LUTO NA MÚSICA

Morte de Gal Costa, aos 77 anos, eterniza a musa da Tropicália

Nascida em Salvador em 26 de setembro de 1945 como Maria da Graça Costa Penna Burgos, Gal teve o apoio incondicional de sua mãe, Mariah Costa Penna, para seguir na música

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 09/11/2022 às 20:51
FELIPE SOUTO MAIOR/FUNDARPE
DESPEDIDA Gal Costa no FIG 2022, em julho, durante o seu último show em Pernambuco - FOTO: FELIPE SOUTO MAIOR/FUNDARPE
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 AFP

A cantora brasileira Gal Costa, que morreu nesta quarta-feira (9), aos 77 anos, transformou em hino inúmeras composições da música popular brasileira graças ao seu timbre de voz "cristalina", tornando-se a musa eterna da Tropicália.

De cabelos cheios, sorriso largo e lábios sensuais, Gal imortalizou canções de seu querido amigo Caetano Veloso, de Tom Jobim, Chico Buarque e Milton Nascimento, entre muitos outros compositores brasileiros, ao longo de seus 57 anos de carreira.

Entre suas interpretações mais populares estão "Baby", "Que pena", "Quando você olha para ela", "Chuva de prata" e "Divino maravilhoso", incluídas nos mais de 30 discos que lançou.

Na adolescência conheceu figuras em Salvador (Bahia) que marcariam sua trajetória: Veloso, a irmã dele, Maria Bethânia - outra voz brasileira histórica - e Gilberto Gil, com quem seguiu para o Rio de Janeiro nos anos 60 para cultivar sua carreira.

 

"Gal tinha vindo da Bahia, como eu, na esteira de Bethânia e Gil, para tentar profissionalizar-se. Ela nunca tinha querido nada em sua vida a não ser cantar", conta Veloso em seu livro "Verdade Tropical".

Em 1967, lançou seu primeiro LP, "Domingo", com Caetano e no ano seguinte os dois juntaram-se a Tom Zé, Gil e ao grupo Os Mutantes, entre outros, para o disco "Tropicália ou Panis et Circensis", ponto de partida do movimento tropicalista, que misturava samba, bossa nova, jazz e rock psicodélico com uma encenação experimental que contrastava com a formalidade da bossa nova.

Foi porta-voz da contracultura do tropicalismo quando Veloso e Gil se exilaram em Londres em 1969, após serem presos nos primeiros anos da Ditadura Militar (1964-1985).

No entanto, Gal afirma que nunca foi "interrogada" ou teve "problemas" com os militares, exceto pela censura da capa de seu álbum "Índia", no qual exibia os seios.

- Uma voz "encomendada" -

Nascida em Salvador em 26 de setembro de 1945 como Maria da Graça Costa Penna Burgos, Gal teve o apoio incondicional de sua mãe, Mariah Costa Penna, chamada "Dedé", para dedicar sua vida à música, uma aspiração que foi estimulada desde o ventre materno.

Dedé pressionava a barriga contra o rádio, com a intenção de deixar Gal absorver a musicalidade das canções. "Minha filha, você vai ser uma grande cantora", dizia a ela segundo Tom Zé, seu vizinho de infância.

"Então, quando a menina saiu já veio com a voz, a voz foi encomendada", acrescentou Zé.

Cantora intuitiva, porque nunca estudou canto, Gal atribuiu grande influência ao seu estilo ao pai da bossa nova, o baiano João Gilberto, que depois de uma audição improvisada lhe disse: "Você é a maior cantora do Brasil", segundo ela mesma contou.

 

Pelo timbre da voz e pela afinação delicada, Gal se tornou a musa do tropicalismo, mas foi sua sensualidade transgressora durante a ditadura, especificamente no espetáculo "Fa-tal" (1971), que lhe rendeu o título de "musa do desbunde", chegando a ser comparada a Janis Joplin.

Com uma encenação - algumas vezes mostrando os seios - e seus trajes sensuais e coloridos ou seus cabelos "black power", Gal foi construindo uma identidade artística que a transformou em símbolo sexual, abandonando a timidez de sua juventude.

- Reinvenção permanente -

Depois do tropicalismo, Gal passou por diferentes fases, desde a interpretação dos sambas mais populares do carnaval passando pelo rock'n'roll, soul, disco até dezenas de canções para as famosas telenovelas.

Na pandemia de coronavírus, Gal celebrou seus 75 anos com um show transmitido pela Internet e a TV e gravou à distância o disco "Nenhuma Dor", no qual revisitou seus maiores sucessos junto a uma nova geração de compositores como Zeca Veloso (filho de Caetano), Tim Bernardes, Seu Jorge e o uruguaio Jorge Drexler.

Ganhadora do Grammy Latino à Excelência Musical em 2011, Gal sempre foi politicamente comprometida, mas discreta.

Reivindicou o feminismo e repudiou as políticas no setor cultural do governo de Jair Bolsonaro.

Administrou sua vida privada longe das câmeras, por isso surpreendeu quando publicou em 2021 em suas redes sociais uma foto de seu filho adotivo Gabriel para parabenizá-lo pelos seus 16 anos.

Gal revelou que não conseguiu engravidar devido a uma obstrução nas trompas, mas em 2007 - quando tinha mais de 60 anos - decidiu adotar seu filho: "Ele me deu muita energia, ele me rejuvenesceu", afirmou.

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