Suspensão do São João do Recife é criticada por artistas, entidades e políticos: 'Duplamente de luto'
Classe artística afirma que município tem outros orçamentos para remanejar a verba necessária para poiar as famílias atingidas pelas chuvas
Artistas beneficiados ou não pelo Ciclo Junino do Recife se manifestaram sobre a suspensão da programação, decisão anunciada nesta segunda-feira (31). O prefeito João Campos informou que destinaria os R$ 15 milhões da Cultura para ações de ajuda às vítimas das enchentes.
Na tarde da segunda, o prefeito chegou a falar sobre um Ciclo Junino no segundo semestre, no verão, porém sem maiores detalhes da viabilidade dessa programação.
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Durante o dia, diversos nomes da cultura usaram das redes para se pronunciar. "Compreendemos a situação dos que perderam seus familiares e suas casas, estou aqui solidário e atento aos acontecimentos, mas também estamos há mais de dois anos sem eventos e sem nossa tradição junina", publicou o cantor e compositor Petrúcio Amorim.
O cantor e músico Maciel Salú publicou uma longa carta aberta ao prefeito, assinando ao lado dos produtores Rute Pajeú e Danilo Carias: "Suspender o São João, sobretudo nesse momento de retomada das atividades culturais de forma presencial, é tirar a esperança de quem vive de e para a cultura", diz.
"O Recife tem outros orçamento de onde pode remanejar a verba necessária para apoiar as famílias que perderam suas casas. Sobretudo, há a possibilidade de repensar também o reforço às ações de assistência social de média e alta complexidade, dando o devido cuidado e atenção à população", completou o trio.
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O ACORDE Levante Pela Musica PE, criado durante o ápice da pandemia da Covid-19, também publica que afirma que a cultura pernambucana "está duplamente de luto".
"Músicicistas, artistas, técnico/as, produtore/as que moram em áreas de risco no Estado também perderam bens, casas, parentes e amigos por conta das cheias e deslizamentos durante as fortes chuvas. E depois de dois anos de pandemia que retirou trabalho e fonte de renda dessas pessoas, muitas têm nos ciclos como o São João a esperança de um alívio na situação terrível que têm enfrentado", diz.
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"As verbas destinadas a saneamento, proteção de morros e socorro às vítimas não vêm do orçamento da Cultura. É um erro achar que basta cancelar um evento que emprega milhares de pessoas para tudo se resolver em outras áreas, culpando o investimento em Cultura pela falta de investimento em coisas básicas para a vidas das pessoas", continua.
"Sobre luto e 'falta de clima' para festas num Recife destruído pela dor de uma gestão incompetente, o que para uns é 'só' festa, para outros é também sustento. E muitos dos atingidos pelos desabamentos/inundações são também trabalhadores do ciclo junino. Festa é vida/memória/criação e também comida no prato", postou a cantora e compositora Karina Buhr.
Parlamentares marcam reuniões
No meio político, a vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) informou que realizará uma Reunião Pública Emergencial para discutir soluções para o Ciclo Junino nesta quarta-feira (1º), às 10h, no Plenarinho da Câmara.
"Vamos pensar em propostas e ações para que possamos atuar, junto ao poder público, em soluções eficientes para o setor cultural direto e indireto, que já vive em situação de emergência há mais de dois anos", escreveu Cida.
o vereador Ivan Moraes (PSOL) repercutiu a decisão: "Não acho correto. O orçamento da PCR é de cerca de R$ 6 bilhões/ano. Pra apoiar quem perdeu tudo não precisa tirar o sustento de quem trabalha na cultura".
Na manhã desta terça-feira (31), o parlamentar informou que a Comissão Especial da Câmara do Recife para o Carnaval e São João vai sugerir à Prefeitura que dê início aos festejos juninos patrocinados pelo poder público no dia São Pedro, dia 29 de junho. "Adia-se um pouco, mas garante-se que a festa aconteça no período justo", diz.
A codeputada da Juntas Robeyoncé Lima (Psol) também publicou sobre o tema: "Acordamos hoje com a decisão eleitoreira da gestão municipal de cancelar o São João para destinar R$ 15M para 'incrementar as ações direcionadas às vítimas'. Uma solução imediatista que desconsidera, por exemplo, que existem R$ 50M em PE disponíveis para publicidade".
O que disse João Campos
Na tarde desta segunda (30), já sob críticas à decisão tomada, João Campos compartilhou em rede social trecho de entrevista à TV Guararapes em que garante que o Ciclo Junino ocorrerá no segundo semestre, quando, nas palavras dele, for verão e a cidade estiver sendo "restabelecida".
"Deixamos aqui também o nosso compromisso: no verão, no segundo semestre, com a cidade sendo restabelecida, a gente vai dar todo o suporte. A gente vai fazer a valorização, vai poder construir um ciclo favorecendo todos os artistas, fazendo a cultura produtiva do São João, do Ciclo Junino, quando fizemos quando rodamos os editais de fomento, auxílio de Carnaval e os São João [sic] anteriores", completou.
Procurada pela reportagem, a comunicação da Secretaria de Cultura do Recife ressaltou que o comunicado das redes de João Campos era a resposta sobre o tema. Não foi informado, no entanto, se os editais já publicados no Diário Oficial e as contratações já feitas continuam valendo para o segundo semestre.
Como seria o Ciclo Junino de 2022
Após dois anos de pausa por conta da pandemia, o São João do Recife voltaria às ruas com um Ciclo Junino de 20 dias. De acordo com informações publicadas no Diário Oficial do Município, a programação da festa seria realizada entre 10 e 30 de junho.
A grande novidade do ano seria a inauguração de um polo no Recife Antigo, com decoração, palco, várias atrações, apresentações de quadrilhas e comidas típicas. O polo da Bomba do Hemetério, na periferia da Zona Norte da capital, seria reinstalado. E também haveria o tradicional polo do Sítio da Trindade.
A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife divulgaram os editais de subvenção junina e de atrações artísticas para o São João de 2022 em abril.