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Renato Góes desabafa sobre preconceito que sofreu por ser nordestino: 'Piadas, brincadeiras, falam do sotaque'

Renato Goés vive Tertulinho, vilão de "Mar do Sertão", que estreia com mais de 20 atores nodestinos na TV Globo: 'Já era hora de a teledramaturgia fazer isso'

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 22/08/2022 às 10:31 | Atualizado em 22/08/2022 às 10:34
RONALD SANTA CRUZ/TV GLOBO
Tertulinho (Renato Góes), personagem de Mar do Sertão - FOTO: RONALD SANTA CRUZ/TV GLOBO
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O ator pernambucano Renato Goés volta às telinhas após participar da primeira fase de "Pantanal" como o peão José Leôncio. Agora, ele vive Tertulinho, vilão de "Mar do Sertão", nova novela das 18h.

Escrita por Mario Teixeira e com direção artística de Allan Fiterman, a produção estreia nesta segunda-feira (22) e começa com a professora Candoca (Isadora Cruz) noiva do vaqueiro Zé Paulino (Sergio Guizé).

Porém, um acidente acontece no dia do casamento e o rapaz é dado como morto. Desamparada e grávida, ela acabará nos braços do vilão Tertulinho (Renato Góes).

Renato Goés fala sobre preconceito contra nordestino

Em entrevista ao jornal "Extra", Renato Goés celebrou o fato da trama ter cerca de 20 atores nordestinos no elenco.

"Ninguém mais quer ver essa cegueira seletiva, essa acomodação de deixar tudo como está. Já era hora de a teledramaturgia fazer isso. A gente está vendo reflexos de uma batalha de anos, mas ainda existe um caminho muito longo a ser percorrido para mais mudança", opinou o ator.

PAULO BELOTE/TV GLOBO
Tertulinho (Renato Góes), Coronel Tertúlio (José de Abreu) e Deodora (Deborah Bloch), personagens de Mar do Sertão - PAULO BELOTE/TV GLOBO

"O fato de ser nordestino sempre foi um problema em relação a piadas, brincadeiras... Falam do sotaque, da forma de vestir, brincam com a forma que você chama o nome das coisas. Conviver com isso sempre foi um problema. Até hoje ainda vejo uma forma pejorativa de nos tratarem."

Renato Goés afirmou ter enfrentado dificuldades quando começou a profissão. Ele lembrou que, em 2006, ele teve de ouvir várias frases que o chatearam, embora o cinema pernambucano vivesse uma boa crescente.

"Perguntavam de onde eu era, e, quando eu dizia que era pernambucano, tinha uma coisa de 'Ah, vão dominar tudo', 'Mais um', 'Vocês estão querendo tomar tudo'", diz.

"Por muitos anos, tinha que ficar ligado em quais eram as novelas, filmes ou qualquer trabalho que tivesse a temática Nordeste para tentar participar, porque era muito rotulado e só éramos escalados para fazer um trabalho de nordestino."

ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO
Tertulinho (Renato Góes), personagem de Mar do Sertão - ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO

Agora, ele vê com bons olhos o equilíbrio do elenco de "Mar do Sertão". "Eu mesmo tenho um grande trabalho na minha vida, 'Legalize já', em que faço Marcelo D2. Sou um pernambucano que interpreta um carioca. Isso pode acontecer. É emblemático e forte você colocar um nordestino para interpretar um personagem que seria de outras origens do país".

"A gente tem que desequilibrar a balança para o lado que sempre foi mais baixo e colocar em alta para que em algum momento a gente consiga a equidade."

Para Renato, os "nãos" que recebeu ao longo da vida foram importantes para construir a sua trajetória.

"É muito importante a gente saber que vai ter uma vida inteira de “não”. Mas a gente tem que pensar sempre como queda, fortalecimento e ascensão. Isso na vida do ator é diário. Cada cena que você faz e não curte é um “não”. Eu passei muito tempo com essa necessidade de aprovação, mas acho que, de fato, a gente tem que saber que faz parte. Eu tive a sorte também de ter bastante tempo de batalha antes de as coisas começarem a virar. Isso me ajuda a manter o pé no chão".

"Nada mudou na minha vida. Nunca deixei de ir a nenhum lugar que sempre frequentei por conta de exposição. Eu também tenho muito cuidado com minhas redes sociais, o que faço, o que falo. Valorizo muito mais os personagens que eu interpreto do que a pessoa física, sabe?".

Mar do Sertão reúne grande elenco nordestino

RONALD SANTOS CRUZ/TV GLOBO
PAR Cenas de Zé Paulino (Sérgio Guizé) e Candoca (Isadora Cruz) foiram gravadas no Vale do Catimbau - RONALD SANTOS CRUZ/TV GLOBO

Além de Renato Goés e Isadora Cruz, estão no elenco os paraibanos José Dumont, Nanego Lira, Suzy Lopes, Thardelly Lima, Everaldo Pontes e Quitéria Kelly (que nasceu em João Pessoa, mas vive em Natal).

Também participam os potiguares Titina Medeiros e Matteus Cardoso, os pernambucanos Clarissa Pinheiro e César Ferrario e os baianos Cyria Coentro, Érico Brás e Felipe Velozo.

Suzy Lopes e Thardelly Lima foram projetados pelo filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e estrearam na emissora na novela recém-finalizada Quanto Mais Vida, Melhor!. Já Felipe Velozo está no filme Marighella, de Wagner Moura.

Os atores José Dumont — que possui quase 50 anos de carreira e estreou na TV em 1981 — e Cyria Coentro já tiveram papéis dramáticos importantes em produções da Globo. E Titina Medeiros fez sucesso como a empregada doméstica Socorro em Cheias de Charme (2012).

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