HISTÓRIA

Muito além da 'primeira sinagoga', história dos judeus em Pernambuco é contada em livro

Novo livro de Jacques Ribemboim separa trajetória do povo judeu no Estado em seis ciclos, ressaltando influências na formação do Nordeste

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 04/12/2023 às 17:40
Cartão-postal de felicitações do ano novo judaico, década de 1930 - COLEÇÃO DE JACQUES RIBEMBOIM

A Sinagoga Kahal Zur Israel, a "primeira das Américas", localizada da famosa Rua do Bom Jesus, cristalizou no imaginário coletivo a histórica presença dos judeus em Pernambuco. Ela foi construída no período do Brasil Holandês (1630-1654), quando a rua chegou a ser chamada de "Rua dos Judeus".

A presença de praticantes do judaísmo no Estado, no entanto, é muito anterior. E existe toda uma história após a saída dos holandeses, menos recontada por uma histografiaria mais acessível. O escritor, economista e membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) Jacques Ribemboim encarou o desafio de condensar toda essa trajetória.

O livro "História dos Judeus de Pernambuco", lançado pela Cepe Editora, tem lançamento marcado para o dia 5 de dezembro na sede Academia Pernambucana de Letras, Zona Norte do Recife. Em 608 páginas, a obra reproduz muitas ilustrações, mapas, fotografias, selos e documentos de diversas épocas.

Legado

Escritor, economista e membro da APL Jacques Ribemboim - DIVULGAÇÃO

Para além disso tudo, mostra a história de homens e mulheres que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida nova, fugindo da inquisição e de outras formas de perseguição religiosa na Europa.

"Prefiro enxergar as contribuições dos judeus como um fluxo interativo mútuo ao longo dos séculos, legando práticas e valores típicos de sua origem ibero-semita ou, mais recentemente, leste-europeia, e, ao mesmo tempo, absorvendo uma volumosa influência de práticas e valores dos portugueses, da população negra e dos indígenas, além, é claro, da própria paisagem natural nordestina", diz Ribenboim.

"No meu entender, é nisso onde reside a riqueza maior do povo nordestino, nesta sua originalidade universal e tão positiva, nesta mistura que nos torna únicos entre as nações do planeta. Meu propósito maior, no livro, é demonstrar isso ao grande público."

Pesquisa

Sinagoga da Rua Martins Júnior, na Boa Vista, Recife, ainda em funcionamento - JACQUES RIBEMBOIM

Ribemboim fez uma pesquisa que envolveu quase 220 livros, capítulos de muitos outros livros, artigos científicos, artigos e entrevistas publicados em jornais e revistas, além de cerca de 200 fotografias e reproduções de mapas, quadros, gravuras, selos, páginas de livros e documentos.

O pai do autor, José Alexandre Ribemboim, também é autor de "Senhores de Engenho Judeus em Pernambuco Colonial - 1542 a 1654" (1995). Juntos, eles escreveram "Uma Olinda Judaica" e "Synagoga Israelita do Recife: de portas abertas".

"Foi quando propus a ideia de escrever um livro que reunisse todos os distintos ciclos dos judeus em Pernambuco. Meu pai faleceu em 2013 e não pôde empreender o projeto junto comigo, mas sua orientação foi determinante. Se não fosse ele, este livro simplesmente não existiria."

Pernambuco conceitual

Na América portuguesa, Pernambuco foi um dos destinos procurados, mas não o único. Aqui, o autor aborda um Pernambuco que não se limita a um território (muito menos ao atual território do Estado, que perdeu terras ao longo dos séculos), mas sim a uma espécie de "Pernambuco conceitual", que incluiria aspectos históricos, culturais, etnográficos, agregando um Nordeste Setentrional, compreendido de Alagoas ao Ceará, com trechos de Sergipe e do Maranhão.

Ribemboim também ainda ressalta que por "judeus" deve-se entender os "judeus e cristãos-novos, incluindo alguns de seus descendentes" - os cristãos-novos são os judeus convertidos, à força ou por vontade própria, ao cristianismo.

História em ciclos

Museu e Sinagora Kahal Zur Israel, Bairro do Recife_Desenho à nanquim de Cavani Rosas - COLEÇÃO ROBSON LISPECTOR

Para dar conta de um período tão longo, o autor optou por estruturar o livro por seis ciclos. São eles: Ciclo da madeira judaica (1502-1535), na exploração do pau-brasil.; o Criptojudaísmo olindense (1535-1630); período em que a prática religiosa se dava secretamente; o Judaísmo holandês (1630 e 1654), citado no começo deste texto.

Após expulsão dos holandeses, em 1654, os judeus que ficaram por aqui foram migrando cada vez mais para o interior nordestino, montando pequenos negócios e vivendo discretamente para fugir da Inquisição.

De acordo com Jacques, deles descendem muitas famílias pernambucanas, paraibanas, alagoanas, potiguares, sergipanas, cearenses e piauienses. O livro, inclusive, traz um índice onomástico, que tem quase 1600 nomes de pessoas, famílias e autores catalogados.

Depois, há o Hiato do Judaísmo (1654-1910), quando o exercício comunitário da religião se restringiu a núcleos paraibanos; e o Judaísmo contemporâneo (1910-2000), marcado pela chegada dos imigrantes da Europa Oriental.

Por fim, desde 2000, chegam as Novas Tendências (desde 2000), com o judaísmo reformista, a presença das mulheres na liturgia religiosa e o fortalecimento do marranismo. Nesses períodos citados, o autor ressalta dois apogeus: o Judaísmo holandês e o Judaísmo contemporâneo.

SERVIÇO
Lançamento do livro História dos Judeus de Pernambuco, de Jacques Ribemboim (Cepe Editora)
Onde: Academia Pernambucana de Letras (APL), Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife
Quando: nesta terça-feira (5), às 19h
Preço do livro: R$ 90 (preço promocional de lançamento), R$ 110 (preço pós-lançamento)

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