Com medo do Talibã, afegãos fãs de BTS queimam e escondem álbuns e pôsteres do grupo de K-Pop
De acordo com afegãos, durante o período de 1996 a 2001, quando o Talibã controlou o Afeganistão, os moradores eram proibidos de ouvir músicas de sucesso de outras partes do mundo
Medo e incerteza rodeiam os afegãos desde que seu país foi tomado pelo Talibã na última semana. Num momento de tanta insegurança, a população teme os próximos passos do grupo extremista e tem buscado alternativas para evitar possíveis represálias. É por isso que, de acordo com o telejornal sul-coreano JTBC News, alguns afegãos fãs do grupo de K-Pop BTS estão queimando ou escondendo álbuns e pôsteres da banda com medo de que os objetos sejam alvos de retaliação.
"Eu fiquei com muito medo e surpresa que o Talibã voltou. Estou apavorada, depois que ouvi que eles estão sequestrando meninas. Desde que eles assumiram o poder, eu não saio mais de casa. Eu não posso mais ouvir as músicas que eu ouvia na rua. O dia todo só ouço a música estranha do Talibã", revelou uma jovem afegã ao telejornal.
Muitos dos entrevistados afirmaram que agora precisam ter cuidado redobrado em tudo que fazem, até mesmo em tarefas simples como olhar pela janela. Outra fã do grupo relembrou ainda que no período de 1996 a 2001, quando o Talibã controlou o Afeganistão, os moradores eram proibidos de ouvir músicas de sucesso de outras partes do mundo. "Essa situação nos forçou a queimar ou esconder as fotos e os álbuns do BTS", desabafou.
Influencers desaparecem
Uma matéria da AFP mostrou o medo enfrentado pelas celebridades afegãs. Uma cantora chamada Aadiqa Madadgar, estrela no Instagram e no YouTube, teve seus sonhos colocados em risco com a chegada do Talibã. A situação é a mesma para muitos "influencers" e criadores de conteúdo do país, que acumulam milhares de seguidores nas redes sociais mas que agora temem ser alvos do grupo.
Esta artista de 22 anos, que participou do programa de televisão "Afghan Star", tornou-se famosa por sua voz.
Muçulmana praticante, com a cabeça coberta por um véu, ela passava o dia enviando vídeos descontraídos, sobre sua arte e sua rotina, para seus 21.200 inscritos no YouTube e 182.000 seguidores no Instagram. Em 14 de agosto, porém, mudou radicalmente de tom e, pela primeira vez, falou sobre política em sua conta.
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"Não gosto de mostrar minhas tristezas online, mas estou farta de tudo isso", escreveu. "Meu coração se parte quando vejo minha terra, minha pátria lentamente destruída". No dia seguinte, os combatentes talibãs tomaram Cabul e, desde então, ela não postou mais. Milhões de afegãos, especialmente mulheres e minorias religiosas, temem que suas postagens nas redes sociais possam comprometê-los.
Muitos se lembram da visão ultraortodoxa da lei islâmica que o Talibã impôs durante seu governo anterior, onde as mulheres eram proibidas de sair de casa sem um acompanhante familiar do sexo masculino, assim como de trabalhar e de estudar.
Com 290.000 seguidores no Instagram e 400.000 no TikTok, Ayeda Shadab é um ícone da moda para muitas jovens afegãs. E ela já mostrava medo das consequências do regime talibã para mulheres que, como ela, trabalham no setor da moda.
"Se os talibãs tomarem Cabul, pessoas como eu não estarão seguras", disse Ayeda à rede alemã ZDF durante uma entrevista recente. "Mulheres que, como eu, não usam véu e trabalham, não são aceitas", acrescentou.
Horrorizada com a chegada dos talibãs, ela disse que estava pronta para fugir. Recentemente, anunciou que estava na Turquia. Outras celebridades e "influencers" seguiram seus passos.
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Alvo de retaliação
Seguindo inúmeras recomendações de ativistas, jornalistas e associações, o Facebook anunciou novas ferramentas para os usuários afegãos bloquearem rapidamente suas contas. A rede afirmou que há anos considera o Talibã uma "organização terrorista", razão pela qual bloqueia suas contas nesta plataforma e no Instagram.
A organização norte-americana de defesa dos direitos humanos Human Rights First publicou uma série de dicas em dari e em pashto, idiomas oficiais no Afeganistão, sobre como suprimir a presença de um usuário na Internet.
Para Raman Chima, responsável do grupo de defesa da Internet Access Now na Ásia, as redes sociais devem se concentrar na avaliação de possíveis mensagens que incitem a violência.
Ele explicou à AFP que os autores das publicações "podem ser alvo de retaliação, ser considerados infiéis, ou contrários ao Islã, não apenas aos olhos do Talibã, mas também aos olhos de outros grupos extremistas religiosos do país".