A imagem suntuosa de Dom Pedro I sob a margens do Rio Ipiranga, imortalizado por Pedro Américo na tela de 1888, está bastante distante da realidade do 7 de setembro.
Embora muitos brasileiros já saibam que os bastidores da Independência não foram tão pomposos assim, ainda faltam obras do entretenimento que explorem o episódio numa narrativa mais verdadeira e incômoda.
É com essa missão que "Independências", minissérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho, estreia na TV Cultura nesta quarta-feira, justamente no 7 de setembro, quando o Brasil comemora o bicentenário da Independência.
Como assistir a minissérie Independências? Qual horário?
A estreia ocorre às 22h, após o Jornal da Cultura. A produção contará com 16 episódios, com exibição de um por semana.
O elenco conta com alguns medalhões da dramaturgia, como Antônio Fagundes (vivendo Dom João 6º) e Daniel de Oliveira, que interpreta Dom Pedro I.
"Independências" foi criada por Luis Alberto de Abreu e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, dupla responsável por sucessos como "Hoje é dia de Maria", "Capitu" e "A Pedra do Reino", produções da Globo que se tornaram destaques da TV brasileira.
A nova série resgata personagens e fatos históricos relegados ao segundo plano. Assinam o roteiro Alex Moletta, Paulo Garfunkel e Melina Dalboni, com base na pesquisa realizada pelo jornalista José Antônio Severo.
Para além de revelar os bastidores da família real portuguesa e da oligarquia nacional, tem a árdua tarefa de mostrar quais os papéis do povo - indígenas, negros escravizados e pobres.
"Independências" aborda, por exemplo, a fascinante história da ex-escravizada Maria Felipa de Oliveira na guerra da Independência da Bahia, em 1823.
De acordo com relatos orais, ela uniu indígenas, negros livres, escravizados e moradores para afugentar portugueses com planta urticante e incendiando embarcações.
Outro personagem pouco lembrado é José Maurício, músico negro alçado a maestro da corte por seu enorme talento. Sua trajetória é comparada à de Mozart, pois também morreu na miséria após ser trocado pelo operista Marcus Portugal, a pedido do imperador.
Luiz Fernando Carvalho diz que "Independências" foi trabalho triste
Em entrevista à Folha de São Paulo, o diretor Luiz Fernando Carvalho chegou a afirmar que esse é o "seu trabalho mais triste".
"Não temos nada para celebrar. São 200 anos de quê? De injustiça, de fome, de racismo, de opressão? Estamos repetindo os mesmos erros há 200 anos e só existem pequenas medidas paliativas, não mudanças estruturais", afirma o diretor.
Já ao portal Tab, da Uol, ele criticou o pedido do governo brasileiro para receber o coração de Dom Pedro I, que foi exposto em Brasília.
"Uma coisa de mau gosto que desrespeita um pedido do próprio D. Pedro para deixar seu coração lá (em Portugal). De repente o Bolsonaro traz esse coração pra cá, com risco de se deteriorar, e é a gente que está pagando isso."
"Ainda estamos fazendo a mesma coisa com os povos originários, invadindo e minerando ilegalmente. Ainda existe trabalho escravo no Brasil. Estamos cheios de problemas do passado que ainda não foram resolvidos. O Brasil é regado de sangue", continuou.
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