Lula Cardoso Ayres (1910-1987), um dos maiores expoentes do modernismo pernambucano e brasileiro, está tendo parte de sua obra exposta na Galeria Marco Zero. A mostra "Caminhos de Ida, Caminhos de Volta", com curadoria de Guilherme Moraes, reúne mais de 60 obras que datam a partir de 1940 até a sua última tela, inacabada, produzida à época de sua morte.
A exposição fica aberta a partir deste sábado (10). A visitação ocorre até o dia 28 de setembro, de segunda a sexta, das 10h às 19h; e nos sábado, das 10h às 17h. A entrada é gratuita.
Ayres foi um exímio observador do povo pernambucano, tendo traduzido as experimentações das vanguardas europeias e brasileiras para o contexto do Estado e da região Nordeste. Tem destaque nessa produção a preocupação com os temas sociais e populares.
Trajetória
Iniciado na produção artística ainda adolescente, graças ao apoio e à boa condição financeira de sua família, o artista trabalhou como ajudante do artista alemão Heinrich Moser, no Recife, viajou a Paris, em 1925, onde entrou em contato com vanguardas e, de volta ao Brasil, estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
Na então capital do país, exercitou seu talento para a produção gráfica, como ilustrador e desenhista. O poeta Ascenso Ferreira escreveu, em 1941, no "Diario de Pernambuco", uma síntese do trabalho do ainda jovem Lula Cardoso Ayres, após voltar de um período na Europa e no Rio de Janeiro. Segundo ele:
"Dentro daquele adolescente de olhos espantados, enamorado das figuras do jazz e do tango argentino, estava o menino pernambucano tendo um subconsciente enriquecido por um milhão de sugestões artísticas desse Nordeste fenomenal. Começou a fotografar todos os elementos expressionistas da vida popular do Nordeste, máscaras do Bumba meu boi, reis e damas do Maracatu, figuras dos Caboclinhos do Carnaval. Não se trata de uma simples reprodução de figuras típicas, copiadas do natural. Neste trabalho, há uma verdadeira revelação dos altos recursos de que dispõe o artista."
Temáticas essenciais
De volta ao Recife para ajudar nos negócios da família, na Usina Cucaú, se aproxima dos temas que viriam a ser essenciais para a sua obra, como as manifestações culturais, folguedos e fantasmagorias de Pernambuco.
A mostra exibe desde desenhos da década de 1940, à incursão no abstracionismo, a partir da década de 1950, como na tela "Pássaro Vermelho", exposta na Bienal de São Paulo (o artista participou das três primeiras edições, em 1951, 1953 e 1955), até sua volta à figuração, incluindo a última obra, inacabada.
Curadoria
Para o curador Guilherme Moraes, o interesse pelos saberes populares aparece formalmente de formas muito distintas na obra de Ayres, ao longo das décadas, mas sempre alicerçadas em um imaginário regional e na experimentação estética. Ao conceber a exposição, ele buscou apresentar a diversidade da produção do pernambucano, dividindo-a em núcleos.
"Quando Lula tinha contato com algum tema que o interessava, esse tema nunca o abandonava. Por isso, certas questões voltam em ondas na sua obra, em maior ou menor medida, em um jogo de reincidências", diz.
"Quando ele volta à pintura, por exemplo, a partir da década de 1970, ele não toma como base o referente, mas o arquétipo, em diálogo, por exemplo, com as imagens dos bonecos de barro de Caruaru, que lhe fascinavam há décadas. Acredito que essa exposição é uma oportunidade de mergulhar na sua vasta e personalíssima produção, pois revela muitas facetas do trabalho do artista."
SERVIÇO
"Lula Cardoso Ayres - Caminhos de Ida, Caminhos de Volta"
Onde: Galeria Marco Zero (Av: Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem)
Abertura: a partir de 10 de agosto de 2024
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h. Até 28 de setembro de 2024
Quanto: Gratuito
Informações: (81) 98262-3393 e contato@galeriamarcozero.com