Como estariam Recife e Olinda se tivéssemos Carnaval em 2021?
Você imagina como estaria a contagem regressiva? Que blocos estariam prestes a desfilar? A gente relembra um passado não tão distante que dá muita saudade
Em fevereiro de 2020, o coronavírus era um problema que já assolava a Ásia e a Europa, mas ainda configurava como uma ameaça que (ingenuamente) não causava temor nos brasileiros. Por aqui, dominava o clima de alegria e fervilhamento resultado da combinação do calor do verão e a excitação dos foliões prontos para receber o Carnaval. Em Pernambuco, as ruas eram dominadas por blocos, cores e frevo, com uma grande parcela da população aproveitando até o último momento da Quarta-feira de Cinzas, sem saber, ainda que aquele seria o início de um ciclo completamente atípico.
Um ano depois, o cenário parece distante: com o Carnaval 2021 suspenso, a memória da folia de outros tempos, quando três latões de cerveja (quente) por dez reais, aglomeração, suor e fantasias ganham conotações quase nostálgicas. Há poucos dias do que seria o Carnaval, não temos os bailes, não temos as troças, não há, pela primeira vez em 43 anos, o Galo da Madrugada armado sobre a ponte Duarte Coelho, olhando imponente para os bairros de Santo Antônio e São José.
O Carnaval representa muito para o Brasil, é uma de suas festas mais tradicionais, talvez uma de suas características mais conhecidas internacionalmente. Para Pernambuco, a Folia de Momo é não só importante, como parte de sua identidade. A festa tem características próprias no Estado, com o frevo ecoando durante os quatro dias de festividade, em diálogo com os mais variados ritmos, como, inclusive, já virou característica do período, especialmente no Recife.
Na capital pernambucana, o Carnaval virou sinônimo de multiculturalidade e costuma conquistar até aqueles que diziam não gostar da festa. Tem rock, maracatu, MPB, brega, pop, música eletrônica, forró, caboclinho, hip hop, só para citar alguns. Em uma sociedade tão desigual como a brasileira, o período representa uma possibilidade de, minimamente, amenizar as disparidades e colocar uma multidão na rua, em uma massa que pula que "pula que nem pipoca".
Não estivéssemos em uma pandemia, desde o final de novembro, o Centro Histórico de Olinda já começaria a ser ocupado, aos fins de semana, com os foliões ansiosos para a chegada da grande festa, meses depois. Em Pernambuco, é natural que 100 dias antes do Carnaval já se comece a contagem regressiva. É como se uma chave virasse e as coisas, de repente, ficassem um pouco mais leves.
No "velho normal", este seria um momento de preparação para o Baile Municipal, um dos últimos remanescentes do período áureo de festividades do tipo, que reuniam famílias e foliões para celebrar antecipadamente a chegada do Carnaval em casas de show e clubes.
Também se estaria pensando nas fantasias, com o centro do Recife lotado de foliões correndo atrás dos últimos detalhes para montar suas indumentárias. No vuco-vuco, adereços ajudariam a dar vida aos sonhos mais loucos, aos desejos muitas vezes reprimidos que só no Carnaval alguns se permitem vivenciar.
Plural como nenhum outro, o Carnaval de Pernambuco não se resume às expressões características do Recife e de Olinda. No interior do Estado, várias cidades mantêm comemorações únicas que reúnem milhares de foliões. É o caso de Bezerros, com seus papangus, os Tabaqueiros de Afogados da Ingazeira; os caboclinhos de Goiana, o maracatu rural de Nazaré da Mata; as caiporas de Pesqueira, as caretas de Triunfo, só para citar alguns.
Enquanto não podemos nos reunir novamente, sentir o calor da rua e o som dos clarins, dos tambores e dos paredões tomando conta de Pernambuco, nos agarramos às memórias de carnavais inesquecíveis e do poder catártico e transformador dessa festa que é mais do que uma data. É parte do tecido social brasileiro, com suas contradições, beleza e caos. Que em 2022 possamos estar todos juntos, não mais vivendo de #tbt (hashtag do Instagram, postada às quintas-feiras, em que os usuários publicam imagens antigas).
Lembre os blocos e eventos que aconteceriam nesta semana pré-Carnaval:
As Virgens do Bairro Novo, em Olinda
Baile Municipal do Recife
Noite Dos Tambores Silenciosos, em Olinda
Bloco Garoto Da Noite, em Olinda
Homem da Meia Noite, em Olinda
Bloco Segure O Avião
Os Barba
Porto Musical
Olinda Beer
Cariri Olindense
Trinca De Ás
Bloco Escuta Levino, na Praça Maciel Pinheiro
Ceroula de Olinda