Johnny Hooker recorda debute solo no DVD 'Macumba Ao Vivo Em Recife'
Registro feito em 2016 chegou na madrugada desta sexta-feira (7) aos streamings de áudio e no YouTube
Era uma quinta-feira, 21 de abril, feriado de Tiradentes, cinco anos atrás. Garotos e garotas vestidos de preto, com maquiagens marcantes nos olhos, lotavam a entrada do Baile Perfumado, no Recife. O motivo: Johnny Hooker faria naquela noite o derradeiro show de Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!, turnê de seu álbum de estreia solo, lançado um ano antes. Foi o registro deste tempo de descobertas, eternizado em um Brasil agora tão distante, que o cantor e compositor lançou à meia-noite de hoje, em formato de DVD.
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Macumba Ao Vivo Em Recife tem 16 faixas, entre as presentes no disco - a exemplo de Alma Sebosa, Segunda Chance e Amor Marginal - e extras, interpretadas ao lado de convidados. Na bagagem, traz também um clima nostálgico-esperançoso que o anfitrião imagina que dividirá com quem o assistir.
"Desejo que seja um portal de esperança de que a gente vai voltar a aglomerar bem juntinho, um cheirando o cangote do outro", conta Johnny, por telefone, ao JC. Ele está em São Paulo, onde mora e tem passado a pandemia. Neste período, vem intercalando instantes de grande preocupação com a situação do País e imersões em processos criativos. A finalização do DVD, adiada por compromissos como o lançamento de seu segundo disco, Coração (selo Natura Musical, 2017), foi um dos trabalhos para o qual se dedicou.
"Qualquer lançamento que fazemos hoje fica no meio dessa confusão, da crise política e sanitária, do abandono e desse assassinato em massa que está sendo promovido", opina Johnny Hooker quando perguntado sobre como seria a receptividade ao seu disco de debute, caso fosse lançado atualmente. "Como a situação está muito, muito grave, a gente acaba tendo menos oportunidade de olhar e aproveitar as coisas. Ao mesmo tempo, é importante que tenha arte, música, cinema, para, além de entreter, fazer refletir. Na época, [Macumba, o álbum] foi um pequeno fenômeno. As pessoas reproduziam o figurino, abraçaram muito. Foi um disco que viralizou bastante, é um favorito cult dos fãs".
Aqui, Johnny Hooker relembra fala do ator Paulo Gustavo, proferida durante um programa especial de fim de ano, exibido em dezembro pela TV Globo: "rir é um ato de resistência". Paulo faleceu na terça-feira (4), aos 42 anos, por complicações da covid-19, após quase dois meses de internação.
Johnny ressalta ainda outro acontecimento recente e que o deixou feliz pelo carinho com sua obra. O vídeo exibido antes da eliminação de Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, economista pernambucano, participante e quarto colocado do Big Brother Brasil 21, teve a música Flutua, faixa de Coração, como trilha sonora. Para ele, representação de como o segundo álbum expandiu o alcance de público, com viés mais popular. "O primeiro é mais dark, mas os fãs são apaixonados. Me deixa muito feliz".
"Era um momento de muita felicidade, havia um Brasil possível ali", destaca o artista sobre a época da gravação do DVD, cujo público foi de quatro mil pessoas. "Embora tivéssemos um governo que não era perfeito, estávamos avançando em tantas coisas... avançando, inclusive, contra a corrupção, que foi o grande alicerce das eleições de 2018. O próprio Gil do Vigor entrando na universidade é [um símbolo de] um pouco de reparação histórica que estava acontecendo ali. Mas nem tudo está perdido. Temos uns aos outros. E temos a arte brasileira, que é gigante, incrível, múltipla, diversa. Outro dia, Tom Zé disse que a nova música brasileira não perde em nada para a música tropicalista. E eu concordo com ele".
NOVO ÁLBUM
Estímulo semelhante para sobrevivência como artista e indivíduo foi a feitura do próximo álbum, inspirado no livro Orgia - Os Diários de Tulio Carella, Recife 1960. A biografia reúne relatos sobre as paixões que o dramaturgo argentino referido no título viveu no Recife sessentista.
"Ele era gay e encontra libertação sexual longe de casa, no Recife, ainda uma cidade portuária, no auge da vida noturna do Centro", reforça Johnny. "Assim como no momento em que estamos vivendo, enquanto ele escrevia esses diários, a onda de militarismo e autoritarismo voltou a pairar com tudo em cima da América Latina. Vi um paralelo com o instante que passamos e com meu próprio momento pessoal de libertação sexual. Resolvi estabelecer uma conversa com o tempo", diz.
A previsão é que o sucessor de Coração chegue no último trimestre deste ano.
PARCEIROS
No DVD, cantam ao lado de Johnny Hooker Otto, com Ciranda de Maluco e Garçom, de Reginaldo Rossi; Karina Buhr, nas suas autorais Amor Brando e Eu Sou Um Monstro; Fafá de Belém, em Vermelho e Abandonada - lançada em videoclipe, como teaser, em fevereiro; e Isaar, com Azul Claro e Álcool (Bolero Filosófico), do DJ Dolores, para a qual deu interpretação visceral no longa Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda. "É fenomenal, uma cantora por quem tenho muita admiração", sublinha Johnny Hooker.
Crise de Carência, que viria a ser faixa de Coração, também ganhou registro ao vivo.
Já a banda teve Felipe Rodrigues na guitarra, Joana Cid (baixo), Eduardo Guerra (bateria), Rafael Céu (violão), Thiago Duarte (percussão), Arthur Dantas (teclado), Alan Ameson (trompete) e Neris Rodrigues (trombone).
Macumba Ao Vivo Em Recife foi dirigido por Maria de Médicis. Está disponível para audição no streaming e em versão audiovisual no canal youtube.com/TheJohndonovan. Uma possível edição física ainda está em análise.
Assista: