MÚSICA

Festival MADA, de Natal, abre espaço para cena eletrônica independente do Recife

Evento realizado na Arena das Dunas estreou o palco Baile da Amada, para reunir o que há de 'mais inovador na música eletrônica'

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 16/10/2023 às 17:27 | Atualizado em 19/10/2023 às 17:58
Baile da Brota (com DJ Vands) convidou a cantora Rayssa Dias para o palco Baile da Amada, do Festival MADA, realizado na Arena das Dunas, em Natal (RN) - LUANA TAYZE

O festival Música Alimento da Alma (MADA), que celebrou os seus 25 anos na Arena das Dunas, em Natal (RN), teve entre as suas novidades a criação do Baile da Amada - um terceiro palco que ficou localizado na área superior direita do estádio. O evento foi realizado na última sexta-feira (13) e sábado (15).

Pensado para reunir "o que há de mais inovador na música eletrônica", esse novo palco deu espaço para nomes de uma cena eletrônica em ascensão do Recife. Baile da Brota convidando Rayssa Dias, IDLibra, Dandarona e DJ 440 foram os pernambucanos da programação. Esses três primeiros citados compõem uma cena que vem ampliando os horizontes no pós-pandemia.

Brega-funk

O selo Baile da Brota nasceu na retomada dos eventos, com festas acessíveis ao público que vem da periferia, às pessoas negras e LGBTQIA+. Mesmo abrindo o palco no domingo, DJ Vands e a cantora Rayssa Dias, do brega-funk (um ritmo eletrônico das periferias), foram surpreendidos por uma pista cheia.

"O Nordeste tem uma cena muito forte. Eu sempre acreditei nisso, pois exportamos muitos talentos, mas sempre com menos visibilidades ou recursos. Descobrindo essas cenas da região, comecei a entender que a união possibilitaria algo muito mais potente", disse Vands, produtor do selo e DJ, após o show.

Rayssa Dias no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - LUANA TAYZE
DJ Vans, do Baile da Brota, no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - LUANA TAYZE
Baile da Brota no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - LUANA TAYZE
Baile da Brota no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - LUANA TAYZE

"Para a Brota, foi um passo importante, pois a gente começa a levar um pouco da cena do Recife, um pouco do brega-funk para fora através da Brota. E que outros festivais do Brasil consigam enxergar o que foi feito aqui hoje e poder levar isso também. Estamos mostrando que o Nordeste se fez presente."

Uma das representantes femininas do brega-funk, a cantora pernambucana Rayssa Dias ressalta a importância de levar o ritmo para os 25 anos do MADA. "Ser uma mulher no brega-funk é algo muito importante e é uma representatividade gigantesca sair da periferia do Recife e trazer esse ritmo, que é um símbolo de resistência".

Entre 2022 e 2023, a artista também já levou o ritmo para festivais como AFROPUNK Bahia (Salvador) e Batekoo (Recife). "O brega-funk tem esse poder de nos levar para lugares que nunca imaginávamos estar. A cultura tem esse poder de movimento".

Além de sucessos como "Nós é a Gestão", "Pegando Fogo" e "Pirulito", ela cantou uma música nova: "Pegando Fogo", que traz uma estrutura musical diferente do brega-funk tradicional. "É uma música LGBTQIA+, que fiz para a minha esposa e todas as mulheres lésbicas"

DJs

O Baile da Amada surgiu para resgatar o conceito das tendas eletrônicas que aconteceram no MADA entre os anos de 2001 e 2009. Assim, inúmeros DJs apresentaram sets.

DJ IDLIBRA no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - BRUNNO MARTINS

IDLIBRA é o projeto musical que Libra Lima, 25, moradora de Olinda. A sua pesquisa musical mapeia movimentos protagonizados por coletividades racializadas, como funk brasileiro, afrobeat, breakbeat e bass music, criando relações entre essas geografias sonoras.

"Para mim, foi significante estar nessa edição de 25 anos. Percebi como o Baile da Amada, com essa curadoria que está percebendo nomes da música eletrônica do Brasil, é algo novo. Estar com essa galera para mim é importante, pois acho que fazemos parte de uma cena jovem, contemporânea, emergente, que tem tentado mapear e protagonizar essa música eletrônica brasileira", diz Libra, que também é curadora do palco Kamikaze do Festival No Ar Coquetel Molotov (PE).

A artista comenta que o diálogo entre as capitais nordestinas é fruto de um trabalho de articulação e conexão. "Isso já começou há muito tempo, mas agora estamos conseguindo criar conexões mais fortes, fazendo esse intercâmbio de artistas, conhecendo novas pessoas, festivais, festas e tipos de produção", diz. "Moramos em uma região que tem pouca visibilidade pensando em marcas privadas, grandes festivais e cachês. É uma busca que tem que ser feita o tempo todo e temos muito ainda a conquistar a partir disso."

DJ Dandarona no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - BRUNNO MARTINS
DJ Dandarona no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - BRUNNO MARTINS
DJ Dandarona no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - BRUNNO MARTINS

Há seis anos nas picapes, a recifense Dandarona, 27 anos, trabalha com sonoridades mais "agressivas", com graves mais fortes e marcantes. "Me identifiquei muito com o trago hoje, que é basicamente (bem basicamente) breakbeat, club music, techno, trance e funk", diz.

"Todo artista tem o desejo de ter o seu trabalho recompensado e visualizado por diversas pessoas. Os festivais têm esse papel. Para mim, tocar em um festival como Mada, ainda mais nos 25 anos, foi uma grande honra. Foi entender também que as pessoas estão consumindo o meu trabalho e pedindo para que eu esteja nesses locais. A programação teve o recorte incrível de artistas que conheço, de renome".

A artista comenta que essa cena eletrônica independente do Recife já passou por diversas mudanças. "As pessoas não ouvem mais as coisas que ouviam há cinco ou três anos atrás. Vem se renovando sempre, então acredito que esse momento seja um momento de expansão de artistas que já estavam há um tempo construindo uma trajetória artística".

"Eu visualizo essa presença no MADA com uma resposta do trabalho que temos feito. Sempre ressaltamos como é importante crescer o eixo Recife-João Pessoa-Natal. Esse eixo é importante, acontece e funciona bem. Gostamos que isso aconteça."

DJ 440 no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - BRUNNO MARTINS
DJ 440 no palco Baile da Amada, no Festival MADA de 2023 - BRUNNO MARTINS

Outro artista presente na line do festival MADA foi o pernambucano 440, conhecido por seu projeto Terça do Vinil, que realiza um movimento itinerante de ocupações de ruas e espaços públicos no Recife, com mais de 500 edições realizadas.

Ao contrários dos demais artistas, o DJ tem uma trajetória mais extensa. Atualmente, o artista vem apresentando um trabalho que une sonoridades tropicais com global bass, tendo apresentando sua pesquisa recentemente no Festival DiMonde, na Itália.

"Ao longo desses anos eu já toquei em tudo que é lugar, mas nunca num estádio. E a minha estreia não poderia ser melhor: numa cidade massa do Nordeste e ainda, nos 25 anos do Mada, o qual admiro e acompanho desde as primeiras edições. É uma honra e felicidade muito grande retornar e apresentar minha sonoridade na cidade do Sol, agora nesse momento outro da minha carreira e pesquisa, revisitando estilos que eu curtia e tocava lá atrás e misturando isso ao novo", disse o DJ.

"Importante demais marcar presença no palco Baile da AMADA, que vem celebrar a cultura de baile periférica, abrindo também espaço para a música eletrônica brasileira invadir o MADA, deixando o festival mais 'brazuca' que nunca."

Mais do Amada

Urias no palco Baile da Amada, do Festival MADA 2023 - @VICTORMRLLS
Urias no palco Baile da Amada, do Festival MADA 2023 - @VICTORMRLLS

Ainda passaram pelo palco nomes como Urias, Puterrier, Clementaum, Carlos Do Complexo, Brega Night Dance Club, Nordeste Futurista, Wavezim, Jlz, Pajux Frank, Elisa Bacche e Clara Luz.

O show de Urias, inclusive, superlotou o espaço no domingo, com um show realizado logo após o final das apresentações nos palcos principais. O encerramento ficou por conta do DJ DK.

Os palcos principais do MADA tiveram nomes como Matuê, Marina Sena, Marina Lima e Fernanda Abreu (único show no Nordeste), Liniker, Gaby Amarantos, Baco Exu do Blues, Luedji Luna, Karol Conká, Margareth Menezes, BaianaSystem, Getúlio Abelha e mais.

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