OPINIÃO

Público precisa respeitar vitórias de Marina Sena no Prêmio Multishow

Ataques sofridos pela cantora mostram como as redes sociais não diferem opiniões pessoais do ódio coletivo

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Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 13/12/2021 às 15:42 | Atualizado em 13/12/2021 às 19:38
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Os ataques sofridos pela cantora Marina Sena após as vitórias no Prêmio Multishow, realizado na última quarta-feira (8), mostram como as redes sociais não diferem opiniões pessoais do ódio coletivo. A mineira, que emplacou sucessos com o álbum "De Primeira" (2021), venceu as categorias Revelação (votação do júri), Experimente (votação popular) e Capa do Ano (júri) e vem sofrendo uma avalanche de comentários desrespeitosos que resultaram na queda da sua conta do Instagram nesta segunda-feira (13).

Em comunicado publicado nesta sexta, ela afirma que a rede social ainda não informou o motivo do ocorrido. "Muita gente me fala: seja forte, sucesso é assim! Mas eu não posso achar normal isso, nem ninguém deveria, isso mostra a decadência em que se encontra a sociedade e quantos artistas incríveis a gente deve perder pra maldade", escreveu.

É provável que a conta tenha sido denunciada sistematicamente, prática que já é comum entre "fandoms" na internet. Na última sexta-feira (10), ela desabafou no Twitter ao dizer como era difícil ser mulher na música. "Cê começa a crescer e as pessoas já colocam o mérito das suas conquistas em algo que não é você", escreveu.

Nas respostas, muitas pessoas diziam que os prêmios deveriam ter sido para João Gomes, pernambucano do piseiro que concorria nas mesmas categorias. "A questão não é você ser mulher. É sobre sua música e sua voz ser bem ruim e sobre o João Gomes ter muito mais sucesso em praticamente todas as suas músicas e não ter ganhado", respondeu um usuário.

O próprio João Gomes lamentou não ter ganhado. "Eu quero confessar que até fiquei meio triste por não ter ganhado nenhum prêmio naquele dia. Mas me fez pensar pelo lado positivo em todas as bênçãos que Deus já tinha mandado”, escreveu no Instagram, ao publicar uma foto sua em telão da Times Square, em Nova York.

Premiações e práticas nocivas no digital

Esse caso joga luz numa questão já antiga em relação às premiações. A era da comunicação digital tem transformado esse formato pelo mundo. O Grammy tem sofrido boicote dos próprios artistas pela falta de diversidade e controvérsias acerca das decisões da academia. Também por críticas nas redes, o Oscar teve a sua edição com mais diversidade neste ano, premiando mais mulheres, negros e artistas de fora dos Estados Unidos.

O que ocorre em relação ao Prêmio Multishow, na verdade, tem a ver com uma outra faceta da pressão das redes. Insatisfações de fãs são comuns na história da cultura popular, mas a possibilidade da articulação digital pode ser muito nociva.

Nas respostas ao desabafo de Marina Sena, os defensores de João Gomes falam que ele mereceu mais por ter maiores números nas plataformas, maior popularidade entre o público e "uma voz melhor". Ora, o prêmio Experimente teve votação popular. Venceu o fandom mais dedicado. Em relação ao Prêmio de Revelação, apenas os "superjurados" podem dizer exatamente porque deram preferência à mineira.

Decisão precisa ser respeitada

João Gomes e Marina Sena são artistas jovens e que conseguiram visibilidade por redes sociais, como o TikTok. Contudo, percorrem caminhos distintos e atingem públicos diferentes. O pernambucano foi descoberto pelo Sua Música, marca relacionada ao forró, e teve apoio de uma grande equipe de comunicação e de mercado da música digital. A mineira foi integrante da banda Rosa Neon e tem uma trajetória mais independente e que dialoga com a cena alternativa e apreciadores da MPB.

Como hoje a maior parte do público consumidor vive dentro de "nichos", talvez seja difícil para os fãs de João Gomes reconhecerem o valor de Marina Sena. As suas vitórias, no entanto, precisam ser respeitadas. O "De Primeira" é um ótimo álbum, que veio para ajudar a atualizar as noções da nova música pop brasileira. Isso também não diminui o impacto do fenômeno do piseiro.

Por fim, existe um aspecto que muitos não estão levando em conta: o apoio público de João Gomes ao DJ Ivis, solto após três meses preso por agressões físicas à então companheira Pamela Hollanda. Ele tem total liberdade para apoiar, é claro. Mas esse apoio foi calculado pela equipe do jovem pernambucano, sendo um forte posicionamento nos dias de hoje. Se isso pesou ou não, o importante é reconhecer que tudo possui consequências.

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