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'Pantanal': Nova versão se passa nos dias de hoje, com tecnologia e bioma devastado; Saiba o que mudou

Bruno Luperi, responsável pela adaptação da obra, e Rogério Gomes, diretor artístico, detalham os aspectos da grande aposta da Globo neste ano: 'A agonia do bioma, a maneira como ele responde à ganância do homem, está muito presente'

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Emannuel Bento

Publicado em 15/03/2022 às 19:49 | Atualizado em 21/03/2022 às 17:03
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A nova "Pantanal", que estreia no horário nobre da TV Globo em 28 de março, será uma grande homenagem à obra original de Benedito Ruy Barbosa. Seguindo essa linha, não haverá grandes alterações na história ou nos personagens, mas sim mudanças naturais pela ambientação nos nossos dias. Isso impacta a relação com a tecnologia ou a destruição do bioma, que será mostrada através das imagens.

Leia também: Tanto em 1990 quanto agora, 'Pantanal' estreia num Brasil arrasado

O autor responsável pela adaptação, Bruno Luperi, neto de Benedito, e o diretor artístico Rogério Gomes detalharam vários aspectos da grande aposta da Globo neste ano durante coletiva de imprensa realizada na segunda-feira (14).

A trama retoma a saga da família Leôncio no pantanal de Mato Grosso. Joventino (Irandhir Santos) chega às terras acompanhado do primogênito José Leôncio (Renato Goés/Marcos Palmeira). Ele desaparece após sair sozinho para caçar bois e o filho promete, então, caçar todos os dias na esperança de encontrar seu pai, tornando-se assim um dos principais criadores de gado da região. A segunda fase marca a chegada de Jove (Jesuíta Barbosa), filho de José, que foi criado no Rio de Janeiro.

JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
REMAKE Zé Leôncio (Renato Goés) na primeira fase de 'Pantanal' - JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
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REMAKE Zé Leôncio (Renato Goés) e Filó (Leticia Salles) na primeira fase de 'Pantanal' - JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
PAR Filó (Dira Paes) e Zé Leôncio (Marcos Palmeira) vão marcar a segunda fase da novela - JOÃO MIGUEL JR/GLOBO

A nova versão ainda conta com Juliana Paes (Maria Marruá), Dira Paes (Filó), Osmar Prado (Velho do Rio), Enrique Diaz (Gil), Camila Morgado (Irma Braga Novaes), Murilo Benício (Tenório Nogueira) e Almir Sater (o chalaneiro Eugênio), que esteve na primeira versão. A icônica Juma, mulher que se transformava em onça, será vivida por Alanis Guillen.

"Os personagens já estão muito implícitos na obra do Benedito, então quando escalamos esse elenco foi um pouco difícil de fugir de 30 anos atrás. Escalamos por adequação. Como os personagens são bem fortes, nós pensamos bastante", explica o diretor Rogério Gomes.

"Estamos mexendo em algo que é muito grande, que contribuiu no folclore e na cultura mato-grossense. O pantanal é como um tesouro escondido, o último santuário da natureza daquela região. Não existe ninguém na produção maior do que essa obra, da forma como ela merece e precisa ser feita, admite Bruno Luperi.

O que vai mudar?

A frase "não tem como fugir da versão original", inclusive, foi constantemente repetida na coletiva. O autor Bruno Luperi ressaltou que o respeito pela obra de Ruy Barbosa foi o ponto de partida para a produção. “Essa é a obra mais relevante da carreira do meu avô, do meu ponto de vista. Os personagens têm a natureza deles, o que é imutável. Se você for mudar, tem que partir de um contexto", diz.

"Tomei um susto quando recebi uma ligação sobre a negociação de 'Pantanal', no final de 2019. Meu avô só aceitaria se eu fizesse, por conta de uma ideia de falar sobre o Brasil profundo. A novela está no meu imaginário, pois cresci ouvindo sobre os mitos, as lendas. Ele vai fazer 91 anos agora e tem muito zelo, um nível de intimidade muito grande com a obra, algo que só dá pra alcançar se você se entrega para o texto de forma visceral."

JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
REMAKE Osmar Prado vive o marcante Velho do Rio na nova 'Pantanal' - JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
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REMAKE Zé Leôncio (Irandhir Santos) na segunda fase de 'Pantanal' - JOÃO MIGUEL JR/GLOBO

Apesar de conservar as principais temáticas e estrutura, quem assistiu o sucesso de 1990 notará algumas diferenças. Na versão original, por exemplo, Cláudio Marzo interpretou Joventino, José Leôncio e o Velho do Rio, que agora são vividos por Irandhir Santos, Renato Goés/Marcos Palmeira e Osmar Prado, respectivamente.

"Olhando para o texto, não tinha essa necessidade de ser um mesmo ator. José Leôncio não é uma cópia do pai, e o velho Joventino é quase uma entidade. Na versão original, isso ocorreu até por uma questão de logística da época. Marzo assumiu os três papéis por obra de acaso, mas fez brilhantemente", diz Luperi.

Também existem mudanças decorrentes da passagem do tempo, já que a nova novela não se passa nos anos 1990. "O tempo é um agente primordial para o Pantanal. Há 30 anos, a grande inovação tecnológica lá era o rádio. Hoje, a internet chegou e as fronteiras desapareceram. O pantanal se tornou algo mais estilístico, pois o José Leôncio deixou a fazenda presa ao passado, do jeito que estava quando o pai saiu. Antes essa barreira era natural, hoje é uma escolha. Apesar desse advento do tempo, que é bem presente, as mudanças serão vistas de forma bastante orgânica, pois é a mesma história que estamos contando."

Novela mostrará a destruição do bioma?

Em 2020, um conjunto de pesquisadores publicaram um artigo que revelou que o pantanal sofreu a maior tragédia de sua história. Incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares, sendo praticamente 26% do bioma - uma área maior que a Bélgica. De acordo com o autor, essas mudanças pela ação do homem serão vistas através das imagens. "Esses 30 anos que passaram são muito intensos na mudança. Antes, o Jayme Monjardim [que fez a direção geral em 1990] gravava muito a água. Agora, precisamos de muita poeira", diz Bruno Luperi.

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ELENCO Pernambucanos Irandhir Santos e Renato Góes interpretam, respectivamente, Joventino e José Leôncio, na primeira fase da novela, que estreia no dia 28 de março - JOÃO MIGUEL JR/TV GLOBO
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NOVELA Joventino (Irandhir Santos) na primeira fase no remake de "Pantanal" que estreia dia 28 de março na TV Globo - JOÃO MIGUEL JÚNIOR/GLOBO

"Na primeira versão, meu avô lançou com um tom quase profético a relação entre o Velho do Rio e o Pantanal. A novela antecedeu a Conferência Rio-92. Hoje, essa questão da natureza ficou cada vez mais sensível, intensa, e o Pantanal está gritando cada vez mais alto. Parece que ele alertou sobre algo há 30 anos e as pessoas não escutaram. Vamos repetir esse alerta, mostrando paisagens em que o bioma não existe mais. Essa agonia do bioma, a maneira como ele responde à ganância do homem, está muito presente."

O diretor Rogério Gomes acrescenta que "o pantanal é o grande protagonista dessa história". "Você vai para lá e se sente em outro planeta. Tem uma energia muito forte. Se você estiver bem, sairá bem, se estiver mal, sairá pior, Você é expulso se não andar junto com a natureza. Com todo o respeito e carinho, a relação nos deu bons frutos."

Trilha sonora

Um dos aspectos marcantes de "Pantanal" da Manchete foi a trilha sonora marcada por músicas de um Brasil profundo, a começar pela abertura do Sagrado Coração da Terra, composta por Marcus Viana. A produção também quer preservar esse aspecto.

"Buscamos uma contemporaneidade, da mesma forma como a novela está sendo atualizada", diz Rogério Gomes. "Não tem como fugir da viola, do violeiro. Sobre a música do Marcus na abertura, ainda estamos em estudo se regravamos, se mantemos, se colocamos outra pessoa para representar esse ícone. Queremos fazer homenagens, deixando códigos da novela".

"Pantanal" ainda conta com direção de Walter Carvalho, Davi Alves, Beta Richard e Noa Bressane. A produção é de Luciana Monteiro e Andrea Kelly, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.

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