Recife perde epicentro cultural com fechamento da loja Passa Disco

Aberto desde 2003, espaço era requisitado para lançamentos de artistas pernambucanos e tornou-se símbolo de resistência na venda de LPs e CDs

Publicado em 10/09/2024 às 19:45 | Atualizado em 10/09/2024 às 20:41

O Recife perde um epicentro cultural com o fechamento da loja Passa Disco, localizada no Espinheiro e símbolo da resistência do disco físico no Recife. O encerramento das atividades ocorrerá após um evento no último sábado deste mês (28), informou Fábio Cabral de Mello, responsável pelo empreendimento.

Inaugurada em 2003, a loja se tornou um dos espaços mais requisitados para lançamentos de CDs, DVDs e livros de artistas locais, com tradições que ajudaram a criar uma certa identidade de "celeiro da música pernambucana".

"Enfrentei a pirataria, os compartilhamentos, os downloads, o MP3, o pen drive… e por muito tempo as plataformas digitais… Mas um dia, sem nem perceber, vi que fiquei pra trás e resolvi fechar a Passa Disco", disse Fábio Cabral de Mello, em texto.

"Nem vou esperar fevereiro chegar… pois já entrou setembro e com ele fecho esse ciclo. E fecho com a certeza que foram os melhores anos da minha vida. Vou programar um evento no último sábado do mês pra gente se encontrar, se abraçar… e dançar uma ciranda, um forró, um frevo, um coco, um maracatu", continuou. No texto de despedida, ele também diz que irá voltar a comercializar CDs e LPs na internet, via Instagram.

História

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Fábio Cabral de Mello, lojista da Passadisco - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Os primeiros contatos de Fábio com músicos surgiram quando ele foi um dos sócios do bar Rei do Cangaço, em Casa Forte. No começo dos anos 2000, o Estado de Pernambuco estava vivendo um momento prolífico no lançamento de CDs, apesar do formato já estar entrando em declínio num geral.

A loja foi inaugurada no bairro do Parnamirim - onde ficou até setembro de 2017 - como parte da galeria Shopping Sítio Trindade. Depois, mudou-se para a Rua da Hora, 345, Espinheiro.

"Desde 2003 que estou à frente dessa minha paixão; onde fiz amigos e recebi alguns dos meus ídolos. Vi surgir novos artistas, que de uma forma ou de outra, ajudei a difundir suas canções pra todo o Brasil", diz Fábio.

"Fizemos mais de 200 noites de autógrafos...Fizemos dezenas de edições da Feira de Vinil, criamos o Selo Passa Disco, onde lançamos vários títulos de artistas pernambucanos, criamos a Academia Passa Disco da Música Nordestina, onde homenageamos mais de 50 cantores, compositores, pesquisadores e amantes da nossa cultura."

Coletâneas

A Passa Disco também ajudou a fortalecer uma relação afetiva com o público o lançamento das coletâneas Pernambuco cantando para o mundo (vol. 1, 2 e 3), Pernambuco forrozando para o mundo e Pernambuco frevando para o mundo.

Os discos trouxeram novas interpretações de canções nas vozes de figuras renomadas da música, a exemplo Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lula Queiroga e Maciel Melo.

Nesses 15 anos, alguns dos discos mais procurados foram "Olho de peixe" (1993), de Lenine, "Da lama ao caos" (1994) e "Afrociberdelia" (1996), ambos de Chico Science e Nação Zumbi.

"Tenho muito, mas muito mesmo a agradecer a todos vocês, agradecer à imprensa, às gravadoras, aos selos, aos artistas independentes que sempre me apoiaram e acreditaram nessa minha paixão chamada música… Sem vocês nada seria possível", conclui o empreendedor.

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