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'Teocracia em Vertigem', do Porta dos Fundos, ironiza cenário social e político do Brasil

Disponível no YouTube, especial de Natal do grupo tem como alvo o conservadorismo

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 17/12/2020 às 15:51 | Atualizado em 17/12/2020 às 16:12
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Além de atuar, Fábio Porchat assina o roteiro de 'Teocracia em Vertigem' - FOTO: DIVULGAÇÃO

Após causar polêmica em 2019 com A Primeira Tentação de Cristo, seu especial de Natal para a Netflix, o Porta dos Fundos retornou ao centro do debate com sua nova produção de fim de ano, Teocracia em Vertigem. Desta vez, disponível no YouTube (e com exibição nesta sexta-feira, 18, no canal Comedy Central), o trabalho volta a utilizar de figuras e situações bíblicas para falar de questões relativas à sociedade brasileira e a fatos que movimentaram o mundo político em 2020.

Com o especial de Natal da Netflix, os envolvidos sofreram ameaças, boicote e tiveram sua obra levada à Justiça, com a intenção de que A Primeira Tentação de Cristo fosse tirada do catálogo da gigante do streaming (o STF deu ganho de causa ao Porta dos Fundos e o filme permanece no ar). Neste novo trabalho, o grupo de humoristas optam por construir a obra como um mockumentary - termo utilizado para definir filmes que se utilizam da estrutura dos documentários para apresentar uma história ficcional.

O título faz referência a Democracia em Vertigem, de Petra Costa (que inclusive faz uma ponta em Teocracia...), e, nesse sentido, deixa clara sua intenção de evocar o cenário político do Brasil contemporâneo. O roteiro assinado por Fábio Porchat acompanha uma cineasta (voz de Clarice Falcão) em busca da explicação para o contexto que levou à condenação e posterior assassinato de Jesus. Levado a julgamento sem provas, ele é alvo de uma trama política que envolve ainda a mobilização popular e a divisão da sociedade da época. 

Referências ao impeachment de Dilma Rousseff e à ascensão de Jair Bolsonaro permeiam toda a obra. Questões contemporâneas, como as rachadinhas em gabinetes de políticos, a politização dos agentes da Operação Lava-Jato ou a influência das milícias nas altas cúpulas do poder, também estão no centro da narrativa, que é construída a partir de depoimentos de personagens bíblicos, como Maria, Pôncio Pilatos, Judas, entre outros.

Apesar de algumas passagens inspiradas e de ter o mérito de tocar em questões espinhosas, ainda mais nesse contexto de perseguição à arte, aos artistas e ao divergente, Teocracia em Vertigem perde força justamente por abrir mão das sutilezas. Tudo é muito mastigado e, por vezes, estridente. Ainda assim, tem mais força do que seu antecessor, que apesar de ter causado alvoroço, parecia mais interessado na polêmica do que em abordar, de fato, as contradições entre o discurso e a prática de algumas instituições religiosas. 

Entre as participações especiais da obra estão Daniel Furlan, Emicida, Gabriel Louchard, Hélio de la Peña, Marcos Palmeira, Raphael Logam, Renato Góes, Teresa Cristina e Yuri Marçal. No elenco também estão os fundadores do grupo - Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier e João Vicente de Castro - e atores fixos do Porta, como Evelyn Castro, Fábio de Luca, Gabriel Totoro, Noemia Oliveira, Pedro Benevides, Rafael Infante, Rafael Portugal e Thati Lopes.

Talvez mais importante do que fazer rir - ou ainda o nível de refinamento do humor aqui presente -, os especiais de Natal do Porta dos Fundos têm cumprido a missão de colocar em pauta assuntos pertinentes, necessários, utilizando como base um tema delicado, que é a religião. Ainda mais em um país como o Brasil, em que as bancadas religiosas e as igrejas têm cada vez mais influência política, colocando cada vez mais em debate a premissa de um Estado laico. 

Teocracia em Vertigem pode ser assistido no canal do Porta dos Fundos no YouTube.

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