, Zé Grande, Severino da Cocada, Zé de Vina, Solon, entre outros.

Zé Lopes viaja para São Paulo, mas, anos depois, volta para a terra natal

Em 1971, o jovem de 21 anos partiu para São Paulo, em busca de trabalho. Lá, ele foi vigia, metalúrgico e teve outras ocupações, mas não deixava para trás a grande paixão pelos bonecos. Mas o artesão voltou para Glória do Goitá em 1982, depois de vender suas propriedades e tudo que conquistou em São Paulo.

Apresentações de mamulengos voltam a acontecer por incentivo de Zé

Naquela época que Lopes voltou para Glória do Goitá, as apresentações de mamulengo estavam proibidas. Assim que chegou na terra natal, ele procurou o prefeito daquela época e buscou antigos mamulengueiros.
No dia 2 de dezembro daquele ano, durante as festas em homenagem à Nossa Senhora da Conceição no município, ele apresentou o seu Mamulengo Teatro do Riso ao lado de outros mestres. Zé Lopes já esteve em nove Estados brasileiros e países como França, Itália e Espanha.

Zé Lopes na Fenearte desde a primeira edição

O mestre Zé Lopes participou da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) desde a sua primeira edição, em 1999. Ele foi agraciado também, por suas muitas contribuições para a cultura, com o Prêmio Teatro de Bonecos Popular do Nordeste - Mamulengo, Cassimiro Coro, Babau e João Redondo (Iphan) e com o Prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular e Dramaturgia (Secretaria de Cultura de Pernambuco).

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