Talento

Diva Menner: cantora, negra, trans e realizada

Artista recifense que conquistou o País como semifinalista do 'The Voice Brasil' transborda representatividade através de sua voz

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 24/12/2020 às 8:00
DAYVISON NUNES/JC IMAGEM
Talentosa, Diva Menner considera ter encontrado sua alma quando passou por transição de gênero, há seis anos - FOTO: DAYVISON NUNES/JC IMAGEM

No dicionário, diva, em sentido figurado, é uma "mulher da qual alguém fez sua musa inspiradora". Aqui no Recife, se a palavra for escrita com a inicial maiúscula, possivelmente falamos de alguém especial com nome e sobrenome: Diva Menner.

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E assim como a definição acima, Diva transborda inspiração. Como mulher trans e preta, esta artista de 36 anos chamou a atenção não só de Pernambuco, como do País inteiro, com o seu talento ao ser semifinalista pelo Time IZA do The Voice Brasil, da TV Globo. Talento esse, que veio desde a infância.

"Eu sou pisciana, então, a gente já nasce com essa aptidão para a arte. Eu gostava de dançar, já cantava e desenhava muito bem, pintava. E aí eu percebia que alguma coisa, na arte, já me chamava a atenção. Só não sabia que eu seria uma cantora, que eu viveria de música, de arte", relembra Diva Menner, em entrevista ao Jornal do Commercio.

Ainda pequena, Diva cantava em casa as músicas de artistas que a inspiravam como Alcione, Whitney Houston, Aretha Franklin, Elza Soares e Sandra de Sá - "Todas essas divas maravilhosas negras, lindas e empoderadíssimas", como ela própria define. Aos 19 anos, estudou canto lírico no Conservatório Pernambucano de Música. Durante sete anos, estudou canto erudito e, depois disso, foi trabalhar em um bar de garçons cantores.

"Quando consegui viver com a minha própria arte financeiramente, pagar as minhas contas com a música, me senti realizada. Disse a mim mesma que eu era capaz. E não me vejo fazendo outra coisa", ressalta a cantora.

TRANSFORMAÇÃO

Aos 30 anos, Diva Menner passou por uma transição. Para ela, foi o momento crucial para encontrar seu eu por completo: "Foi uma transição muito tranquila. Eu fiz já sabendo o que eu queria da minha vida. Eu joguei para cima 15 anos de carreira e disse a mim mesma: 'Eu quero ser feliz'. Encontrei a minha felicidade no momento que eu fiz a transição hormonal. Adequei o meu corpo à minha alma, porque até então eu era uma artista sem alma".

De artista sem alma, Diva Menner cresceu e apareceu. Em 2019, foi convidada para ser solista da Orquestra de Câmara de Pernambuco, onde já se apresentou no Teatro Santa Isabel e no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG). E agora, após a vitrine do The Voice Brasil - onde foi a primeira mulher trans da história do reality musical - a ideia é seguir levando o seu talento e representatividade.

"Foi uma passagem muito forte, marcante e importante ter a Diva Menner no The Voice Brasil. Não só para mostrar o meu trabalho, mas também para dismistificar tanta coisa negativa que existe na cabeça das pessoas em relação às pessoas trans e travestis. Eu sempre falo que se você der uma oportunidade, uma chance a uma travesti, para fazer qualquer função - pois somos capazes de exercer qualquer função na vida, na arte, na medicina, em tudo - você pode mudar a vida dessa pessoa para sempre. Acredito que a maioria delas estão na prostituição porque elas não têm oportunidade. E o programa veio quebrando essas barreiras de representatividade", reflete Diva.

Agora, pensando no futuro, o momento é de aproveitar a visibilidade conquistada. "Estou correndo contra o tempo agora. Estão vindo coisas muito bacanas. Tem projeto com músicas autorais, parcerias maravilhosas que estão surgindo. E eu tenho que aproveitar esse momento", antecipa.

Ciente do seu enorme talento como cantora, Diva Menner vai seguir marcando seu nome como fonte de inspiração para muitas pessoas, independente de classe social, raça ou gênero. "Eu sou a prova viva de que se você sonhar, não importa quando você vai realizar, mas um dia você realiza. Foi assim que aconteceu comigo: tudo foi muito difícil, distante e tardio na minha vida. Eu tenho 36 anos hoje e sempre sonhei. Além de pisciana, eu sou uma eterna sonhadora. E um recadinho que deixo para as minhas irmãs trans e travestis é que vale a pena sonhar, mas melhor ainda é conseguir realizar. O segredo é não desistir nunca", conclui a artista.

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