Recife perde epicentro cultural com fechamento da loja Passa Disco
Aberto desde 2003, espaço era requisitado para lançamentos de artistas pernambucanos e tornou-se símbolo de resistência na venda de LPs e CDs
O Recife perde um epicentro cultural com o fechamento da loja Passa Disco, localizada no Espinheiro e símbolo da resistência do disco físico no Recife. O encerramento das atividades ocorrerá após um evento no último sábado deste mês (28), informou Fábio Cabral de Mello, responsável pelo empreendimento.
Inaugurada em 2003, a loja se tornou um dos espaços mais requisitados para lançamentos de CDs, DVDs e livros de artistas locais, com tradições que ajudaram a criar uma certa identidade de "celeiro da música pernambucana".
"Enfrentei a pirataria, os compartilhamentos, os downloads, o MP3, o pen drive… e por muito tempo as plataformas digitais… Mas um dia, sem nem perceber, vi que fiquei pra trás e resolvi fechar a Passa Disco", disse Fábio Cabral de Mello, em texto.
"Nem vou esperar fevereiro chegar… pois já entrou setembro e com ele fecho esse ciclo. E fecho com a certeza que foram os melhores anos da minha vida. Vou programar um evento no último sábado do mês pra gente se encontrar, se abraçar… e dançar uma ciranda, um forró, um frevo, um coco, um maracatu", continuou. No texto de despedida, ele também diz que irá voltar a comercializar CDs e LPs na internet, via Instagram.
História
Os primeiros contatos de Fábio com músicos surgiram quando ele foi um dos sócios do bar Rei do Cangaço, em Casa Forte. No começo dos anos 2000, o Estado de Pernambuco estava vivendo um momento prolífico no lançamento de CDs, apesar do formato já estar entrando em declínio num geral.
A loja foi inaugurada no bairro do Parnamirim - onde ficou até setembro de 2017 - como parte da galeria Shopping Sítio Trindade. Depois, mudou-se para a Rua da Hora, 345, Espinheiro.
"Desde 2003 que estou à frente dessa minha paixão; onde fiz amigos e recebi alguns dos meus ídolos. Vi surgir novos artistas, que de uma forma ou de outra, ajudei a difundir suas canções pra todo o Brasil", diz Fábio.
"Fizemos mais de 200 noites de autógrafos...Fizemos dezenas de edições da Feira de Vinil, criamos o Selo Passa Disco, onde lançamos vários títulos de artistas pernambucanos, criamos a Academia Passa Disco da Música Nordestina, onde homenageamos mais de 50 cantores, compositores, pesquisadores e amantes da nossa cultura."
Coletâneas
A Passa Disco também ajudou a fortalecer uma relação afetiva com o público o lançamento das coletâneas Pernambuco cantando para o mundo (vol. 1, 2 e 3), Pernambuco forrozando para o mundo e Pernambuco frevando para o mundo.
Os discos trouxeram novas interpretações de canções nas vozes de figuras renomadas da música, a exemplo Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lula Queiroga e Maciel Melo.
Nesses 15 anos, alguns dos discos mais procurados foram "Olho de peixe" (1993), de Lenine, "Da lama ao caos" (1994) e "Afrociberdelia" (1996), ambos de Chico Science e Nação Zumbi.
"Tenho muito, mas muito mesmo a agradecer a todos vocês, agradecer à imprensa, às gravadoras, aos selos, aos artistas independentes que sempre me apoiaram e acreditaram nessa minha paixão chamada música… Sem vocês nada seria possível", conclui o empreendedor.