PATRIMÔNIO

Após anos de abandono, casa de Clarice Lispector pode se tornar centro cultural

Localizado na Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista, casarão está abandono e sem uso para fins culturais

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Bruno Vinicius

Publicado em 01/02/2022 às 15:30 | Atualizado em 02/02/2022 às 11:11
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Embora sustente um orgulho por ter tido Clarice Lispector como moradora, Recife nunca guardou sua memória como deveria. Um dos locais que evidencia esse abandono com a história da escritora é o casarão em que ela passou parte da infância, localizado à Praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. Após anos de cobranças de admiradores e pesquisadores da autora, o prédio tem a possibilidade de reforma com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

Nesta terça-feira (5),o presidente da instituição, Antônio Campos, entregou um ofício ao ministro do turismo, o pernambucano Gilson Machado Neto, solicitando apoio para que o local se torne o Centro Cultural Clarice Lispector. Situado no número 367, na esquina com a Travessa do Veras, o casarão está abandonado e em desuso. Hoje, ele pertence à Santa Casa de Misericórdia. "A Fundaj tem um projeto sobre o restauro da Casa e carta de permissão da Santa Casa de Misericórdia para executá-lo", disse Campos.

Segundo comunicado da Fundação, Antônio Campos se reuniu com o secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, e com Moisés Wolfenson, que representa a família de Clarice em Pernambuco. "A família de Clarice pretende doar valiosos pertences da escritora para o Centro Cultural, reforçando sua forte ligação com o Recife, que foi sua geografia cultural fundadora", contou o presidente.

Em 2020, a Fundaj já havia encaminhado um pedido de restauro, no centenário da escritora. A reforma do casarão, caso se fique próximo ao período em que ela viveu no Recife, está orçada em R$ 1,8 milhões. A Fundação Joaquim Nabuco concorria, inclusive, a um edital do Ministério da Justiça e Segurança Pública para conseguir os recursos.

"Gostaríamos de não apenas transformar num local de preservação da memória de Clarice, mas também de sua família. Elisa, a irmã mais velha, tem um papel importante. E como estamos falando de memória cultural da cidade, esses espaço também será dedicado a outros escritores pernambucanos desse mesmo recorte temporal. O objetivo é fazer do sobrado uma extensão da Fundação, um centro dedicado a ações de literatura", disse Mário Hélio, que está à frente da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), à época ao JC.

Abandono da memória 

Quem passa pelo local, em frente ao casarão ou à estátua da Maciel Pinheiro, só identifica a ligação de Lispector com a cidade a partir de placas indicativas. Assim como boa parte do Centro, a área não tem plano de moradia popular - a qual é tomada por pessoas em situação de rua -, além da sujeira, falta de restauro e o predomínio de pombos. No mês passado, a Prefeitura do Recife (PCR) chegou a apresentar um novo modelo para a urbanização do Centro da Cidade, que ficou conhecido como Recentro, que prevê a requalificação dos bairros que fazem parte da área central.

No lançamento da nova biografia e documentário sobre Lispector, a biógrafa Teresa Montero e a cineasta Taciana Oliveira criticaram a falta de lembrança que a cidade guardava da escritora. "Não adianta a gente reformar sem a gente urbanizar. O recife como um todo não pensa numa memória sobre as pessoas que fazem cidade. Como a gente vê a casa de Clarice, tem também a casa de Joaquim Cardoso. A gente não tem memória", disse Taciana.

Hoje, não há nenhum espaço que se dedique a preservar a memória de Clarice no Recife, diferente do Rio de Janeiro. A própria Teresa Montero, que tem um acervo sobre a escritora, tem o desejo de doar o material para a Capital Pernambucana. Há livros sobre a obra de Clarice, artigos em jornais e revistas. A obra dela editada por várias editoras, xerox de documentos do acervo de Clarice na Fundação Casa de Rui Barbosa estariam entre os documentos apresentados pela autora.

Museu do Cangaço

Junto ao documento entregue ao ministério do turismo, a Fundaj também encaminhou um pedido de apoio na criação do Museu do Cangaço. "Ambos são projetos que impulsionarão o turismo da Região Nordeste. Clarice é uma escritora aclamada mundialmente. E o tema cangaço, enraizado na Região, ainda carece de um espaço que reúna sua memória", ressaltou o presidente da Fundaj.

O equipamento cultural está sendo projetado para ser instalado no primeiro andar do Museu do Homem do Nordeste, no campus Casa Forte da Fundaj. Por sua vez, ele contará com o acervo do historiador, escritor e colecionador, Frederico Pernambucano de Mello. Frederico é autor de títulos como "Guerreiros do Sol", de 1985, e "Estrela de couro: a estética do Cangaço", de 2010. As obras dele o tornaram uma das principais referências na pesquisa do cangaço no Brasil.

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