No ensaio An Experiment in Criticism, publicado em 1961, o autor britânico C.S Lewis escreveu que "a experiência literária cura a ferida da individualidade sem lhe minar o privilégio." Seis décadas depois, essa mágica sensação de coletividade resultante de um ato tão solitário quanto o da leitura vem sendo potencializada através dos clubes de assinatura de livros.
Fenômeno relativamente recente no Brasil, esses clubes consistem em envios mensais de caixas contendo livros que ainda não foram lançados, brindes relacionados ao tema da obra em questão e outras vantagens que vão desde descontos em outros títulos das editoras, cursos online cursos online e conteúdos exclusivos.
Cada vez mais editoras vêm aderindo à ideia e a mais recente delas foi a Todavia que lançou no início deste mês o clube Todavia Todo Mês, focado em ficção contemporânea. Em poucos dias, a procura já foi alta e superou as expectativas, como conta um dos editores e sócios da Todavia, Alfredo Nugent Setúbal. "O clube representa apenas um recorte do nosso catálogo, pois também publicamos poesia, quadrinhos, clássicos e não-ficção. Mas era um desejo antigo e precisávamos perceber que havia um público interessado nisso e que confiava na gente. Receber um livro selecionado, em casa, pode ser um diferencial no incentivo à leitura e na formação de novos leitores", pontua.
Alguns fatores podem ser levantados para explicar o sucesso tanto da estreia do Todavia Todo Mês quanto também dos outros clubes mais conhecidos, como o Intrínsecos (da editora Intrínseca), o Circuito Ubu (da editora independente e de não-ficção Ubu), da TAG Experiências Literárias (a mais conhecida e antiga no cenário nacional) ou ainda infantil Leiturinha, só para citar alguns.
Além da relação de confiança e forte identificação dos leitores com as editoras, há o desejo por novidade e o conforto de receber o livro em casa, intensificado durante os últimos meses marcados pelo confinamento da quarentena. Inclusive vários clubes viram o número de assinantes expandirem consideravelmente durante a pandemia, como foi o caso da Intrínsecos, que dobrou a base de assinantes, e da Cicuito Ubu, que em março tinha 420 assinantes e agora soma 1.600, um aumento de quase 400% muito celebrado.
"Percebíamos que havia sempre um grupo de mais ou menos 200 clientes que sempre compravam os livros na pré-venda, foi a partir daí que tivemos a ideia do clube, em agosto de 2019. No início incluíamos também títulos de outras editoras pequenas, mas com a pandemia nossa estratégia foi de focar apenas nos nossos e também de elaborar cursos e conteúdos digitais exclusivos para os assinantes", explica Florencia Ferrari, sócia-fundadora da Ubu, editora especializada em não-ficção. "Nosso foco é oferecer aos leitores ferramentas para a compreensão da contemporaneidade e estimular o debate crítico."
Vantagens, segundo os assinantes
Existem muitas vantagens em aderir a um clube de assinatura de livros, mas um motivo em especial é sempre lembrado pelos leitores: o da curadoria. Para a recifense de 26 anos Isadora Lages, cientista social e ávida leitora, receber livros que ela talvez nunca imaginasse comprar é o que há de mais positivo. "Isso acabou ampliando meu gosto pela leitura e hoje leio muitas coisas fora da minha zona de conforto." Assinante da TAg e da Intrínsecos, ela conta que o capricho com as capas também é um diferencial e o fato dos livros da caixas ainda serem inéditos em livrarias.
Diogo Andrade, pernambucano radicado no Ceará, é assinante de dois clubes: a Pacote de Textos - para ele - e o Leiturinha - para os dois filhos, um de nove e outro de quatro anos. "Uma das heranças que eu torço pra deixar aos meus é o hábito e o prazer da leitura. Muitas vezes nos pegamos lendo os três juntos e momentos assim são maravilhosos.", conta. "Os resultados desse hábito são visíveis no vocabulário dos dois e na compreensão já amadurecida que ambos têm acerca do meio em que vivem, ou mesmo no rendimento escolar, do qual não me acanho em assumir o imenso orgulho que sinto."
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